quarta-feira, 30 de março de 2011

ROMÉO ET JULIETTE – METropolitan OPERA, Nova Iorque, Março de 2011


(review in English below)

Roméo et Juliette de Charles Gounod é uma ópera (com prólogo e cinco actos) com libretto de Jules Barbier e Michael Carré, baseada na obra homónima de William Shakespeare.


A história, passada em Verona, é bem conhecida. Capulet (Capuleto) dá um baile de máscaras para apresentar a sua filha Juliette (Julieta). Roméo (Romeu), um Montaigue (Montequio), aparece com o amigo Mercutio, apaixona-se e corteja Julieta. Tybalt, seu primo, denuncia a identidade de Romeu mas Capuleto evita um confronto. À noite, Romeu entra no jardim dos Capuleto e, por baixo da varanda de Julieta, declara-lhe o seu amor. O padre Laurent casa-os em segredo, achando que esta será uma forma de por fim aos conflitos familiares. Contudo, membros das duas famílias encontram-se, lutam e Tybalt mata Mercutio que, depois, é morto por Romeu. O Duque de Verona condena-o ao exílio. Após passarem a noite de núpcias juntos, Romeu parte. Julieta é informada pelo pai que vai casar-se com o conde Paris. Pede ajuda ao padre Laurent que lhe dá uma poção que a fará parecer morta mas acordará no dia seguinte. Vestida de noiva, antes do casamento, desfalece e é dada como morta. Romeu chega à cripta dos Capuleto e, não tendo recebido a informação sobre a situação, crê que Julieta está morta e envenena-se. Julieta acorda e trocam palavras de amor, planeando o futuro. Quando ela sabe que Romeu está a morrer envenenado, apunhala-se mortalmente.


Tive a primeira surpresa logo que cheguei ao Met. Angela Gheorghiu havia cancelado a sua presença na véspera da primeira récita, aquela a que assisti.

Já referi neste blogue aqui  e aqui que gosto particularmente da voz da Gheorghiu. Contudo, não posso deixar de voltar a salientar a total falta de respeito da cantora pelo público, dado que são mais os espectáculos que cancela, quase sempre por “doença”, (talvez cancelite?) do que os que canta. Nesta ópera, a desculpa foi de um ridículo atroz, pois alegou que havia sido envenenada (qual Julieta frágil, desprotegida e apaixonada!). Esta postura de prima donna, se foi uma prática de grandes divas da ópera na segunda metade do século passado, está totalmente desajustada aos dias de hoje.


Peter Gelb, director do Met, resolveu despedi-la na próxima temporada, onde interpretaria o papel de Marguerite numa nova produção do Faust de Gounod que, pelos cantores anunciados, se antecipa ser excelente. Infelizmente a substituta não está ao nível, mas não é disso que trata este texto.

Confesso que aplaudo a decisão de Peter Gelb e sou dos que acha que, se a Royal Opera House fizesse o mesmo, ela ou outras(os) com apetência para este comportamento talvez pensem duas vezes antes de o concretizar.

Voltando a esta produção, a encenação de Guy Joosten é sóbria, sem encantar e, aqui e ali, um pouco kitsch. Por exemplo a solução encontrada para a noite de núpcias, no início do 4º acto, que é talvez o momento cénico mais marcante, com o casal na cama, a descer das alturas. A idade dos cantores, sobretudo da Julieta, também não ajudou nada.
É a imagem que ilustra o cartaz do Met alusivo à ópera.

(Photography by Sara Krulwich/The New York Times)

Plácido Domingo foi banal na direcção da orquestra. Houve entradas desfasadas dos cantores e, por vezes, também de instrumentistas. Apesar do meu enorme respeito por este vulto maior da ópera, não compreendo por que razão Domingo insiste na direcção de orquestra. Não fora quem é e penso que nunca estaria à frente da orquestra do Met



(Photography by Sara Krulwich/The New York Times)


Roméo foi interpretado por Piotr Beczala, tenor polaco, que tem uma das vozes líricas que mais aprecio de entre os cantores da actualidade. Entrega-se sem reservas aos papéis que interpreta e o resultado é sempre de elevada dignidade e credibilidade. A voz é limpa, encorpada e colorida e o timbre muito agradável. Nesta récita, no final do 3º acto, ao abordar uma nota aguda, falhou rotundamente. Contudo, recompôs-se e foi brilhante até ao final.

