quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Iphigénie en Tauride – Teatro Real, Madrid – 23 Janeiro 2011

Iphigénie en Tauride, estreada a 18 de Maio de 1779, é uma das mais inspiradas obras de Christoph Willlibald Glück, e que marcou a história da Ópera. Baseada nas tragédias homónimas de Claude Guymond de La Touche e Eurípides, a trama traz-nos todo um leque de sentimentos como o amor entre irmãos, a amizade leal, mas também vingança, raiva e morte.



A récita de 23 de Janeiro tinha um carácter especial. Era a primeira de Plácido Domingo com 70 anos de idade, num papel (Orestes) que abraçou há relativamente pouco tempo (2007).



A encenação de Robert Carsen é muito simplista, praticamente sem adereços no palco, o qual se apresenta com fundo e lados em preto. Contudo, funciona perfeitamente bem, à custa do excelente dinamismo cénico, vocal e dramático das personagens, bem como das cenas de bailado. Cantores masculinos com calças e camisa pretas e as femininas de vestidos igualmente pretos. Destaco como ponto alto desta encenação, Iphigénie apagar o seu nome escrito a giz em letras maiúsculas no fundo do palco, após cantar a ária mais célebre da ópera “Ó malheureuse Iphigénie!”, como que transmitindo que ela própria já não existe porque já não tem família.

Plácido Domingo, na sua primeira récita com 70 anos, está mais jovem do que nunca. Além do excelente momento vocal, o dramatismo da personagem transpira em cada note e em cada gesto. Ele canta de pé, sentado, deitado, virado para a plateia, de costas para a plateia, cai de joelhos, cai de lado, é levado em braços, levanta-se e caminha de um lado ao outro do palco, sem comprometer a qualidade da voz. Perfeitamente espectacular!









Susan Graham é um colosso no papel de Iphigénie! Adoro esta soprano! Esta foi a primeira vez que a vi ao vivo mas já me deleitava em casa a ouvir os seus CDs de Berlioz com Les nuits d’éte e canções francesas. A sua interpretação da canção À Chloris de Reynaldo Hahn é do outro mundo. O timbre é lindíssimo, e o dinamismo que imprime em palco é de “6” estrelas.





Paul Groves é um tenor de qualidade superlativa. O timbre é claro e límpido, a potência é forte e a moldagem interpretativa é de uma beleza invejável.



É fantástico assistir à interacção do trio Graham-Groves-Domingo. Estes cantores já viveram esta ópera em palco por várias vezes desde 2007 quando iniciaram a sua colaboração conjunta no Met de NY (aliás voltam a NY após esta incursão em Madrid). Espera-nos uma grande récita no MetLive a 26 de Fevereiro.



Os restantes cantores estiveram também ao seu mais alto nível. Destaco a Diana de Maite Alberola, com timbre muito bonito.

Thomas Hengelbrock dirigiu uma Orquestra excelente, sem falhas, e um Coro fenomenal, cantando apartir do fosso da orquestra.



Para aqueles que sabem reconhecer uma intervenção jocosa, posso dizer que três “palavras” descrevem esta récita: “Su”, “bli”, “me” :-)



Iphigénie en Tauride - Teatro Real, Madrid - 23 January 2011

Iphigénie en Tauride, premiered on May 18, 1779, is one of the most inspired works of Christoph Gluck Willlibald. Based on the homonymous tragedies by Claude Guymond de La Touche and by Euripides, the plot brings us a whole range of feelings such as love between brothers, loyal friendship, but also revenge, anger and death.



The performance of January 23 had a special feeling. It was the first of Placido Domingo with 70 years of age, in a role (Orestes) he embraced recently (2007).



The staging by Robert Carsen is very simplistic, with virtually no props on stage, which presents with back and sides in black. However, it works perfectly well, at the expense of excellent scenic, vocal and dramatic dynamism of the characters and the scenes of ballet. Male singers were dressed with black pants and shirt and women in black dresses also. I would like to highlight the highest point of this production, which is Iphigénie deleting her name written in chalk on the back of the stage after singing the most famous aria of the opera "O malheureuse Iphigénie!", as conveying that she herself no longer exists because she no longer has a family.

