terça-feira, 9 de novembro de 2010

Jonas Kaufmann, o tenor completo (e um belo presente do meu amigo wagner_fanatic)

Jonas Kaufmann, the complete tenor
(and a nice gift from my friend wagner_fanatic)
(Please see review in english below)


Jonas Kaufmann foi-me apresentado há já alguns anos, ainda não era uma super-estrela mundial, pelo wagner_fanatic. Viu-o ao vivo, penso que na Alemanha, e disse-me que me agradaria, dadas as qualidades que lhe reconheceu.
Pouco tempo depois tive oportunidade de o ouvir, pela primeira vez, numa impressionante produção do Fidelio, na Ópera de Zurique. Gostei, mas a boa impressão que me causou ficou diluída em todo aquele espectáculo marcante.

Pelos textos que aqui escrevo já dei a entender que, para mim, numa ópera, o que mais importa é o canto, mas valorizo muito também a interpretação musical, a capacidade cénica dos cantores e a encenação. Sei que vou contra a corrente dos puristas, mas é assim! Não sou daqueles que dizem que fecham os olhos. Acho que olhos e ouvidos abertos são compatíveis e complementares! E, talvez por isso, apesar de ter um enorme respeito pelos grandes cantores do passado, valorizo muito os que estão no activo, pois só eles nos podem surpreender com algo novo e transcendente.



Claro que estas considerações vêm a propósito de Jonas Kaufmann. Quando saiu o CD “Romantic Arias” o wagner-fanatic ofereceu-mo ainda antes da comercialização no país, como justificação da sua acertada recomendação (digo eu). Pouco tempo depois comprei o CD da “Madama Butterfly” (de Pappano, com a Gheorghiu que tanto gosto em grande forma) e o DVD do “Lohengrin” de Munique. Esta semana, acabo de receber novo presente do wagner_fanatic, o CD “Verismo Arias”.

Kaufmann é, para mim, um dos melhores da actualidade. Tem tudo, é o tenor completo! Uma voz quente e poderosa, de enorme grandeza e expressividade, capaz de transmitir todo o tipo de emoções. O timbre é belíssimo e ímpar, basta ouvir poucos segundos que se reconhece de imediato (são poucos os cantores em que isso acontece e, habitualmente, só com os de excepção). Há quem o compare a Vickers ou Corelli mas discordo, pois acho que é único. Aborda com igual qualidade um vasto reportório, do lírico ao dramático. O perfume baritonal da voz dá-lhe um encanto particular no registo mais grave, mas não deixa de ter uns agudos de arrepiar, juntando potência, beleza e altura. Também a mezza voce é notável, capaz de sussurrar com extrema elegância as notas mais suaves. Cenicamente é muito convincente porque alia uma figura óptima, compatível com as personagens que desempenha, a marcadas qualidades de representação, aspecto que nunca descura.
Assim foi sempre que o vi.



Não me é fácil fazer escolhas neste caso mas aqui sugiro algumas interpretações superlativas, uma de cada gravação: E lucevan le stelle da Tosca, o dueto de amor com Cio Cio San Vogliatemi bene, un bene piccolino da Madma Butterfly, o Lamento di Frederico de L’Arlesiana e todo o último acto do Lohengrin – único e sublime!



Jonas Kaufmann é, actualmente, membro efectivo do muito restito clube de tenores que aprecio incondicionalmente e que me fazem procurar os locais onde actuam. As únicas palavras de preocupação são precisamente neste aspecto, o seu calendário: canta quase tudo, por todo o lado e quase sempre, sem dar grande descanso à voz. Espero que não venha a ter dissabores. Seria uma pena para ele e. sobretudo, para todos nós!

Caro wagner_fanatic, muito obrigado por me ter apresentado este excepcional artista e, sim, acho que acertou em cheio no conselho que me deu! Bem haja!






Jonas Kaufmann was introduced to me some years ago by wagner_fanatic. He was not yet a superstar. My friend saw him live, I think in Germany, and told me that surely he would please me because of his performance qualities.
Shortly thereafter I had the opportunity to hear him for the first time in a stunning production of Fidelio at the Zurich Opera. I liked him, but the good impression he caused me was diluted in that striking performance of the opera.

In the texts that I write here I have already mentioned that, for me, in an opera, what matters most is the singing, but I also appreciate the musical interpretation, the artistic qualities of the singers and the staging. I know I'm against the thought of the opera purists, but it is so! I'm not on of those who say they close their eyes (though I also enjoy an occasional good opera in concert version). I think open eyes and open ears are compatible and complementary! And perhaps this is why, despite having an enormous respect for the great singers of the past, I much appreciate those who are singing now, because they are the only ones who can surprise us with something new and transcendent.