Devo admitir que, sempre que assisto a um destes acidentes vocais com os cantores, não consigo deixar de ficar na expectativa que se venha a repetir, o que quebra a concentração mas, comigo, confesso que é inevitável.

Quem substituiu a Gheorghiu no papel de Juliette foi o soprano lírico sul coreano Hei-Kyung Hong, Nunca a tinha ouvido ao vivo. Começou mal, com notas desafinadas e potência irregular, mas após o 2º acto esteve sempre muito bem. A cantora é digna de elogio porque teve que assumir o papel em circunstâncias difíceis, um dia após a outra ter decidido que não cantaria. Os agudos saem-lhe a custo e, apesar de já não ter a frescura vocal de outrora, foi muito digna a sua interpretação.Passados os momentos iniciais de apuro, foi convincente, sobretudo nos duetos com Beczala.





Nos papeis secundários Dwayne Croft, barítono americano, foi um Capulet que se impôs em qualidade, Sean Panikkar, tenor americano, foi um Tybald regular, Lucas Meachem, barítono americano, foi um Mercutio de belo timbre mas presença banal em palco e James Morris, baixo americano, fez um padre Laurent digno mas já com a voz desgastada e sem a força e profundidade que outrora teve.





Em conclusão, um bom espectáculo, mas a saber a pouco, sem a grandiosidade nem a magia que sempre esperamos.
***




ROMEO ET JULIETTE - Metropolitan Opera, New York, March 2011

Roméo et Juliette by Charles Gounod is an opera (with a prologue and five acts) with libretto by Jules Barbier and Michael Carré, based on the homonymous work of William Shakespeare.

The story, set in Verona, is well known. Capulet gives a masquerade ball to present his daughter Juliet. Romeo, a Montaigue, appears with his friend Mercutio, and falls in love with Juliet. Tybalt, her cousin, reveals the identity of Romeo but Capulet avoids a confrontation. At night, Romeo enters the Capulet garden and beneath Juliet's balcony he declares his love to her. Father Laurent marry them in secret, convinced that this is a way to put an end to family conflicts. However, members of two families meet, fight and Tybalt kills Mercutio, which then is killed by Romeo. The Duke of Verona condemns him to exile. After their secret wedding night, Romeo leaves for exile. Juliet is informed by her father that she will marry Count Paris. She seeks help from Father Laurent that gives her a potion that will make her appear dead but wake up the next day. Wearing the wedding dress, when she is about to go to the chapel, she collapses and is presumed dead. Romeo arrives at the Capulets’crypt, and having received no information about the situation, believes that Juliet is dead and poisons himself. Juliet wakes up and exchange words of love with him, planning the future. When she realises Romeo is dying, she stabs herself.

I had the first surprise when I first arrived at the Met. Angela Gheorghiu had cancelled her presence on the day before the first night presentation, the one I attended.
I mentioned before in this blog here and here that I particularly like the voice of Gheorghiu. However, I must re-emphasize the singer’s the total lack of respect for the public, since there are more performances that she cancels than those where she actually sings. The excuse is almost always "illness" (perhaps cancelitis?). In this opera, a ridiculous excuse was atrocious, she alleged that she had been poisoned  (poor fragile and helpless Juliet!). This behaviour of prima donna, if it was a practice of great opera divas in the second half of last century, is totally inappropriate at present times.

Peter Gelb, the Met's general manager, decided to fire her next season, where she would sing the role of Marguerite in a new production of Gounod's Faust that is anticipated to be excellent, considering the singers announced.
Unfortunately her substitute is not at the level of the other soloists, but that is not the subject of this text.

I confess that I applaud the decision of Peter Gelb and I think that if the Royal Opera House would do the same, she (or others) with a similar behaviour may think twice before actually doing it.

