domingo, 20 de junho de 2010

YEVGENY ONEGIN (Eugene Onegin) – Teatro de São Carlos, Junho de 2010

Eugene Onegin de P. I. Tchaikovsky encerrou a temporada lírica (de muito má memória) do Teatro de São Carlos. A obra tem por base um poema de Puchkin e é um dos expoentes máximos do romantismo russo em ópera.
A história narra um duplo desencontro amoroso. A jovem Tatyana, sonhadora e amante da leitura de romances, conhece Eugene Onegin, amigo de Lensky, noivo da sua irmã Olga. Apaixona-se por ele e escreve-lhe uma longa carta de amor mas Onegin rejeita o casamento com Tatyana. Mais tarde encontram-se todos numa festa e Onegin dança e corteja Olga, o que leva Lensky a desafiá-lo para um duelo. Lensky despede-se de Olga e é morto pelo amigo. Anos depois, num baile, Onegin volta a encontrar Tatyana (agora casada com o príncipe Gremin) e declara-lhe o seu amor. Ela também admite que ama Onegin mas é uma mulher casada e pede-lhe que parta porque nunca trairá o marido. Onegin fica só.
A encenação, moderna, de Peter Konwitschny, foi muito eficaz. Logo no início a harpa colocada e tocada no centro do palco foi magnífica. Um jogo de espelhos em todo o palco, pilhas de livros de Tatyana e muitas cadeiras colocaram a acção num período intemporal e retiraram-na da Russia rural de finais do século XVIII. Foram também mais valias a criação de um corredor à frente da orquestra (e com o sacrifício da fila A da plateia) onde os cantores puderam projectar mais facilmente as suas vozes e, sobretudo, a utilização do camarote real no terceiro acto, onde apareceram, entre outros, Tatyana e o marido, o Príncipe Gremin. O guarda roupa foi muito diversificado e rico, o que trouxe encanto adicional ao espectáculo. Houve sempre boa movimentação no palco. Um aspecto negativo foi a falta de estabilidade das cadeiras (pequenas e articuladas) que provocavam facilmente o desiquilibrio dos cantores nas cenas em que tinham de estar (ou caminhar) em pé sobre elas. No segundo acto, o pobre Lensky, condenado por Tchaikovsky a morrer no duelo com Onegin, poderia ter tido o seu triste fim antecipado numa queda das cadeiras, tais os desiquilibrios que teve!
Também muito positiva foi a superior direcção musical do maestro russo Mikail Jurowsky.
E se a Orquestra Sinfónica Portuguesa esteve muito bem, o coro teve, em minha opinião, a melhor prestação do ano. Sempre afinado, nos tempos certos, proporcionou alguns dos momentos altos da tarde.
Nos cantores houve assimetrias importantes.
A soprano ucraniana Natalija Kovalova foi Tatyana. Começou mal mas rapidamente atingiu uma prestação muito aceitável tanto cénica como vocalmente. O papel é grande e exigente, em esforço mostrou alguma tendência para perder a harmonia e resvalar para a estridência, mas globalmente esteve bem. Na cena da carta, talvez a mais importante da ópera, ajudada pelo movimento cénico, foi bastante credível.
Vladimir Lensky foi interpretado pelo tenor sul-africano Musa Nkuna, um residente no Teatro de São Carlos. Acho que não tem envergadura para um papel como este. Cenicamente não foi convincente e vocalmente, se no registo mais agudo esteve razoável, revelou grandes fragilidades e dificuldades de emissão nos registos médio e baixo.
O barítono russo Albert Schagidullin interpretou o Eugene Onegin. Cenicamente esteve bem, mas vocalmente teve uma prestação muito aquém do desejável. Não desafinou mas tem uma voz pequena e anasalada que rapidamente deixa de se ouvir sempre que a orquestra toca mais alto. Foi pena porque a personagem e a produção mereciam melhor.
Nos papeis mais curtos, a mezzo portuguesa Maria Luísa de Freitas fez uma Olga pouco interessante, Laryssa Savchenco, mezzo ucraniana, foi uma Larina (mãe de Tatyana e Olga) com presença mas a voz tem vibrato excessivo, Viola Zimmermann fez uma Filipyevna banal, João Merino deu boa nota como Zaretsky e Carlos Guilherme foi um Triquet notável.
Chegados ao terceiro acto, quando pensei que tudo o que respeitava à qualidade dos cantores estava revelado, surge a grande surpresa da tarde – o baixo russo Alexei Tanovitsky no papel de Príncipe Gremin. Uma explosão de qualidade! Uma voz luminosa, potente e de enorme beleza – verdadeiramente um baixo russo a sério! Para mim, o melhor da tarde e talvez o melhor de toda a temporada.
(Fotografias do programa adquirido no Teatro de São Carlos)

