segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

PARSIFAL - Liceu, Barcelona - 24 e 25 Fevereiro 2011



(review in english below)

A encenação deste Parsifal levado ao palco do Liceu de Barcelona, em estreia mundial, em co-produção com a Zurich Opernhaus é talvez, a par com o início do Anel do Nibelungo no Met, um dos pontos mais altos da temporada wagneriana de 2010-2011.

Custa a crer como é que o Liceu consegue, em quase todas as suas produções desta temporada, apresentar dois elencos de qualidade invejável, para cada uma das óperas. O mesmo acontece com Parsifal.

Parsifal – Klaus Florian Vogt / Christopher Ventris
Amfortas – Alan Held / Boaz Daniel
Gurnemanz – Hans-Peter König / Eric Halfvarson
Titurel – Ante Jerkunica
Kundry – Anja Kampe / Evelyn Herlitzius
Klingsor – John Wegner / Egil Silins


Embora o 2º elenco não seja o original aquando da apresentação da temporada, para ser franco, até constituiu uma franca melhoria, ao serem substituídos Simon O’Neill e Susan Bullock por Christopher Ventris e Evelyn Herlitzius, a par com a entrada de Egil Silins.

Pude assistir a duas récitas, com cada um dos elencos, em dias seguidos – 24 e 25 de Fevereiro.

Esta produção está marcada por uma inovação conceptual da obra tão profunda que não sei se vou conseguir transmitir, por palavras, nas linhas seguintes. Já tenho dito que é difícil reinventar o que já foi reinventado mas isto é algo que parece fácil para génios como Claus Guth.



O sistema de rotação de palco com 3 a 4 locais e duplo andar, conectados por portas parece, depois do seu Tristão e Isolda de Zurique, começar a ser a sua imagem de marca, pelo menos, nas mais recentes encenações de óperas do compositor alemão. Mas o que marca este Parsifal não é isto, são um conjunto de pormenores que levam a obra além do que Wagner possivelmente terá imaginado e os quais elevam o encenador muito acima da excelência.

Comecemos.

Ainda antes de terminar a abertura, vemos em cena 3 homens vestidos de fraque, sentados numa mesa como que terminando um jantar. No centro Titurel, à direita deste (nossa esquerda) Amfortas e, à sua esquerda Klingsor. Titurel, após limpar a boca, levanta-se e aproxima-se de Amfortas. Klingsor irado levanta-se, parte o copo de vidro (cristal?) em cima da mesa e sai pela porta, não sem antes apontar o indicador a Amfortas, como que jurando vingança. Por cima destes, numa espécie de primeiro andar, vemos dois expositores clássicos de madeira e vidro, à esquerda com a lança, à direita como o Graal. Primeira inovação. A ideia de que Klingsor não era suficientemente puro para ser admitido na irmandade do Graal e que, apesar de se castrar, não conseguiu ser um dos eleitos, toma forma numa espécie de confronto entre duas pessoas, como que se dois irmãos se tratassem e que a escolha de um Pai caísse sobre um e não outro. Personifica-se aqui muito: Jesus e o Diabo (há que defenda que ambos sejam Filhos de Deus), Caim e Abel, ou até dois desconhecidos em tantas famílias que povoam este Mundo. Antes de terminar a orquestra assistimos ainda a uma projecção vídeo sobre o palco com as pernas desnudas de uma criança em andamento sobre terreno verde relvado, de cá para lá, que procuram simbolizar o andar de Parsifal. Esta imagem será uma constante sempre que se insinue a personagem. Vêmo-la quando Amfortas relembra a professia do puro tolo, aparece quando Gurnemanz relembra a mesma no seu monólogo, e posteriormente, no início dos actos, voltamos a vê-la: no início do segundo já com pernas de mais idade e com calças escuras, de lá para cá, e no início do terceiro, com botas, de cá para lá, agora a ritmo de corrida (à procura de Monstalvat). Esta concepção da direcção do andar é interessante: no primeiro acompanhamos Parsifal no seu destino de Montsalvat. No segundo, vêmo-lo a vir até nós como se, ainda não iluminados, pertencêssemos ao reino de Klingsor, de pecado. No terceiro corre em direcção a nós talvez para nos iluminar também ou então o encenador coloca-nos também como que instruídos pelo beijo de Kundry e o relembrar do sofrimento de pecado de Amfortas, e já estivéssemos transportados para o mundo do Graal.