Returning to this production, the stageing by Guy Joosten is sober, without charm, and here and there, a little kitsch. For example the solution adopted for the wedding night, at the beginning of the 4th act, which is perhaps the most striking scenic moment, with the couple in bed, descending from the heights. Also the age of the singers, especially of Juliet, has not helped the scene.
It is this image that illustrates the poster alluding to the opera at the Met.

 Placido Domingo, who conducted the orchestra, did a regular job. There were staggered entrances of the singers and sometimes also of instrumentalists. Despite my enormous respect for this major figure of the opera, I do not understand why he insists on being a conductor. If he was not Domingo, I think he would never be allowed to conduct the Met orchestra

Roméo was played Polish tenor Piotr Beczala. He has one of the lyrical voices I most appreciate among the singers that perform in present times. He gives himself unreservedly to the roles that he interprets and the result is always of high dignity and credibility. The voice is clean, full bodied and very nice in colour and timbre. In this performance, at the end of the 3rd act, when trying a top note, has cracked. However, he recovered and was brilliant until the end.

I admit that whenever I watch one of these vocal accidents with singers, I can not forget it immediately and fear a repetition, which breaks the concentration, but, I confess, with me it is inevitable.
Gheorghiu was replaced in the role of Juliette by the South Korean lyric soprano Hei-Kyung Hong. I had never heard her live. Her beginning was bad, with notes out of tune and uneven power, but after the 1st act she was always very good. The singer is worthy of praise because she had to assume the role in difficult circumstances, only one day after the other has decided not to sing. The top notes were forced and although without the vocal freshness of before she gave us a dignified performance and she was convincing, especially in duets with Beczala.

In secondary roles American baritone Dwayne Croft, was Capulet, singing with a high quality, American tenor Sean Panikkar, was a regular Tybald, American baritone Lucas Meachem was Mercutio with a beautiful voice but a weak artistic performance and American Bass James Morris was an interesting Father Laurent despite his voice has no longer the strength and depth of before.

In conclusion, a good performance, but without the grandeur or the magic that we always expect to feel.
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sexta-feira, 25 de março de 2011

PARSIFAL - English National Opera - 12 Março 2011



(review in english below)

No passado dia 12 de Março, ao mesmo tempo que, em Barcelona, se podia assistir à última récita da espectacular produção do Parsifal de Claus Guth, em Londres, no Coliseu, assistia-se também à última récita da talvez melhor produção de Parsifal dos últimos anos.

Já imortalizada em DVD do Festival de Baden-Baden, e tendo sido a última produção de Parsifal vista no Liceu de Barcelona em 2005, a encenação de Nikolaus Lehnhoff tem a capacidade de nos transportar para um mundo paralelo, onde a pureza dominante da cor branca nos leva além do teatro de ópera.



Em muito difere da encenação de Guth. Aqui, o Graal é uma forte luz,



Titurel é personificado como esqueleto,



as mulheres flor são literalmente flores,



o castelo de Klingsor é metaforizado num esqueleto da bacia humana (alusão à castidade),



a apresentação de Amfortas como um louco...



Consegue-se uma unidade de acção ímpar e, embora não tão inovadora como a encenação de Barcelona, faz com que toda a espectacularidade da última ópera de Wagner se entranhe na nossa alma.

Na English National Opera, no Coliseu de Londres, para quem desconhece, as óperas são traduzidas para inglês qualquer que seja o seu idioma de base. A curiosidade, aliada ao receio, trouxeram-me a esta récita. Habituado a ouvir o Parsifal desde há muitos anos em alemão, e quase sabendo de cor tudo o que se diz em cada fala, devo dizer que não fiquei minimamente incomodado com esta versão em inglês, a qual me pareceu de excelente qualidade. Para mim, embora admita que não a domine completamente, a língua inglesa é uma língua mais intrínseca do que o alemão. Ao poder ver a ópera e perceber totalmente cada uma das palavras cantadas, facilitou ainda mais esse “entranhar parsifaliano”.

Stuart Skelton foi Parsifal. Com excelentes provas dadas no passado, como Peter Grimes, esteve à altura da aposta feita pela ENO. Este cantor emana Parsifal por todos os poros. A voz é de timbre lindíssimo e capaz de acompanhar a transformação da personagem de tolo no início a iluminado no final.