E assim termina (ou quase, pois está ainda “pendurada” a Dona Branca) esta infeliz temporada do nosso São Carlos. Do que vi, começou muito bem, com o Crepúsculo dos Deuses, termina bem com este Eugene Onegin, mas tudo o resto foi muito muito muito fraco. Resta-nos a esperança de que a próxima seja melhor, o que não deverá ser difícil...(mas está ainda no segredo dos deuses o que, em finais de Junho, não é um bom indício!).
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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Die Walkure - Opera de Paris (Bastille) - 9 de Junho 2010



A temporada 2009-2010 da Ópera de Paris inclui o início de um novo ciclo de Anel do Nibelungo em Paris.

Depois de o Ouro do Reno em Março, chegou agora a vez de A Valquíria que, como penso que todos concordam, se trata (muito provavelmente) da melhor ópera do ciclo (para mim é de certeza a melhor).

Tive então a oportunidade de assistir ontem a uma das diversas récitas desta nova produção parisiense.

Com um elenco, à partida, de grande classe (embora não possa dizer de topo), seria de esperar um espectáculo melhor do que aquele a que assisti. Tentarei relatar e comentar como se estivessem a assistir...

O primeiro acto incia-se na casa de Hunding. Esta produção oferece-nos uma sala com duas colunas brancas revestidas de crânios que me pareceram de carneiros (encontrava-me na 23ª fila da plateia... lugares sobrevalorizados do ponto de vista de custo...). Numa das colunas um pano negro que deixa em dúvida aquilo que esconde. Uma fogueira, um local onde não se consegue perceber mas corresponde a uma fonte (só perceptível quando alguém a utiliza e se vê ter como conteúdo água) e, como fundo, um painel a preto que no decorrer do acto se eleva e deixa transparecer um vidro amplo como se de uma janela se tratasse.

No prelúdio, em vez da simulação do casamento de Hunding e Sieglinde, como assistimos em São Carlos, e em vez de uma ausência de acção relevante como a que pude ver no Anel de Covent Garden, Londres, 2005-2007, assistimos à sanguinária acção de Hunding e dos seus homens, mais tarde relatada por Siegmund. Hunding e os seus capangas aqui vestidos como se soldados de tropa se tratassem, matam e violam, com esguichos de sangue evidentes mesmo à distância a que me encontrava. Ali ficam depois, virados de costas para o público, aguardando a entrada de Hunding em "cena". Siegmund, também de tropa, entra e segue-se toda a acção que penso que conhecem.

Talvez aqui seja bom começar a minha avaliação dos cantores...

Robert Dean Smith foi Siegmund e Ricarda Merbeth Sieglinde. O que dizer?

Achei ambos como azeite e água em palco. Em todos os momentos que estiveram a interagir, tudo pareceu, do ponto de vista cénico, forçado e sem efeito.
Não se sentiu qualquer intimidade, qualquer sentimento, olhar escondido, de quem no fundo se está a apaixonar.
Mesmo quem não conhecesse o enredo acharia, como eu, que estes dois só podeiam ser uma coisa: "parvos"! Um correr de um lado ao outro de cena por Merbeth, o cantar de Smith com a mão direita aberta de palma para o público, enfim... pouco eficaz.