Montsalvat é representada como um Hospital Militar, possivelmente na altura de uma das grandes guerras. O primeiro palco contém uma escada para um primeiro andar e no rés-do-chão, algumas cadeiras. As paredes com coloração branco pastel, aspecto típico da altura. Gurnemanz é um padre, vestido de fato mas com o colarinho branco e crucifixo ao peito. Os cavaleiros do Graal são oficiais do exército, cada um com a sua mazela física, com a farda incompleta. Duas das vozes classicamente atribuídas a cavaleiros são dois médicos e outras duas são de enfermeiras. Kundry quando surge, a melhor imagem que posso utilizar é a da personagem Michele da série britânica Allo Allo. Vestida de gabardina, com sapatos de médio salto com fivela fina à frente, parece uma autêntica espia do período da 2ª guerra.

Quando Gurnemanz narra o seu monólogo, contendo a história de como se perdeu a lança e Amfortas foi ferido pela mesma, Kundry repousa no chão e deitada de costas faz como que movimento de “abertura sexual” de pernas justamente na altura em que o velho refere que Amfortas foi seduzido. Clara alusão sexual de efeito magnífico.



O cisne é um cisne, morto por flecha, com sangue presente.

A música da transformação revela-nos uma sala com militares doentes em torno de um gramofone, como que escutando a música, preparando-se posteriomente para o jantar assim que se ouvem os sinos e Gurnemanz pára a agulha do gramofone.







Um senhor de fraque, com andamento idoso, quase parkinsónico, apoiado em bengala e com chapéu, Titurel, sobe as escadas do palco que dão acesso a uma porta. A rotação do palco permite ver Amfortas do outro lado, no 1º andar, junto aos expositores, agora já sem a lança mas ainda com o Graal. Titurel bate à porta, acaba por tirar de um molho de chaves e abrir a mesma, tira o Graal e trá-lo para baixo. Tudo isto à medida que Amfortas canta o seu monólogo e Parsifal assiste a tudo. A seguir, o servir do Graal é feito de forma diferente das outras produções a que tenho assistido. Titurel presente em cena e não só uma voz ao longe, é o detentor do Graal nas suas mãos. Amfortas deita-se numa mesa e é retirado o penso da ferida por duas enfermeiras. É agarrado ao Graal e olhando para a ferida do filho que Titurel bebe do Graal, exulta o dia, e passa o Graal para a sala seguinte onde é colocado em cima de mesa.



É como que a visualização da ferida enaltece-se o significado do Graal num jogo de contrastes pecado vs luz. Os 2 médicos retiram o seu conteúdo líquido com conta-gotas para frasco e depois distribuem algumas gotas por cada copo dos cavaleiros.

No final do acto, tudo tradicional: Gurnemanz mostra o caminho de saída a Parsifal, que sai, fechando uma das portas.

O segundo acto inicia-se com Kundry e Klingsor separados em dois andares. Gestos de Klingsor provocam repostas de controlo sobre o corpo de Kundry, revelando que esta se encontra em seu poder e ao seu serviço. As mulheres flor são interpretadas por mulheres vestidas com os típicos fatos de dança da altura e que penso virem desde os “loucos anos 20”... As luzes da festa são candeeiros de inspiração chinesa, redondos, de papel vegetal, e as mulheres estão acompanhadas de alguns homens de fato que dança com as mesmas. Parsifal surge ensaguentado nos braços fruto da luta com os homens de Klingsor. Kundry surge no cimo das escadas, vestida como mulher fatal do período referido. De cigarrilha numa mão e bebida na outra. O dueto entre ambos decorre nas várias voltas que o palco vai dando. Parsifal vai ouvindo Kundry falar de seu pai e sua mãe ao mesmo tempo que, sentado em baloiço que desce para o cenário, faz um arco e flecha.



O beijo transforma-o e parece ver Kundry em todas as voltas do palco. Na cena final, com um gesto de braços abertos de Parsifal, Klingsor fica petrificado no gesto de lançamento, incapaz de ferir o puro tolo com a lança. Parsifal tira-lhe a lança das mãos e segue pela porta do primeiro andar, deixando Kundry.



Nada se quebra, nada se desmorona e, principalmente, Klingsor não morre – outra inovação conceptual.



No terceiro acto, o Hospital e tudo nele parece mais velho e partido. Gurnemanz e Kundry vêm Parsifal chegar, com a cara tapada por uma espécie de calchecol de pele, com botões à frente, e com a lança. Kundry lava-lhe os pés e coloca-lhes óleo, Gurnemanz baptiza-o, tudo segue como habitual. Partem, juntamente com os outros cavaleiros em direcção a Amfortas. Rotação de palco leva-nos a uma mesa com o corpo de Titurel a ser preparado para enterro por duas enfermeiras. Amfortas canta o seu monólogo em constante rotação de palco. À visão do caixão com o seu pai, trazido e acompanhado por cavaleiros vestidos de fraque de enterro, com cartola e tudo, sai por um das portas, surgindo depois na constante rotação do palco.