John Tomlinson é um colosso cénico. A classe interpretativa é sublime. A sensação com que fiquei foi de que a voz, como actualmente se encontra, de certo modo beneficiou da tradução inglesa, permitindo disfarçar os défices nos agudos já conhecidos. A par com Matti Salminen, o qual nunca ouvi infelizmente ao vivo no papel, é talvez um dos melhores Gurnemanz dos últimos tempos.





Iain Paterson, em clara ascensão de carreira, e com muita razão, personificou um Amfortas excelente, quer do ponto de vista vocal quer cénico.



Jane Dutton, em substituição da mais forte wagneriana Irene Theorin, cumpriu como Kundry, oferecendo um 2º acto cenicamente muito credível. A voz é bonita mas longe de outras grandes vozes que viveram e ainda vivem este papel em palco.







Tom Fox é o único elo vocal que se pode ligar à produção existente em DVD e esteve imponente como Klingsor.

Andrew Greenan esteve bem como Titurel embora, depois de ouvir Ante Jerkunica, não acredite que alguém o faça melhor que este.

A orquestra produziu do melhor som que já ouvi em Wagner com a direcção particulamente emotiva de Mark Wigglesworth.



A comparação é inevitável mas posso dizer que este Parsifal não ficou atrás do Parsifal do Liceu de Barcelona. Dois grandes momentos wagnerianos desta Temporada!




PARSIFAL - English National Opera - 12 March 2011


On the past 12th March, while in Barcelona, ​​you could watch the last performance of the spectacular production of Parsifal by Claus Guth, in London at the Coliseum, it was also on stage the last performance of perhaps the best production of Parsifal in recent years.


Already immortalized on DVD at Festival Baden-Baden, and last seen in at the Liceu in Barcelona in 2005, this Parsifal staged by Nikolaus Lehnhoff has the ability to transport us into a parallel world where the purity of the dominant white colour takes us beyond the opera house.




Very different from the scenario of Guth. Here the Grail is a strong light,




Titurel is personified as a skeleton,



the Flowermaidens are literally flowers,



the castle of Klingsor is metaphorized in a human skeleton hip (reference to chastity),



Amfortas is presented as a madman...




It can give us a unic unity of action, while not as innovative as the staging of Barcelona, ​​making the whole spectacle of Wagner’s the final opera become ingrained in our soul.

At the English National Opera, London Coliseum, for those unaware, the operas are translated into English whatever their base language. Curiosity, coupled with fear, brought me to this performance. Accustomed to hear Parsifal in Germany for many years, and almost knowing all the lines, I must say I was not minimally disturbed by this English version, which seemed excellent. For me, though I admit I do not completely dominate the English language, it is more intrinsic in me than the German one. To see the opera and fully understand every word sung, has given me a different perspective of the work.


Stuart Skelton was Parsifal. With excellent reviews on his Peter Grimes, he was a won bet of the ENO. This singer Parsifal emanates from every pore. The voice is beautiful and able to follow the transformation of the character from the fool at the beggining to the enlightened of the end.








John Tomlinson is cenically gigantic. His classy interpretation is sublime. The feeling I got was that the voice, as currently is in, some way benefited from the English translation, allowing to mask the lack of clear higher pitch notes. Along with Matti Salminen, which unfortunately I never heard live on this role, is perhaps one of the best Gurnemanz of recent times.






Iain Paterson, in an uprising carrer, embodied an excellent Amfortas, while singing and also as acting.




Jane Dutton, replacing the strongest Wagnerian Iréne Theorin, sang Kundry, offering a very credible Act 2. The voice is beautiful but far from other great voices who lived and still live this role on stage.








Tom Fox is the only vocal link to the existing DVD production and was impressive as Klingsor.


Andrew Greenan was a good Titurel but I do not believe that someone would ever do this role as great as Ante Jerkunica.

The orchestra produced some of the best sound I ever heard in Wagner with the particularly emotive direction of Mark Wigglesworth.