Do ponto de vista vocal, Merbeth com voz aceitável, por vezes soluçando o canto encolhendo os ombros, mas sem sentimento na voz. Smith num registo que lhe é mais grave, com distorção tímbrica, e muito métrico, pouco melódico, num 1º acto que fica tão mais belo quando se assume como "bel canto" (posso afirmar tal sem pecar, FanaticoUm? :)).

Tudo melhorou quando Gunther Groissbock entrou. Clarificado nas suas posições em cena, com uma voz de timbre perfeito para o papel, voz interpretativa com temor nas alturas certas, dominou a cena em pleno. Revistou Siegmund quando o encontrou (ponto interessante da encenação) e até ao final do acto esteve no seu melhor. Fiquei muito impressionado por este jovem cantor.

A chegada de Hunding revelou então a tal janela ampla. só de vidro, no fundo do palco, e a chuva a cair intensamente sobre essa mesma janela (como sabem, na história, chove no exterior, é isso que a entrada orquestral tenta simular no início da ópera...).

O relato de Siegmund manteve-se métrico demais...
Deixado só, o duplo grito com que chama o pai Walse que lhe havia prometido a espada foi afinado mas completamente incorrecto. Ambos os Walse foram demasiado longos e não houve grande diferença de duração entre ambos. Quando chamamos alguém que não nos ouve, tendencialmente aumentos intensidade e alguma duração no segundo chamamento, e o mesmo acho que se deve fazer em ópera. Não em igual intensidade e duração. Enfim... mais um ponto criticável e do qual não gostei.
Merbeth aparece, não cria qualquer entoação especial qual fala do desconhecido com um olho apenas que apareceu no casamento e deixou a espada cravada na árvore. Falamos de Wotan e não de um homem (ou melhor Deus...) qualquer. Não se pode cantar como se não fosse importante... aqui Philippe Jordan também não ajudou orquestralmente.
O referido pano negro tapava um quadro em tons de dourado onde era claramente perceptível uma árvore mas sem se ver a espada. Sieglinde tratou de cortar o quadro após o destapar e por baixo encontrava-se então Notung.

Um pormenor interessante foi, quando Siegmund diz que "ninguém entrou nem saiu da casa mas é sim a Primavera que os vem cumprimentar", a janela fica totalmente descoberta com um luar cheio de luz, revelando então árvores com folha branca. Só no Wintersturmme deixa de chover o que realmente tem um efeito cénico muito bem conseguido (na altura pareceu-me demasiado tardia a interrupção da chuva mas ao escrever estas palavras compreendo agora o timing ideal).

Alguma magia (exceptuando a do papel de Hunding) apenas se viu apartir do "Siegmund heiss ich...". O andamento imprimido por Jordan e o acordar de Smith permitiram um final que se desejava ter visto durante todo o acto. Aqui, por um breve momento, os gémeos agora amantes funcionaram bem cenicamente, com o acto a terminar com ambos a sairem da casa e a serem vistos, através da janela, correndo pelas árvores, fugindo no seu amor.

O segundo acto foi, sem dúvida, o melhor de toda a récita.

Abre com uma mesa cheia das maças de Freia, onde as 9 valquírias se sentam e brincam com as mesmas. O fundo é agora substituído por um espelho que revela a escadaria que dá acesso ao palco. Umas letras escrevendo GERMANGEJ (com mais uma letra mas que não consegui perceber se era um I ou não...) não me transmitiram ideia nenhuma... German sim mas as restantes seriam de?

Katarina Dalayman como Brunnhilde parecia embalar-se para uma noite de glória. Potência na voz, sobre a orquestra, e muito confiante com à vontade cénico.