Durante isto também é visível Klingsor, na sala onde antes estava o corpo defunto de Titurel, com ar de quem lhe entristece o sucedido, passando a mão sobre o relógio de pulso deixado para trás, em clara postura de remorso... inovação! Também Kundry simula o queimar de tudo aquilo que de material faz parte do seu passado. O surgir de Parsifal leva a perplexidade de Amfortas que de um canto da sala onde terminou o seu monólogo se dirige à lança e a agarra, sendo abraçado por Parsifal. O Graal está colocado no primeiro andar da sala, em suporte de parede. Parsifal sobe as escadas e se antes está vestido de calça e camisa simples, ao surgir junto do Graal com a lança vem trajado de militar. Gurnemanz que o segue coloca a lança junto ao vaso sagrado e Parsifal olha para baixo para os cavaleiros que, em formação, cantam o seu coro, conduzidos por um maestro ao lado de Parsifal. Talvez aqui seja o ponto mais perigoso da encenação de Guth. A possibilidade de semelhança de Parsifal com Hitler e os cavaleiros aos seus exércitos são demasiado evidentes, embora pense que não seja essa a sua intenção. Sobre este fundo, aparece Kundry, de mala, que atravessa a cena partindo, livre, para rumo incerto, não sem antes o seu olhar se cruzar com o de Parsifal que não lhe fica indiferente. No fundo, foi ela que o fez conhecer-se a si próprio, quem era e qual o seu destino. Também Kundry não encontra, nesta produção, a sua salvação na morte. A cena continua (palco roda) e termina de forma mais uma vez inovadora e que, de certo modo, limpa a imagem hitleriana do sucedido. Temos Klingsor sentado e Amfortas aparece em cena através de uma porta, depois de ter estado na sala onde poucos momentos antes o seu pai Titurel havia sido preparado para enterro e mexido, com pesar, ele também, no seu relógio de pulso. O olhar de ambos cruza-se. Amfortas senta-se e Klingsor toca-lhe no braço apertando-o como que pedindo perdão. Amfortas retribui mesmo gesto com símbolo de cedência desse perdão ao som do mais alto acorde do final. A forma como Guth termina a obra eleva-a a um patamar sublime. Quem erra merece perdão e quem sofre das consequências desse erro também deve ser capaz de perdoar.

No fundo, Parsifal, sem o referir implicitamente, ou talvez referindo-o muito explicitamente, têm muito do cristianismo como o conhecemos. Vive-se uma espiritualidade imensa nesta obra que a tornam uma das mais espectaculares da História do género. Para mim, custa-me imaginar o que seria Wagner capaz de escrever depois deste seu monumento musical e humano.

Algumas alterações de acto de representação surgiram na 2ª récita mas que em nada alteraram a densidade dramática da encenação. A cena final de Amfortas e Klingsor, por exemplo: aqui Amfortas vê Klingsor sentado, aproxima-se e coloca a mão sobre o seu joelho como que perdoando directamente, face a uma expressão facial de Klingsor que, por si só, transmite arrependimento.

Em relação aos cantores:

PARSIFAL - Klaus Florian Vogt vs Christopher Ventris

O duelo entre Parsifais pende claramente para Christopher Ventris que, no meu ponto de vista, devia ter sido a escolha para o elenco principal logo desde o início.
Klaus Florian Vogt é um excelente cantor, com uma voz de timbre claro e bonito, que apesar de muito leve é capaz de sobrepor a orquestra wagneriana, mas tem um defeito muito importante e que o impede, para já, de ser um Parsifal forte: canta quase sempre com um estilo declamatório que descaracteriza sentimentos. O seu ar de menino de coro até se aceita no 1º acto, no qual no fundo temos um Parsifal inocente, puro, tolo, um rapaz ainda sem nada saber de si e do mundo. Mas no segundo acto, quando o beijo de Kundry lhe deve despertar, Vogt não se conseguiu transformar e foi visível o não sentir / compreender o texto que estava a cantar. Quando imobiliza Klingsor, impedindo que este o fira com a lança, a sua voz foi tão leve e tão angelical que ninguém pode dizer que se adequava ao que dos seus lábios saia: “Mit diesen Zeichen...”. No 3º acto até foi tolerável esta postura, até porque temos um acto muito lírico e espiritual da parte de Parsifal mas, tendo visto Ventris no dia a seguir, não posso dizer que Vogt tenha sido melhor.