Plácido Domingo, in his first performance aged 70, looks younger than ever. Besides the excellent vocal moment, the drama of the character lives in every note and every gesture. He sings standing, sitting, lying down, facing the audience, with his back to the audience, he falls to his knees, falls on his side, is carried in arms, gets up and walks from one side to another of the stage, without compromising the quality of his voice. Absolutely amazing!









Susan Graham is a giant in the role of Iphigénie! I love this soprano! This was the first time I saw her live but I was already delighted at home listening to her CDs with Berlioz's “Les nuits d'Éte” and French songs. Her interpretation of the song “À Chloris” by Reynaldo Hahn, is from another world. The tone is gorgeous, and the dynamism on stage is so great that prints of "6" stars.





The tenor Paul Groves is of superlative quality. The sound is clear and clean, the power is strong and the interpretative molding is enviable beauty.



It's fantastic to watch the interaction of the trio Graham-Groves-Sunday. They have lived this opera on stage several times since 2007 when they began their joint collaboration at the Met in NY (and from Madrid they return to NY with Iphigénie). Hopefully we will have a superb Iphigénie at the MetLive on February 26.



The other singers were also at their highest level. I highlight Maite Alberola as Diana, with a very beautiful tone.

Thomas Hengelbrock directed an excellent Orchestra, flawless, and a phenomenal Choir sang from the orchestra.



For those who can read a humorous speech, I can say that three "words" describe this performance: "Su", "bli", "me" :-)

5 comentários:

  1. Cá nos espera o Met Live, claro está. Mas parece que de lá a encenação é clássica. Esta parece interessante... :-)
    GRANDE PLACIDONE!!!!!

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  2. Caro wagner_fanatic,

    Depois da sua "relativa" decepção do concerto de aniversário de Placido Domingo (refiro-me ao facto de ele não ter cantado nesse momento) veio rapidamente a compensação com a possibilidade de assistir ao vivo a esta récita. Para além do Grande Domingo, sou também apreciador confesso de Susan Graham, mas nunca ouvi ao vivo Paul Groves.

    Sempre que um dos que escrevem neste blogue assiste a um espectáculo sublime (e andamos com muita sorte nos últimos tempos), os outros rejubilam. É o meu caso hoje.

    Refere que a 26 de Fevereiro nos espera uma grande récita no MetLife. Lá estaremos, claro, mas, apesar da elevada qualidade sonora e visual, não se compara ao espectáculo ao vivo e a toda a sua envolvência.

    Obrigado por partilhar as fotografias (de excelente qualidade - que inveja, eu não consigo obtê-las este nível!), os vídeos e, sobretudo, a vivência.

    Cumprimentos musicais

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  3. Nice shot! You must have a good camera.
    It's been a long time to see Susan Graham again.
    Domingo looks great in black. He was a very handsome man and he still is. It prove that the beauty doesn't wither as long as one remains active.

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  4. I just dropped in to say hello. Have a great weekend!

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  5. Caros autores, boa tarde. Peço licença para comunicar um trabalho que pode ser interessante aqui também. Trata-se de “Nixon na China” (de John Adams), transmitida do Met Opera NY para as telas do Brasil, inclusive, no dia 12 de Fevereiro (às 16h), exclusivamente nos cinemas.
    ___
    “Produção criada originalmente para a English National Opera, 'Nixon na China' estreou em 1987 em Houston, e leva para o palco o encontro entre o presidente norte-americano e Mao Tsé-Tung, na China Comunista, em 1972 – um evento verdadeiramente mitológico na história moderna.”

    Acredito que muitos leitores irão apreciar esta notícia. Caso queiram entrar em contato comigo para esclarecer quaisquer dúvidas, meu e-mail é socialmedia@mobz.com.br

    Abraços,
    Rafael Queres – LiveMOBZ

    http://www.mobz.com.br
    http://www.youtube.com/watch?v=aCvzGsyjP-I

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