O Wotan (esperava o grande Falk Strukmann, mas aparentemente ainda adoentado) foi de um desconhecido para mim: Thomas Johannes Mayer. Entrou bem, com voz embora pouco forte em potência e com timbre pouco "à baixo" para o papel, passeava cenicamente convincente e com alma e entoação eficaz na voz. A Fricka de Yvonne Naef foi espectacular. Timbre perfeito, viu-se no espelho a subir a escadaria até se encontrar com Wotan, num vestido escarlate incapaz de nos deixar indiferente. Quando diz a Wotan: "Olha-me nos olhos..." obriga-o com um gesto de autoridade com a mão na face do Deus. Toda a passagem musical que procura transmitir o tormento psicológico de Wotan ao ver que Fricka tem razão e que ele não pode ajudar Siegmund, foi cenicamente fenomenal por Mayer, acabando num "mas ele encontrou a espada" sublime. Bom momento de ópera este dueto Fricka-Wotan.

O monólogo de Wotan foi também muito convincente quer cenica quer vocalmente. Terminou com as 3 primeiras letras do palco a serem empurradas escadaria abaixo e com um voltar da mesa com as maças de pantanas quando afirma que só lhe resta esperar por uma coisa: o FIM!

À frente do palco durante todo este tempo do 2º acto temos a lança de Wotan, prateada e extremamente luzidía, e o capacete e colete de Brunnhilde.

A passagem para Siegmund e Sieglinde trouxe novamente o que se assistiu no 1º acto: ausência completa de interacção cénica entre os dois. Tudo melhorou quando no dueto de Siegmund com Brunnhilde. Orquestra sublime, Smith transfigurado na voz, sem distorção tímbrica, convincente nos movimentos em relação com Dalayman segura como até então, arranjando em círculo as maças incialmente desordenadas no chão. Como fundo, já sem espelho, voltamos a ver as árvores do 1º acto, agora com as 8 restantes valquírias entre as mesmas.

Os capangas de Hunding chegam, envolvem Siegmund num círculo denso enquanto Merbeth canta de forma convincente e sem maneirismos cénicos fúteis.

Brunnhilde agarra na lança que sempre esteve no palco sem a mover mas ao aparecer Wotan dizendo para a largar ela foge assustada e termina o duelo com ambos os intervenientes lesados, Siegmund e Hunding (mais uma vez com um jacto de sangue à mistura). Fricka assiste a tudo.

O acto termina de forma aceitável mas penso que poderia ter mais impacto de outra forma. Em vez de Wotan fica de braços abertos para Fricka como quem diz "aqui está o que querias" ao apontar para ambos os corpos mortos (no fundo sem deixar transparecer qualquer sentimento em relação à morte do filho), poderia ter olhado para Siegmund com tristeza, aproximado de Fricka lançado-lhe olhar de reprovação em relação ao que se assistiu e acabar o acto a sair de cena atrás de Brunnhilde para a castigar. Isto acaba por ser a minha visão cénica, "armado" em encenador de ópera ultra-amador mas... deixem-me sonhar! Eu especialmente acho deliciosas as encenações em que Fricka aparece fisicamente neste final de acto...

O terceiro acto desiludiu vocalmente...