Já vi 2 produções com Christopher Ventris como Parsifal, uma em Paris e outra em Viena o ano passado, aparte de 2 interpretações em DVD. Desde 2008 tenho notado alguma evolução na concepção do papel por parte de Ventris, principalmente no importante 2º acto da obra. Em Barcelona esteve como eu nunca o tinha visto antes e como sempre o desejei ver: um Parsifal que não tem medo de modular a sua voz de modo a transmitir todo o conflito psicológico, todo o sentimento deste acto, algo que, para mim, só um cantor até hoje o conseguiu fazer na perfeição: Plácido Domingo. Ventris atingiu esse patamar em Barcelona e ofereceu um 2º acto electrizante. Não sei se é sinal da sua evolução no papel, e se as récitas seguintes vão revelar o mesmo, ou se é fruto apenas da inspiração dada, por certo, pela excelente encenação de Guth. Espero poder tirar as minhas dúvidas em outras produções de Parsifal no futuro.



AMFORTASAlan Held vs Boaz Daniel

Alan Held foi claramente superior a Boaz Daniel.

O barítono americano, detentor de voz fantástica para o papel, conseguiu fazer a simbiose perfeita entre a representação e o canto. Todas as suas expressões de dor e sofrimento foram perfeitas, sem excessos, caindo nos pontos certos da música. A indignação que demonstrou fisicamente quando vê Parsifal entrar com a lança e o modo como se dirige a esta e se agarra à mesma e a Parsifal é a de um homem finalmente libertado do pecado e do sofrimento e nós sentimo-lo. Se houvesse Óscar para a Ópera, Held ganhava o de actor secundário sem rival. É clara a compreeensão do papel na sua integridade e isso revela-se na sua interpretação vocal.



Boaz Daniel, embora com todas as notas no sítio e potência vocal, faltou-lhe esta magia, sendo menos credível cenicamente. Por exemplo, Held olha para caixão com o corpo de Titurel, desespera e só então sai da sala pela porta que dá acesso à escada no outro compartimento; Daniel nem para o caixão olha e não esboça qualquer sentimento nesse momento importante. Além disso, a cena final com Held, com o toque apertado no braço de Klingsor foi muito mais tocante que a opção de Daniel.



GURNEMANZHans-Peter König vs Eric Halfvarson

Prefiro o Gurnemanz lírico e de tom melodioso de Hans-Peter König ao Gurnemanz vocalmente rude de Eric Halfvarson.



Eric Halfvarson é um baixo de excelente qualidade mas o seu timbre ajusta-se mais a papéis de vilão, como Hunding. Pareceu-me ser um cantor a começar a entrar na sua recta descendente, principalmente nas alturas em que tem de consiliar agudos e potência. Não necessita ainda de impulsão de corpo como Sir John Tomlinson mas segue o mesmo caminho se continuar a insistir em papéis que já não se coadunam com a sua voz. Embora ambos os cantores sejam um colosso cenicamente, a cena do baptismo de Parsifal foi menos envolvente e bonita do que com Hans-Peter König. Este tem tudo para um excelente Gurnemanz: beleza de timbre, calor vocal, expressão dramática exímia.



TITURELAnte Jerkunica

Aqui não há conflito e... não é necessário. Ante Jerkunica foi, até hoje, o maior Titurel que vi ao vivo. O modo como Guth traz Titurel para o centro de cena durante as suas intervenções só beneficia quem interpreta o papel. Mas só isso não chega, é necessário uma voz de baixo profunda mas capaz de um legato e lirismo sublimes, principalmente em “O heilige wonne!” Poucos são aqueles que acertam no tempo nesta passagem e Jerkunica acertou com uma beleza parestésica.




KUNDRYAnja Kampe vs Evelyn Herlitzius

Tanto Anja Kampe como Evelyn Herlitzius personificaram uma Kundry ao mais alto nível. O timbre de ambas ajusta-se perfeitamente ao que se espera para uma Kundry. Sinceramente nunca esperei que Anja Kampe, a quem apenas tinha visto em Wagner como Senta, fizesse uma Kundry tão credível quer cénica que vocalmente.



Em oposição a uma Kundry um pouco mais reservada e introspectiva de Herlitzius, Kampe deu-nos uma Kundry mais versátil, com os seus gritos revelando loucura, contrastando maniacodepressivamente com a sua sedução. Nada falhou nos seus movimentos em palco.



KLINGSORJohn Wegner vs Egil Silins

Ambos os cantores estiveram excelentes, embora eu aprecie muito mais a postura e o timbre de voz de Silins.






Da reunião de ambos os elencos, a minha escolha próxima da perfeição seria:

Parsifal – Christopher Ventris
Amfortas – Alan Held
Gurnemanz – Hans-Peter König
Titurel – Ante Jerkunica
Kundry – Anja Kampe / Evelyn Herlitzius
Klingsor – John Wegner / Egil Silins


Michael Boder revelou profundo conhecimento dramático da obra e fez com que a Orquestra do Liceu produzisse um som wagneriano do mais espectacular possível.

