terça-feira, 19 de outubro de 2010

WF – No meu “gira-discos” – Die Zauberflöte – W. A. Mozart

(review in english below)

Não tendo podido assistir ao Cosi fan tutte na Fundação Calouste Gulbenkian no passado mês de Setembro, e após ler a entusiasmante crítica por FanáticoUm, fiquei curioso em conhecer o Mozart de René Jacobs.

Tendo visto em DVD, há poucas semanas, uma encenação da Flauta Mágica da Zürich Opernhaus, decidi apostar em escutar a nova gravação desta Ópera por René Jacobs.



Cantores exímios, de grande beleza vocal, transportam-nos instantaneamente e sem recurso à imagem, para o ambiente por todos conhecido, da última ópera de Mozart, escrita no ano da sua morte.

As opções de Jacobs são, em algumas passagens inovadoras, alterando o habitual de outras gravações. Por exemplo, o texto é mais rico, por vezes sobrepondo-se intervenções no início das árias como em “Der Vogelfänger bin ich ja”, ária que termina de forma original; e opta por andamento muito lento no início do célebre dueto entre Papageno e Papagena (não posso dizer contudo que admiro esta opção... a única que me causou alguma estranheza e que me impede de considerar absolutamente esta gravação absolutamente próxima da perfeição). É excelente o lirismo de Tamino na ária “ªDies Bildnis ist bezubernd schön” e a presença vocal da Rainha da noite na ária “O zitte nicht, mein lieber Sohn!” e na célebre “Der Hölle Rache”.

Os efeitos sonoros são muito bons e a qualidade sonora e sensação de espaço que se obtém são únicas e marcantes, muito fruto do local de gravação por certo, mas também pela utilização de instrumentos da época.

Uma referência moderna desta ópera, a ter lugar em qualquer estante de um fanático.

A juntar na estante após ser vista, está a gravação em DVD da Zürich Opernhaus por Nikolaus Harnoncourt– encenação que se mantém ainda em cena na mesma casa de ópera.



Aqui dominam Harnoncourt, um autêntico Mestre em Mozart, e Ruben Drole com o Papageno. O jovem cantor, além de voz de barítono fantástica, alia um sentido cómico tão espontâneo e livre que impressiona qualquer um.

Elena Mosuc é forte como a Rainha. Julia Kleiter é celestial como Pamina. Matti Salminen mantém o seu nível habitual, como Sarastro, embora tenda a olhar muito para Harnoncourt o que, em cenas de aproximação, descaracteriza a personagem. Christoph Strehl começa a ópera a menos bem vocalmente embora evolua para um Tamino aceitável.

A encenação é moderna mas dinâmica, labiríntica em que portas e movimento de cenário fazem a acção rolar em palco de forma consistente.

Um bom complemento à gravação de Jacobs.

Boa música para todos.





WF – On my “Gramophone” – Die Zauberflöte – W. A. Mozart

I was unable to attend the Cosi fan tutte at the Calouste Gulbenkian Foundation last September. After reading the enthusiastic review of FanáticoUm, I was curious to listen to the Mozart of René Jacobs.

Having seen on DVD, a few weeks ago, a staging of the Magic Flute by the Opernhaus Zürich, I decided to bet on hearing the new recording of this opera by René Jacobs.



Vocally strong singers, with beautiful voice, are able to transport us instantly to the environment of Mozart’s last Opera, written in the year of his death.

Jacobs options are innovative in some passages, different from other recordings,. For example, the text is richer, sometimes overlapping interventions at the beginning of arias such as "Der Vogelfänger bin ich ja”, which ends in an original way; and he opts for a slower pace at the beginning of the famous duet between Papageno and Papagena (I cannot say that I admire that ... this is the only passage that caused me some surprise and keeps me from considering this recording absolutely close to perfection). It is excellent the lyricism of Tamino in the aria "Dies Bildnis ist th bezubernd schön" and the vocal presence of the Queen of the Night in the aria "The Zitte nicht, mein lieber Sohn!" and in the famous "Der Hölle Rache.".

The sound effects are very good, and the sound quality and sense of space you get are unique and striking, in part due to the recording location but also, for sure, also due to the use of period instruments.

This recording is a modern reference of this opera and a must have for any opera lover.

Also a must have to add to the Jacobs set is the DVD recording by Nikolaus Harnoncourt at the Opernhaus Zürich – a production which is still on the scene at this Opera House this season.



Harnoncourt rules as a true Mozart Master, and Ruben Drole as Papageno is the ultimate singer. Young and with a great baritone voice, he combines a spontaneous and free humorous way that impresses everyone.

Elena Mosuc is strong as the Queen. Julia Kleit is heavenly as Pamina. Matti Salminen retains his usual level, as Sarastro, but tends to look too much towards Harnoncourt while he sings. Christoph Strehl does not begin well vocally but he ends up to be a very acceptable Tamino.

The scenario is modern but dynamic, labyrintic, where doors and a sense of movement on stage make the action roll consistently.

A good addition to the Jacobs recording.

Good listening and viewing to everyone.

4 comentários:

  1. Uma das minhas óperas de eleição, sempre, sempre, A Flauta Mágica. A versão de René Jacobs é sublime. Fiquei curiosíssimo pelo DVD que apresenta, vou espreitar, claro, muito embora eu tenha sempre uma relação de atracção-repulsa com as "direcções" do Harnoncourt.
    Hoje é noite de ir à ópera: Fidelio. Uma ópera de que gosto muito, mas que nunca tinha visto em cena. Vamos lá ver como se porta a Ópera Nacional de Gales.
    Boas óperas!

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  2. Caro Gus,

    Harnoncourt é um maestro de aspecto claramente da "nobreza" e a postura que transmite é de altivez. Não tenho seguido a sua carreira com afinco mas a direcção nesta Flauta é sublime.

    Aproveite bem Cardiff hoje e depois diga como correu o Fidelio. Se puder coma um fish and chips por mim :)

    Cumprimentos musicais.

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  3. Caro Wagner,
    Para minha felicidade, a Companhia de Ópera de Gales é, por assim dizer, itinerante. Por isso, três vezes por ano, traz a Bristol, onde vivo, três óperas (de cada vez), durante uma semana. Desta vez havia uma Flauta Mágica, que me recusei a ver por ser em inglês, e uma Ariadne auf Naxos, que não pude ir ver.
    Boa música!

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  4. Caro Gus,

    Pensava que estava em Cardiff... sorry.

    Também tenho algumas reservas em ouvir óperas não na sua língua original. Já o fiz uma vez em Londres com uma Madame Butterfly mas até nem foi má. Como deve saber, no próximo ano há um Parsifal, em inglês, no Coliseu de Londres e faz parte da minha "wishlist" mas que penso não ir ter possibilidade de lá ir ver e ouvir.

    Cumprimentos musicais.

    PS - mesmo assim... coma um fish and chips por mim :=)

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