Inicia-se a "Cavalgada" com projecção de texto que me pareceu alemão, em que (traduzido no placar electrónico sobre o palco) se diz, resumindo...: "nós somos as Valquírias e andamos a reunir homens guerreiros heróis para fortalecer Walhalla". Entretando um grupo de pessoas vestidas de Samurais fazem movimentos de guerra sincronizados. À frente, quatro mesas têm sobre elas indivíduos do sexo masculino, completamente desnudos, manchados de sangue, os quais vão sendo lavados pelas valquírias; a certa altura, com um movimento de braços, como que transferem vida a estes homens e estes saem de palco, voltando outros nas mesmas condições para serem lavados, etc... alguns vêm puxados por elas em cobertores, arrastados pelo chão e amontoados a um canto antes deste procedimento purificador. Achei muito original embora houvesse alguns risos e comentários sonoros (do senhor à minha frente para a acompanhante) de possível reprovação...
Sieglinde e Brunnhilde chegam e Dalayman começa o show de gritos. Embora baptize o filho dos gémeos cantando claramente Siegfried, em vez do muitas vezes ajustado para facilitar "Saigfried", o final das frases no agudo terminavam com gritos e assim se manteve até ao final.
Wotan entra trazendo a lança e Siegmund enrolado num cobertor e coloca-o em cima de uma das mesas, central ao palco. Toda a cena de explicação do castigo a Brunnhilde é feita metricamente por Mayer, numa voz que se agrava em termos de ausência de força suficiente para se ouvir sobre a orquestra e que progressivamente se torna gutural em vez de visceral. Muito fraco.
O interlúdio orquestral que se ouve após a saída de cena das 8 valquírias é cortado com descida de pano de palco o que, no meu entender, distrai muito o seguimento da acção. Mas, no fundo, os Samurais tinham de sair bem como mais alguns acessórios de palco. Acho que não foram felizes neste aspecto.
Até ao final, Wotan e Brunnhilde, embora cenicamente aceitáveis, vão transmitindo a degradação da voz em progressivo, Dalayman com gritos, Mayer com som gutural, o que acabou por comprometer também a alma vocal que havia distribuído no 2º acto. A última interveção de Wotan não me fez ter medo nenhum da ponta da sua lança... completamente fora de tom, voz gasta de esforço. Ponto forte foi o sincronismo do "Der Gott" com a Orquesta e alguns aspectos cénicos: o colocar de Brunnhilde, por Wotan, ao lado do corpo de Siegmund envolto em cobertor - no fundo Wotan perde um filho pela morte e uma filha pelo castigo (muito bem conseguida esta visão); o passar de uma senhora vestida de luto de um lado ao outro do palco na passagem musical final - penso que seria Erda (também ela perdendo assim, de certo modo, uma das filhas - é a minha interpretação); e Brunnhilde acabado por acordar e se deitar debaixo da mesa como quem, com medo, se procura defender ainda mais. O palco revela cores vermelhas, ambiente de "pós-fogo" com alguns figurantes caracteristicamente humanos, talvez antevendo assim o fim dos deuses (a ver do modo como terminar o Crepúsculo) - Pode-se ver estes aspectos na foto que coloco.

Uma palavra final para Jordan que conduziu uma Orquestra bem oleada, por vezes empastada e sem ataque forte nas passagens importantes como a entrada com o tema de Hunding no primeiro acto mas globalmente bem nos restantes.

Não assisti ao Ouro do Reno mas, fazendo uma análise com base nesta A Valquíria, penso que não se trata de um Anel a considerar e a merecer seguimento (por quem pense fazê-lo) no Siegfried e Crespúsculo na próxima temporada (já revista por mim neste blog). A manter-se elenco semelhante, uma possível representação de ciclo completo no início da temporada de 2011-2012 soa-me pouco merecedor de investimento.

Royal Opera House, Covent Garden, Londres - Temporada 2010-2011

A Royal Opera House (ROH), Covent Garden, Londres é uma das catedrais mundiais da ópera, templo recorrentemente visitado pelos Fanáticos da Ópera, talvez mesmo a sua alma mater. A qualidade dos espectáculos aqui apresentados é, quase sempre, elevada e a oferta muito diversificada.

A associação qualidade, quantidade e diversidade condiciona a atribuição do estatuto de catedral da ópera pelos Fanáticos que, no caso de Londres, é inquestionável. Como inquestionáveis são o Met de Nova Iorque, a Staatsoper de Viena e, poucos mais.
A temporada 2010-2011 não é, infelizmente, muito estimulante (2008-2009 e 2009-2010 foram incomparavelmente melhores), mas tem alguns motivos de interesse que poderão justificar uma ida a Londres.