Tudo flui, tudo vibra, tudo impressiona nesta produção. Não devo estar muito enganado quando penso que esta deve ser a melhor produção de Parsifal de sempre.

Finalmente Richard Wagner, mais de um século depois, encontrou um génio à sua altura: Claus Guth.







PARSIFAL - Liceu, Barcelona - 24 & 25 February 2011



The world premiere of Claus Guth’s Parsifal at the Liceu in Barcelona, in co-production with the Zurich Opernhaus is perhaps, along with the beginning of the Nibelung's Ring at the Met, one of the highest points of the Wagnerian Opera Season 2010 - 2011.

It is hard to believe how the Liceu can, in almost all of its productions this season, have two casts of enviable quality for each of the operas. The same goes for Parsifal.

Parsifal - Klaus Florian Vogt / Christopher Ventris
Amfortas - Alan Held / Boaz Daniel
Gurnemanz - König Hans-Peter / Eric Halfvarson
Titurel - Ante Jerkunica
Kundry - Anja Kampe / Evelyn Herlitzius
Klingsor - John Wegner / Egil Silins


Although the second cast is not the same as presented at the beginning of the season, to be frank, it was even more improoved with the replacement of Simon O'Neill and Susan Bullock by Christopher Ventris Evelyn Herlitzius, along with the entry of Egil Silins.

I watched this production with both casts on consecutive days - 24 and February 25.

This production is marked by such a deep conceptual innovation of the work that I do not know if I can convey it in proper words. I have said it is difficult to reinvent what has already been reinvented but this is something that seems easy for geniuses like Claus Guth.



The rotation system of the stage, with 3 to 4 “house rooms” and double floor, connected by doors, finds a similar concept already seen on his Tristan and Isolde at the Zurich Opera House. This scheme seems to be becoming Guth’s brand image in his most recent works of Wagner. But what marks this Parsifal is not this but a set of details that leads this opera beyond what Wagner might have imagined as possible, upleafting this director far above excellence.

Let us begin.

Even before finishing the ouverture we see three men dressed in a tuxedo, sitting at a table as they finish dinner. Titurel seats in the center. To his right we find Amfortas, and Klingsor to his left. Titurel, after cleaning the mouth, rises and approaches Amfortas. Klingsor anger rises, he violently breaks a glass on the table and walks out the door, but not before pointing his second finger to Amfortas, like vowing revenge. On top of these, a sort of first floor, we see two classic displays made of wood and glass. The left one helds the spear and the right one the Grail. First innovation! The idea that Klingsor was not pure enough to be admitted into the brotherhood of the Grail and that despite castrate himself, could not be one of the elect, takes shape in a kind of confrontation between two people, as if two brothers, with a choice of leadership by a father tends to only one of them. We find here a similar ideia to Jesus and the Devil (it is argued that both are sons of God), Cain and Abel, or even two strangers in so many families that populate this world. Before finishing the orchestra we still see a video projection on stage with the bare legs of a child in progress on a ground green lawn, to and fro, seeking to symbolize the walking steps of Parsifal. This image is a constant that always imply the character. We see it when Amfortas reminds the profecy of the pure fool; appears when Gurnemanz recalls in his monologue the same profecy, and then in begining of each act: on the second act the legs look older and have trousers with bear feets, and on the third act with boots, to and fro, now as if jogginf (towards Monstalvat). This conception of the direction of walking is interesting: in the first we follow Parsifal in its destination of Montsalvat. In the second, we see it coming to us as still unlightened, we belonged to Klingsor’s world of sin. In the third it runs towards us maybe showing us that we were also enlightened by Kundry’s kiss and that we are already transported to the world of the Grail.

Montsalvat is represented as a Military Hospital, possibly at time of a World War. The first stage contains a ladder to a first floor and a few chairs in the ground floor. The walls have the typical appearance of that time, in a pastel colored white. Gurnemanz is a priest, actually dressed with a white collar and a crucifix falling into his chest. The Knights of the Grail are army officers, each with their physical illness, with an incomplete uniform. Two voices of the knights were assigned to two doctors and other two to nurses. Kundry appears and she seems like Michele from the british series of Allo Allo. Dressed in trench coat with a medium heel shoes with thin buckle front, she looks like a real second World War spy.

When Gurnemanz narrates his monologue, containing the story of how the spear was lost and Amfortas was wounded, Kundry lies on the floor and lying on her back she opens her legs in a sexual way just in time when the old man recalls that Amfortas was seduced by a woman. Perfect effect of sexual allusion.



The swan is a swan, killed by an arrow, with blood and all.