Of course these statements are related to Jonas Kaufmann. When the CD "Romantic Arias" appeared, wagner-fanatic offered it to me even before it was on sale in the country, as proof of his wise recommendation (my guess). Shortly after, I bought the CD of "Madama Butterfly" (by Pappano, with Gheorghiu in great style, whom I like so much), and the DVD of "Lohengrin" in Munich. This week, I just got this new present from wagner_fanatic, the CD " Verismo Arias”.

Kaufmann is, for me, one of the best. He has everything, he is the complete tenor! He has a warm, powerful and expressive voice of enormous magnitude, capable of expressing all sorts of emotions. The tone is beautiful and unique, we just listen a few seconds and we recognize it immediately (these happens with only few singers, and usually only with the excellent ones). Some compare his voice to Vickers’ or Corelli’s but I disagree. I think his voice is unique. He sings a vast repertoire with equal quality, from lyrical to dramatic. The baritone perfume of the voice gives it a particular charm in the lower range, but he is also capable of singing striking high notes with power and beauty. Also notable is his mezza voce. He is able to whisper with extreme elegance softer notes. On stage he is very convincing because he combines a figure with good looks, compatible with the characters he plays, with high performance qualities, an aspect he never neglected.
So it was whenever I saw him.


It is not easy for me to make choices in this case but here are some superlative interpretations, one from each mentioned recordings: E lucevan le stelle from Tosca, the love duet with Cio Cio San Vogliatemi bene, un bene piccolino from Madama Butterfly, Lamento di Federico from L'Arlesienne and the last act of Lohengrin - unique and sublime!



Jonas Kaufmann is currently a rare member of the club of the tenors that I appreciate unconditionally and that make me look for the places where they perform. The only words of concern are precisely in this respect: Kaufmann’s calendar. He sings almost everything, almost everywhere and almost everyday, without giving rest to his voice. I hope he will have no problems with it. It would be a shame for him and, mostly, for us!

Dear wagner_fanatic, thank you for introducing me to this exceptional artist and, yes, I think you were totally right with your advice. Thanks a lot!

(Concerning translation, this is the best we can do. Please do not hesitate to comment if you feel it is not correct. We decided to translate this post into english because we know we have several visitors from abroad that, we guess, do not understand portuguese. Thank you).

13 comentários:

  1. Caro FanaticoUm,

    Lembro-me bem de lhe ter falado do Jonas Kaufmann e de lhe mostrar realmente o potencial deste cantor, na altura em ascenção mas ainda não ao nível de popularidade que detem hoje, e bem merecida.

    Não o vi na Alemanha. Foi em Londres em Dezembro de 2006, ouvindo-o então na Carmen, a qual assisti por 2 vezes. Curiosamente, e se a memória não me falha, nunca mais o vi em palco desde então. Agora que penso nisso... grande falha minha! Embora o tenha acompanhado pela rádio e pelas gravações.

    Este CD é realmente sublime. Eu que não domino estas óperas conheço de ouvido as árias aqui apresentadas e penso que é uma sequência muito bem escolhida. A qualidade sonora de gravação é excelente. E Kaufmann é realmente um senhor! De todas a que melhor conheço é o "Vesti la giuba" e acho que a faz muito bem embora, se fosse eu a cantar (qualidade claramente inferior...) teria feito uma pausa maior antes de dizer "Tu se' Pagliaccio" e seria ainda mais na voz no final (a minha referência é Domingo!...). Mas o seu "ridi" em "E se Arlecchin t'invola Colombina,
    ridi, Pagliaccio, e ognun applaudirà!" é onde consegue ser o mais expressivo possível.

    Se calhar ainda não conhece o seu disco de árias alemãs. Tem excertos de óperas de Mozart (Flauta), Schubert e Wagner (Lohengrin, Parsifal, Die Walkure). Igualmente fantástico embora perca o ambiente por ser Wagner e ter que se quebrar o inquebrável (a linha melódica contínua).

    Eu não compararia Jonas Kaufmann a Vickers ou Corelli. Vejo-o mais, pelo seu tom baritonal, abrindo nos agudos, como James King, outro fantástico tenor que se pode escutar por exemplo na Die Walkure de Solti ou no Anel de Bohm, duas referências destas obras.

    Reconheço que Kaufmann canta muito hoje em dia mas, ao contrário de Villazon, tem técnica apurada por isso penso que não corremos o mesmo risco de o perder.

    Cumprimentos musicais e boa música.

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  2. Caros Fanáticos

    Já tinha discutido, saudavelmente entenda-se, com o FnaticoUm a voz de Kaufmann, cujo timbre baritonal no registo grave (que a meu ver se propaga pelo registo médio) não é muito do meu agrado. De qualquer forma, reconheço qualidades inegáveis na voz do tenor e concordo que o seu timbre singular torna a sua voz única e facilmente identificável.
    Claro que esta minha apreciação poderá estar condicionada pelo facto de não dominar o repertório que o tenor interpreta, uma vez que o Belcanto domina muito o meu gosto.

    Gostos à parte, gostaria de pedir ao Wagner_fanatic opinião sobre qual deverá ser a "minha primeira ópera de Wagner", isto porque para se começar a apreciar o trabalho do compositor, há que começar bem.