Indicamos a maioria dos espectáculos de ópera anunciados e, de entre eles, alguns que pensamos poderem constituir experiências gratificantes.

- Così fan Tutte (Mozart) em Setembro (10, 13, 15, 17, 19, 22 e 24) de 2010. A temporada abre com uma das melhores óperas de Mozart, numa encenação moderna de Jonathan Miller. Os dois pares apaixonados (e postos à prova…) serão interpretados por Pavol Breslik (tenor), Stéphane Degout (barítono) Jurgita Adamonyté (Mezzo) e Maria Bengtsson (soprano). Thomas Allen será Don Alfonso e Rebecca Evans, Despina.





- Don Pascuale (Donizetti) em Setembro (12, 14, 16, 18, 20 e 21) de 2010.



 - Niobe, Regina di Tebe (Steffani) em Setembro (23, 25, 27 e 29) e Outubro (1 e 3) de 2010.

- Les Pêcheurs de Perles (Bizet), versão concerto, em Outubro (4 e 7) de 2010.
 - Rigoletto (Verdi) em Outubro (11, 14, 16, 19, 21, 23, 27 e 30) e Novembro (2, 4 e 6) de 2010. Encenação de David McVicar (1ª – a primeira de 5 nesta temporada!) conta com intérpretes sonantes como Dmitri Hvorostovsky, alternando com Paolo Gavanelli num dos mais exigentes papeis de barítono de Verdi, o tenor Wookyoung Kim no Duque de Mantua e o soprano Eglise Gutiérrez como Gilda.

- Roméo et Juliette (Gounod) em Outubro (26 e 29) e Novembro (1, 5, 8, 11, 13 e 17) de 2010. Referência para os vários duetos entre os dias amantes, aqui encarnados por Piotr Beczala, excelente tenor polaco como Romeu e Nino Machaidze, soprano Georgiano, como Julieta (alternando com María Alejandres).

- Hänsel und Gretel (Humperdinck) em Dezembro (23, 28, 29 e 31) de 2010 e Janeiro (1, 3, 4 e 7) de 2011, numa produção de Moshe Leiser e Patrice Caurier.

- Adriana Lecouvreur (Cilea) em Novembro (18, 22, 25, 27 e 30) e Dezembro (4, 7 e 10) de 2010. Uma nova produção de David McVicar (2ª) desta ópera que contém trechos musicais notáveis e que, nesta produção, conta com intérpretes de primeiríssima água, nomeadamente Angela Gheorghiu como Adriana Lecouvreur, Jonas Kaufmann como Maurizio , Olga Borodina como Princesa de Boullion, Maurizio Muraro como Príncipe de Boullion e Alessandro Corbelli como Michonet.
Angela Gheorghiu, ao que consta, é uma verdadeira prima donna (no sentido pejorativo do termo) e é talvez a campeã dos cancelamentos. Contudo, quando inspirada, nos papeis certos e no seu melhor, é uma cantora sublime. Quem poderá ficar indiferente à sua interpretação em concerto (ao vivo, no Covent Garden, em 2001, dirigida por Ion Marin, EMI Classics) da aria desta ópera Ecco respiro appena. Io son l’umile ancella. É um dos momentos marcantes da beleza transcendental do canto lírico.

- Tannhäuser (Wagner) em Dezembro (11, 15, 19, 22, 27 e 30) de 2010 e Janeiro (2) de 2011. Mais uma produção nova, de Tim Albery (que impressionou com a produção do Navio Fantasma em 2009 na ROH) com cantores notáveis, incluíndo o excelente heldentenor Johan Botha que assumirá o papel de Tannhäuser, a grande soprano Eva-Maria Westboek como Elisabeth e a mezzo Michaela Schuster como Venus.