The Transformation music shows us a room with military patients around a gramophone listening to music. When they hear the bells and Gurnemanz stops the needle of the gramophone, they get set for dinner.







A gentleman in a classic suit, with a hat, enters in a slow pace, almost parkinsonic, leaning on a cane. This is Titurel. He climbs the stairs of the stage giving access to a door. The rotation of the stage allows Amfortas to be seen on the other side, on the 1st floor, next to the displays where only the Grail in now present. Titurel knocks at the door but Amfortas does not open it. He ends up taking a bunch of keys and opens it, he takes the Grail and brings it down. All this as Amfortas sings his monologue and Parsifal watches. Then, all is different from other productions. It is Titurel who delivers the Grail, with the cup on his hands. Titurel in the front of the stage and is not just a voice in the distance. Amfortas lies on a table and sees his wound band removed bu the nurses. Titurel, holding the Grail and looking at Amfortas wound, drinks from the cup, rejoices the day, and the Grail passes to the next room where it is placed upon the table where the grammophon was before, playing.



It is as if seeing the wound, the significance of the Grail becomes greater, in a clear contrast between sin and light. The two doctors remove the liquid content with dropper to bottles and then distribute a few drops in each cup of the knights.

At the end of the act, everything is traditional: Gurnemanz shows the way out to Parsifal, who leaves, closing the doors.

The second act begins with Klingsor and Kundry in two separate floors. Gestures of Klingsor provoke responses of control over the body of Kundry, revealing that she is over his power and service. The flowermaidens are interpreted by women dressed in the typical dance dress of the twenties... The lights of the festival are Chinese-inspired lamps, and women are accompanied by some men who actually dance with them. Parsifal comes stained with blood on his arms due to the struggle with Klingsor’s men. Kundry appears at the top of the stairs, dressed as a fatal female. With a cigarrete in one hand and a drink in the other. The duet between them takes place in several rotational movements of the stage. Parsifal hears Kundry talking about his father and mother while sitting in a rocking swing, making a bow and arrow.



Kundry’s kiss transforms him and he seems to see her in every part of the set. In the final scene, with a strong opening of his arms, Klingsor is petrified while trying to launch the spear towards Parsifal, unable to hurt the pure fool with it. Parsifal takes the spear from the hands of Klingsor and goes through the door on the first floor, leaving Kundry.



Nothing is broken, nothing collapses, and especially Klingsor does not die - another conceptual innovation.



In the third act, the hospital and everything in it looks older and broken. Kundry and Gurnemanz see Parsifal arriving with his face covered by a form of scarf and holding the spear. Kundry washes his feet and puts oil on them, Gurnemanz baptizes him, everything is as usual. They depart along with the other knights towards Amfortas. Rotation of the stage leads us to a table with the body of Titurel being prepared for burial, by two nurses. Amfortas sings his monologue in constant rotation of the stage. At the sight of the coffin with his father, brought by the knights dressed in tails of burial, with top hat and all, he leaves the room through a door and appears in another part after another rotation of the stage.



During this, Klingsor is also visible in the room where once layed the body of the deceased Titurel. With a sincere look of sorrow, he touches the left behing rist watch, on a clear attitude of remorse ... innovation! Kundry also simulates the burning of all the material possesions who were part of her past. When Parsifal shows up with the spear, Amfortas looks surprised and he walks towards Parsifal and the spear, through the knights. He then grabs the spear, being hugged by Parsifal. The Grail is placed on the first floor of the room, on a wall bracket. Parsifal ascends the stairs Before he is dressed in simple pants and shirt, and then shows in an army vest when reaching the first floor. Gurnemanz, who follows him, puts the spear near the sacred vessel and Parsifal looks down to the knights who sing in chorus, led by a conductor on left side of Parsifal. Perhaps here is the most dangerous point of the staging by Guth. The possibility of similarity between Parsifal and Hitler, and the knights with his army are too obvious, though I think this is not his intention. On this background, Kundry appears, holding a suitcase. She crosses the scene, free, with an unknow destiny, but not before her eyes meet the Parsifal ones, who does not become indifferent. Basically, she was the one who made him know himself, who he was and which was his destiny. Kundry does not find salvation in death. The scene continues and terminates once again in a innovative approach, in a sense, clearing that Hitler image. Amfortas also passes by the room where Titurel was prepared for burial and touches his left behing rist watch. He then passes a door to find Klingsor sat down. Their eyes cross. Amfortas sits next to Klingsor and Klingosr touches Amfortas arm and squeezes it as if asking for forgiveness. Amfortas reciprocates the same token gesture and forgives him just when we listen to the highest chord of the last notes of the work. The way how Guth ends the opera elevates it to a sublime level. Who errs deserves forgiveness and who suffers the consequences of this error must also be able to forgive.