    Cumprimentos aos Fanáticos
    Alberto

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  3. Eu sei que não sou o wagner_fanatic e, à letra, não sei nem um centésimo do que ele sabe sobre Wagner. Na verdade, só o conheci Wagner há pouquíssimo tempo. Por isso mesmo, gostava de partilhar a minha 1.ª experiência de Wagner, que me foi enviada por um fulano da Geórgia: http://www.youtube.com/watch?v=bex_S61AI-8. Dá muito que pensar e cria incentivos, na minha opinião. Daí saltei - graças ao impulso do FanáticoUm - para o Anel, que comecei conhecendo ouvindo isto: http://www.youtube.com/watch?v=nkOiKy6sXfM, que é muito viciante. Mais um salto: http://www.youtube.com/watch?v=146tTKSXu7s&feature=related. Agora, ando muito demoradamente a explorar o 1.º acto de Tristão e Isolda (ópera que conheci noutra gravação viciante - http://www.youtube.com/watch?v=j8enypX74hU). Estou muito curioso acerca do Holandês Voador (como se diz em inglês, "very moving" - http://www.youtube.com/watch?v=aRdmZ7mc1BE) :-)
    Desculpe lá mais uma vez, Wagner_fanatic, se estou sendo inoportuno.

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  4. Caro Alberto Velez Grilo,

    Vou responder à sua pergunta transmitindo-lhe a minha experiência pessoal.

    O meu fascínio por Wagner passou por ouvir uma velhinha cassete, comprada na discoteca do centro comercial Apollo 70, com as Aberturas e o Idílio de Siegfried.

    Decidi entrar pouco tempo depois na sua obra e decidi começar cronologicamente, pela primeira mais famosa: O Holandês voador. Foi a gravação do Festival de Bayreuth por Woldemar Nelsson que me apadrinhou em Wagner. Seguiram-se o Tannhauser, Lohengrin (ambos nas gravações disponíveis com Domingo), Parsifal pelo Solti (a partir daqui saltei um pouco a cronologia...), Os Mestres Cantores por Barenboim também do Festival de Bayreuth, o Anel de Solti e, por fim (e aqui demorei vários anos para me aventurar) Tristão e Isolda por Karl Bohm, também do Festival de Bayreuth. Outras gravações vieram bem como DVDs e óperas ao vivo.

    O que lhe recomendo antes de se aventurar é procurar na Internet (veja em http://www.rwagner.net), a ideia do leitmotiv que Wagner foi desenvolvendo. Associando melodias a personagens, objectos, eventos, que vão aparecendo puramente ou alterados ao longo da ópera confere à obra uma unidade que poucos terão conseguido.

    É difícil lhe responder qual a melhor ópera de Wagner mas, para mim, a mais espiritual e celestial é o Parsifal. A mais emocionante é a Valquíria. A mais calorosa e terrena é Os Mestres Cantores. A mais fantasmagoria e enigmática é o Holandês Voador. A que mais traduz a dicotomia bem-mal e com sonoridade mais etérea é o Lohengrin. Enfim...

    Comece pelo Holandês (é mais pequena...), vendo primeiro os leitmotiv na net, e depois diga-me alguma coisa.

    Cumprimentos musicais e boa música!

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  5. Caro Plácido,

    Não sou assim tão especialista como faz crer. Gostava de saber ainda muito mais sobre Wagner mas o meu caracter de amadorismo acaba por não o permitir ao máximo.

    Obrigado pelas sugestões.

    Cumprimentos musicais.

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  6. Caros Wagner_fanatic e Plácido

    Muito obrigado pelas vossas sugestões. Vou começar no fim-de-semana a debruçar-me sobre o tema. Vou depois dando notícias.

    Cumprimentos aos dois

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  7. On my blog you can find the interviews of J. Kaufmann. Will be glad, if you stop by me.

    Best wishes,
    From Germany

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  8. Thank you for visiting me. I'm now following your site. Don't worry about the language. Through the google translator I understand what you write in Portuguese.

    Enjoy the weekend.

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  9. Dear lotus-eater,
    Thank you for visiting our blog. I visited yours and there are there several informative interviews with Jonas Kaufmann, and many other interesting informations. From now on, we will pay attention to your posts and comments.
    Grüße aus Portugal!

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  10. Um excelente disco, sem dúvida! Descobri a voz do Kaufmann há pouco tempo e estou a adorar.

    De resto, fico contente por ter descoberto este blogue, onde encontro pessoas que, como eu, são fanáticas por ópera e música clássica :)

    Saudações, Moura Aveirense

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  11. Caro Moura Aveirense,
    Obrigado pelo seu comentário. Apareça sempre e comente quando quiser, mesmo que em desacordo connosco. Valorizamos muito as opiniões de outros que muito enriquecem este espaço.
    Cumprimentos musicais

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