 - Il Barbiere di Siviglia (Rossini) em Janeiro (18, 21, 24, 26, 29 e 31) e Fevereiro (2, 5 e 8) de 2011. Uma produção animada de Moshe Leiser e Patrice Caurier que já viu melhores intérpretes (por exemplo na temporada passada!) mas que, ainda assim, inclui nomes que merecem referência, como Aleksandra Kurzak, Bruno Praticò e Ildar Abdrazakov.




- Die Zauberflöte (Mozart) em Fevereiro (1, 3, 7, 9, 11, 16, 22 e 24) de 2010. Produção muito engraçada da Flauta Mágica, de David McVicar (3ª), sempre uma boa escolha.


 - Anne Nicole (Turnage) em Fevereiro (17, 21, 23 e 28) e Março (1 e 4) de 2011, em estreia mundial.

- Aida (Verdi) em Março (11, 14, 19, 22, 26 e 30) e Abril (2, 6, 10, 13 e 15) de 2011. Uma ópera de grande espectáculo em mais uma encenação de David McVicar (4ª) com nomes como Micaela Carosi, Roberto Alagna, Olga Borodina e Michael Volle.

- Fidelio (Beethoven) em Março (29) e Abril (1, 5, 9, 11 e 16) de 2011. Ópera de grande intensidade dramática que conta com as interpretações de dois grandes artistas, Endrik Wottrich e, sobretudo, Nina Stemme, o que faz prever que esta seja um dos melhores espectáculos da presente temporada.

 - The Tsar’s Bride (Rimsky-Korsakov) em Abril (14, 18, 20, 23, 27 e 29) e Maio (2) de 2011. Uma nova produção maioritariamente cantada por intérpretes russos. Força seguramente não vai faltar, já harmonia vocal …

- Werther (Massenet) em Maio (5, 8, 11, 14, 17 e 21) de 2011. No elenco está anunciado Rolando Villazón (que já impressionou neste papel mas, na actualidade, é uma incógnita) e a fantástica mezzo francesa Sophie Koch.


- Macbeth (Verdi) em Maio (24, 27 e 30) e Junho (3, 6, 10, 13, 15 e 18). Uma notável ópera de Verdi, a primeira baseada em Shakespeare que tem como principal motivo de interesse (e que motivo!) o barítono inglês Simon Keenlyside no papel principal.

- Tosca (Puccini) em Junho (7, 11, 14, 17, 20, 23, 28 e 30) e Julho (14 e 17) de 2011. Talvez o expoente máximo da temporada, uma das melhores óperas de Puccini e de sempre, conta com uma constelação inultrapassável de estrelas que incluem Karita Mattila, Martina Serafin e Angela Gheorghiu alternando no papel de Tosca, Marcello Giordani e Jonas Kaufmann como Cavaradossi e Juha Uusitalo e Bryn Terfel como Scarpia.
A não perder, sobretudo as récitas de Julho, que têm Angela Gheorghiu (como são só duas talvez não cancele), Jonas Kaufmann (foi arrasador neste papel há poucos meses no MET) e Bryn Terfel (o melhor Scarpia da actualidade)!





- Peter Grimes (Britten) em Junho (21, 24 e 27) e Julho (1 e 3) de 2011.



- Madama Butterfly (Puccini) em Junho (25 e 29) e Julho (2, 4, 8, 12, 15 e 16) de 2011. Mais uma produção de Moshe Leiser e Patrice Caurier em que actuarão nos dois papeis principais os cantores americanos Patricia Racette (uma habitual em Cio-Cio-San) e James Valenti.

- Cendrillon (Massenet) em Julho (5, 7, 9, 11, 13, e 16) encerra a temporada. O conto de fadas que inspirou La Cenerentola de Rossini, numa nova produção de Laurent Pelly, dirigida por Bertrand de Billy e com um elenco feminino de elevada qualidade, liderado pela estupenda mezzo americana Joyce DiDonato, acompanhada pela contralto polaca Ewa Podles e e pela soprano cubana Eglise Gutiérrez.