The comparison is inevitable but I can say that this Parsifal was not inferior to the Parsifal at the Liceu Barcelona. Two great Wagnerian moments of this season!

terça-feira, 22 de março de 2011

BANKSTERS – Teatro Nacional de São Carlos – 20 Março 2011


(review in english below)

"A ópera Banksters, de Nuno Côrte-Real, em estreia absoluto no TNSC este mês, é uma tragicomédia lírica em 3 actos com libreto de Vasco Graça Moura inspirado na peça Jacob e o Anjo de José Régio.
Burlesca, satírica e irónica, é uma ópera sobre a vida e a morte: a morte de quem, em vida, se afastou fatalmente de si próprio, e a vida de quem, na morte, encontra a luz de uma paz nunca sentida. O herói, um banqueiro de nome Santiago Malpago, é visitado por uma estranha personagem, qual anjo ou demónio, cuja única missão é levar o grande senhor da finança à desgraça e desespero totais, abandonado, preso e humilhado por todos os que ainda antes lhe obedeciam e idolatravam. A estranha personagem, que surge disfarçada de jornalista conseguindo assim o acesso aos mais improváveis lugares e situações, responde pelo satírico nome de Angelino Rigoletto, e qual emissário de natureza divina, tudo sabe, tudo vê e tudo sente, de modo a que a queda do banqueiro seja a mais terrível e fatal, mas tão só porque deseja a mais bela e transcendente redenção para o herói deste burlesco engodo. A mulher do banqueiro, senhora da mais alta elegância, educação e hipocrisia, de nome Mimi Kitsch, fêmea de uma ambição desmedida e cruel, notável amante, é a grande orquestradora da queda do marido." (resumo retirado do programa do TNSC)

A obra é, do ponto de vista musical, de uma qualidade superlativa. Não sendo muito apreciador de música contemporânea ao não me identificar com a sonoridade que dela emana, oiço a música de Côrte-Real com prazer e sentido. Para os mais cépticos, encontrarão na variação sobre o tema da ária “La Donna è mobile” da ópera Rigoletto de Giuseppe Verdi, um escape momentâneo.

A encenação de João Botelho é de excelente bom gosto e bastante eficaz ao que se pretende transmitir, podendo ser classificada de clássica: escritório do banqueiro com secretária, sofá, mesa de apoio.



Em jogo de sombras temos o fundo do palco, no primeiro acto, com trabalhadores escriturários; no segundo, uma disposição de vários pares de sapatos de salto alto, em cores arco-íricas, num acto onde domina o poder da personagem feminina, na pele da mulher do banqueiro.



Posso estar a manifestar profunda ignorância quando digo que, literariamente, o libreto, nas suas frases e expressões, é algo que se aproxima do ridículo e por vezes demasiado ordinário e calão. Nomes como “merda”, “puta”, “cabrão”, “porrada”, “chiça”, “cão” passeiam-se pela obra. Expressões que, por vezes, procuram satirizar o sistema financeiro saem com pouco sentido de humor. Pasmei de ver que algumas pessoas riam na plateia. Resta saber se pela sátira ou se pelo ridículo.



No que diz respeito aos intérpretes, apenas Jorge Vaz de Carvalho, no papel de banqueiro, escapou à mediania, revelando ainda excelentes qualidades baritonais, a par de grande alma de actor.



Musa Nkuna (Angelino Rigoletto) tem voz pouco encorpada, com evidentes falhas de técnica na projecção vocal, por vezes com rudeza de timbre. Enalteço contudo, o facto de, sendo sul-africano (mas há algum tempo em Portugal...) ter conseguido cantar na língua lusa, embora com sotaque pouco credível e por vezes hilariante.



Sara Braga Simões, personificando a mulher do banqueiro, revelou um histerismo vocal incomodativo que só foi ultrapassado em qualidade negativa por Chelsey Schill que gritou a plenos pulmões em tudo o que cantou.

Tive pena que José Corvelo não tivesse um papel mais interventivo na ópera porque penso que a elevaria em qualidade vocal.

Os outros estiveram num nível aceitável, mas não sem impressionar.