Basically, Parsifal, without being too much obvious or maybe being too much obvious, has much of Christianity as we know it. You live a spirituality in this immense work and this makes it one of the most spectacular opera ever written. I cannot imagine what Wagner would be able to write after this monumental story of music and humanity that is Parsifal.

Some amendments in the act of representation where seen on the second day with the different cast but they did not compromised the dramatic of the staging. The final scene of Amfortas and Klingsor, for example: Amfortas sees Klingsor, he sits and puts his hand on his knee as forgiving directly, to which Klingsor responds with a relief facial look, touching Amfortas hand.

Now the singers:

PARSIFAL - Klaus Florian Vogt vs Christopher Ventris

The duel between Parsifais clearly leans to Christopher Ventris who, in my point of view, should have been the choice for the main cast
.
Klaus Florian Vogt is an excellent singer with a clear and beautiful tone, which although very light is able to override the Wagnerian orchestra. But he has a very importqnt defect that prevents him, for now, to be a strong Parsifal: he almost always sings with a declamatory style that pits feelings. Its air of choir boy is acceptable during the first act, in which he is an innocent Parsifal, a pure fool, a boy still without knowing anything of himself and the world. But in the second act, when Kundry's kiss is supposed to wake him up to everything, Vogt was not able to transform his voice, his singing, clearing not showing that he understood what he was singing. When he imobilizes Klingsor with a open arm gesture, his voice was so light and so angelic that no one can say that it fitted the words he was singing: "Mit diesen Zeichen ...". In the 3rd act he was tolerable because Parsifal role has a very lyrical and spiritual singing but having seen Ventris, the day after, I cannot say that Vogt was better.



I've seen two productions with Christopher Ventris as Parsifal, one in Paris and another in Vienna last year, apart from two performances on DVD. Since 2008 I have noticed some evolution in role by Ventris, especially in the important Act 2. In Barcelona I saw him as I have never seen him and how I always hoped to see him: a Parsifal who is not afraid to modulate his voice so as to convey the psychological conflict, the whole feeling of this act, something that for me, only a singer so far succeeded in doing it perfectly: Plácido Domingo. Ventris reached that plateau in Barcelona and offered an electrifying Act 2. I do not know if this is a sign of his evolution of the role or if this is a product of the inspiration given by Guth sets, but the following productions will reveal it in time.

AMFORTAS - Alan Held vs Boaz Daniel

Alan Held was clearly superior to Boaz Daniel.

The American baritone, possessing a fantastic voice for the role, managed to make the perfect symbiosis between representation and singing. All expressions of pain and suffering were perfect, without excesses, falling at the right points of the music. The surprise demonstrated when he sees Parsifal arriving and the way he wlak towards Parsifal and the spear is that of a man finally freed from sin and suffering, and we feel this. If there was an Oscar in Opera, Held would won the supporting actor unrivaled. His clear insight of the role is evident and he reveals this in his vocal performance.



Boaz Daniel, although singing all the notes and with power, he lacked that magic scenic way of being. For example, Held looked to the open Titurel’s coffin and got distressed in despair, then leaving the room through the door that gives access to the ladder in the other compartment. Daniel doesn’e even look at the coffin shows no feeling at this important moment. The scenic option of Held in the final scene was also more intense than the Daniel one.



GURNEMANZ - Hans-Peter König vs Eric Halfvarson

I prefer the the lyrical and melodious tone of Hans-Peter König as Gurnemanz, to the vocally rude Eric Halfvarson.



Eric Halfvarson is an excellent bass but his tone fits better the roles of villain, as Hunding. It seemed to me to be a singer to begin entering the downward of carreer, especially when you must consiliate high notes and power. He does not need to make whole body mouvements to get the high note as Sir John Tomlinson does, but he follows the same path if he still insists on singing roles that no longer fitin with his voice. Although both singers were scenically a colossus, the scene of the Baptism of Parsifal was less than compelling and beautiful with Hans-Peter König. He has all for a great Gurnemanz: beauty of tone, vocal warmth, and excelent dramatic expression.



TITUREL - Ante Jerkunica

Here there is no conflict and... is not necessary. Ante Jerkunica was the best Titurel I have ever seen live. How Guth brings Titurel to the center of the scene during his singing only benefits who plays the role. But that is not enough, you need a deep bass voice, but capable of a sublime legato and lyricism, especially in "O heilige wonne!" Few are those who sing this passage al tempo and Jerkunica did it with supreme beauty.