Não posso deixar de recordar Joyce DiDonato que, no ano passado no Barbeiro de Sevilha também aqui em Londres, cantou (de forma soberba!) o papel de Rosina numa cadeira de rodas, após ter partido o pé na récita havida dois dias antes. Numa época em que as grandes divas da ópera cancelam muito facilmente espectáculos, o comportamento de DiDonato foi notável e um brinde para todosos que tivémos o privilégio de a apreciar.

(As fotografias apresentadas são do Season Guide 2010-2011 da Royal Opera House)
Há ainda óperas contemporâneas na Royal Opera House 2.
Toda a informação disponível em:
http://www.roh.org.uk/season/index.aspx

terça-feira, 1 de junho de 2010

Gran Teatre del Liceu, Barcelona - Temporada 2010-2011

Uma nota sobre a nova temporada de ópera (2010-2011) do Liceu de Barcelona, um teatro onde gosto sempre de ir e onde, frequentemente, se podem ver excelentes espectáculos.

É mais uma óptima temporada que conta com 16 óperas, para além dos concertos, recitais e espectáculos para crianças. Não conheço tudo o que será apresentado mas, como fazemos habitualmente, aqui vão algumas referências ao que penso poderá vir a ser marcante e, quem sabe, justificar uma viagem a Barcelona.


- Iphigenie auf Tauris (de Gluck, versão alemã de Iphigénie en Tauride), em Setembro de 2010, espectáculo de ópera e dança que, nos dias 4 e 6 conta com a interpretação de Elisabete Matos.

- Carmen (Bizet) em Setembro e Outubro de 2010 e Julho de 2011. É sempre uma ópera espectacular, ideal para iniciados. Conta com uma constelação de estrelas nos intérpretes, incluindo Béatrice Uria-Monzon, Roberto Alagna, Marina Poplavskaia, Erwin Schrott e, em Julho, Anna Caterina Antonacci, Fabio Armiliato, Neil Schicoff e Maria Bayo. 


- Falstaff (Verdi) em Dezembro de 2010.



 

  - Anna Bolena (Donizetti) em Janeiro e Fevereiro de 2011 com Edita Gruberova e Elina Garanca a alternarem com Fiorenza Cedolins e Sonia Ganassi. Imperdível, para os amantes do belcanto (nos quais me incluo).

  - Parsifal (Wagner) em Fevereiro e Março de 2011. Todos os anos o Liceu brinda-nos com Wagner. Elenco também notável com Klaus Florian Vogt, Anja Kampe, Alan Held e Hans Peter König alternando com Simon O’Neill, Susan Bullock, Boaz Danielk e Eric Halfvarson.
-Cavalleria rusticana (Mascagni) e Pagliacci (Leoncavallo) em Abril de 2011 também com excelentes intérpretes, incluindo Luciana D’Intino, José Cura, Inva Mula, George Gagnidze, Ángeles Blancas, Marcello Giordani e Carlos Alvarez. Der Freischütz (von Weber) em Maio de 2011 com Peter Seiffert, Petra Maria Schnitzer, Solie Isokoski, Matti Salminen.
 
 - Tamerlano (Haendel) em versão concerto em Julho com Placido Domingo, Bejun Mehta, Anne Sofie von Otter. (O meu parceiro de blog Wagner_fanatic não me perdoaria se não destacasse este espectáculo, mas faço-o com a certeza que será um dos grandes!).

 E muito mais… mas não posso deixar de referir especialmente os recitais de Violeta Urmana (4 de Outubro de 2010), Jonas Kaufmann (10 de Outubro de 2010) e de Andreas Scholl (16 de Maio de 2011), bem como os concertos de Rolando Villazón (3 de Abril de 2011, se ainda tiver voz) e de Diana Damrau (26 e 28 de Maio).

(As ilustrações apresentadas são do site do Gran Teatre del Liceu, Barcelona)

Vale a pena explorar todos os pormenores em: http://www.liceubarcelona.com/