Penso que, com as devidas alterações no libreto e com um elenco mais forte do ponto de vista vocal, esta obra, com esta encenação, tem elevada qualidade, até mesmo para sonhar com palcos maiores. Como está, a impressão que deixa é que funcionaria melhor como peça de teatro do que como ópera, porque foi clara a maior capacidade dramática dos cantores em relação à respectiva capacidade vocal.

Banksters pode ser visto ainda nos próximos dias 22, 24 e 26 às 20h. A julgar pela grande quantidade de lugares vagos neste domingo, será fácil a aquisição de bilhete...

(as fotos apresentadas foram retiradas do programa do TNSC)


Banksters - Teatro Nacional de Sao Carlos - March 20, 2011



"The Nuno Côrte-Real’s opera Banksters, in absolute debut this month at the TNSC, is a tragicomic opera in three acts with libretto by Vasco Graça Moura in part inspired on the José Regio’s play Jacob and the Angel.
Burlesque, satirical and ironic, it is an opera about life and death: the death of one whom in life, inevitably moved away from himself, and whose life finds in deaths the light of peace that has never felt. The hero, a banker named Santiago Malpago, is visited by a strange character, angel or demon, whose only mission is to bring the great lord of finance to total disgrace and despair, abandoned, arrested and humiliated by all that even before obeyed and worshiped him. The strange character, who comes disguised as a journalist so getting access to the most unlikely places and situations, accounts for the satirical name of Angelino Rigoletto, and as an emissary of the divine nature, knows all, sees all, and feels all, so that the fall of the banker is the most terrible and fatal, but only because he wants the most beautiful and transcendent redemption for the hero of this comic con. The banker's wife, lady of the highest elegance, education and hypocrisy, named Mimi Kitsch, a female of unchecked ambition and a relentless lover, is the great orchestrator of the fall of her husband." (synopsis as presented in the TNSC programme)

The work is, in terms of music, of superlative quality. Not being very fond of contemporary music not identifying myself with the sound that emanates from it, I listen to music Corte-Real with pleasure and meaning. For the skeptics, you can find a moment of escape at the variation of the theme of the aria "La Donna e mobile" from the opera Rigoletto by Giuseppe Verdi.

The staging by João Botelho is of excellent taste and very effective when it does convey, and may be classified as classical: banker's office with desk, sofa, coffee table.


In the first act we see shadows of bankers working on their desks; in the second act, an array of several pairs of high heels in rainbow colors - an act where the the power of the female character (banker’s wife) dominates.



I may be expressing profound ignorance when I say that, literally, the libretto, in its phrases and expressions, is something approaching the ridiculous and sometimes too ordinary and slang. Names like "shit", "bitch," "bastard," "ass" "damm", "dog" are several times mentioned. Expressions that sometimes seek to satirize the financial system come with little sense of humor. I was astonished to see that some people were laughing in the audience. The question is whether they were laughing of the satire or the its ridiculous sound.



Now, the performers:

Only Jorge Vaz de Carvalho, in the role of the banker, escaped mediocrity, revealing excellent qualities as a baritone, coupled with a great soul of an actor.



Musa Nkuna (Angelino Rigoletto) voice misses texture, with obvious technical flaws in vocal projection, sometimes with harshness of tone. Praise, however, that, being South African (but for some time in Portugal ...), he has managed to sing in the Lusitanian language, though with an unreliable and often hilarious accent.



Sara Braga Simões, embodying the banker's wife, revealed an annoying vocal hysteria that was only surpassed in negative quality by Chelsey Schill who shouted loudly in everything she sang.

I regret that Jose Corvelo had a minor role in the opera because I think it would have raised the vocal quality of the performance.

The others were at an acceptable level, but did not impress.

I think that, with appropriate changes in the language of the libretto and a stronger cast from the vocal standpoint, this work, with this scenario, has high quality, even to dream of bigger stages. As it stands, the impression conveyed is that it works better as a play than as an opera, because it was clear that the dramatic ability of the singers was far superior to thei overall vocal capacities.

Banksters can still be seen on the 22, 24 and 26 of March at 8pm. Judging by the large amount of vacant seats on Sunday, it will be easy to find a ticket ...

(all presented photos are from the TNSC programme)