KUNDRY - Anja Kampe vs Evelyn Herlitzius

Both Anja Kampe and Evelyn Herlitzius personified a Kundry at its highest level. The tone of both fits perfectly to what one would expect for a Kundry. I honestly never expected Anja Kampe, who I had only seen as Senta, would be able to perform a credible Kundry, scenic and vocally speaking.



Herlitzius gave us a slightly more reserved and introspective Kundry, while Kampe gave us a more versatile one, with her cries revealing madness, contrasting “maniacdepressively” with her seduction. None of her movements on stage failed. The same was not seen with Herliztius.



KLINGSOR - John Wegner vs Egil Silins

Both singers were excellent, though I appreciate much more the attitude and tone of the voice of Silins.






Chosing one perfect cast from both presentations, I would have to say that it would be this one:

Parsifal - Christopher Ventris
Amfortas - Alan Held
Gurnemanz - Hans-Peter König
Titurel - Ante Jerkunica
Kundry - Anja Kampe / Evelyn Herlitzius
Klingsor - John Wegner / Egil Silins


Michael Boder revealed a dramatic depth knowledge of the work and made the Liceu's orchestra produce a Wagnerian sound the most spectacular possible.

Everything flows, everything vibrates, everything in this production is impressive. I should not be far wrong when I say that this must be the best Parsifal production ever.

Finally Richard Wagner, more than a century later, found a genius at his height: Claus Guth.





sábado, 26 de fevereiro de 2011

Iphigénie en Tauride – Met Live em HD – Fundação Calouste Gulbenkian - 26 Fevereiro 2011

(review in english below)

Assistimos a um Glück espectacular hoje na Gulbenkian, através do Met Live.

A récita de hoje é a viva prova de que uma encenação clássica pode trazer muito a uma obra e que, no fundo, a Ópera é Música, Teatro e Alma. Digo isto porque, como sabem, assisti há pouco mais de um mês, em Madrid, a esta ópera e com os mesmos intépretes principais. Em Madrid, a encenação foi minimalista e, embora a récita tenha sido espectacular do ponto de vista interpretativo e vocal, não se compara à envolvência da encenação do Met.

O trio Graham – Groves – Domingo é absolutamente soberbo! Já o tinha referido em relação a Madrid e mantenho a minha posição com a récita de hoje.



Susan Graham não representa mas sim VIVE este papel. E que bela voz de mezzo! Não me canso de o referir.



Paul Groves sobresaiu com a beleza do seu timbre e a excelência da sua representação. Absolutamente magnífico!



Plácido Domingo esteve ao seu nível habitual. Quem lhe dá 70 anos quando caracterizado? Fantástico! Acho que, ao vermos a reportagem dos bastidores descobrimos o segredo da sua loongevidade vocal: infusões de chá e.. Halls, mentoliptos :)



Quem som saiu da Orquestra dirigida por Patrick Summers!

Espero que, proximamente, possamos ver esta récita imortalizada em DVD como outras do MetLive já se encontram, ou pelo menos disponível para visualização no MET player.

Não era preciso o Director do Met, Peter Gelb, subir ao palco no início da récita, referindo que Susan Graham e Plácido Domingo estavam a recuperar de gripe, porque sinceramente não se notou qualquer compromisso vocal. O único vírus que infecta estes cantores chama-se... ÓPERA!!!!





Iphigénie en Tauride - Met Live HD – Calouste Gulbenkian Foundation - February 26, 2011



We watched a spectacular performance today at the Gulbenkian through the MetLive.

The today’s performance is the living proof that a classic stage set can bring a lot to an opera work and that Opera is Music, Theatre and Soul. I say this because, as you know, I watched a month ago, in Madrid, to this opera with the same main interpreters. In Madrid, the stage set was minimalist and although the performance has been spectacular in terms of vocal and acting performance, it does not compare to the staging of the Met.

The trio Graham - Groves - Domingo is absolutely superb! I had already mentioned it in my previous entry on this blog about Madrid and I hold my position with what we saw today.



Susan Graham does not sing this role, she LIVES it! And what a beautiful voice of mezzo! I am never tired of mention it.



Paul Groves stands out with the beauty of his tone and excellence of its representation. Absolutely magnificent!



Placido Domingo was at his usual level. Who gives 70 years to this man when he is under character? Fantastic! We found today, probably, the secret to his vocal longevity when seeing the backstage report: infusions of tea and... HALLS J



What sound came from the Orchestra conducted by Patrick Summers!

I hope that soon we may see this production immortalized on DVD as other MetLive performances are, or at least, in the Met player.

It was not necessary for the Director of the Met, Peter Gelb, stating on stage at the beginning of the opera, that Susan Graham and Placido Domingo were recovering from the flu, because honestly none vocal distress was perceptive. The only virus that infects these singers is called ... OPERA!!