sexta-feira, 25 de março de 2011

PARSIFAL - English National Opera - 12 Março 2011



(review in english below)

No passado dia 12 de Março, ao mesmo tempo que, em Barcelona, se podia assistir à última récita da espectacular produção do Parsifal de Claus Guth, em Londres, no Coliseu, assistia-se também à última récita da talvez melhor produção de Parsifal dos últimos anos.

Já imortalizada em DVD do Festival de Baden-Baden, e tendo sido a última produção de Parsifal vista no Liceu de Barcelona em 2005, a encenação de Nikolaus Lehnhoff tem a capacidade de nos transportar para um mundo paralelo, onde a pureza dominante da cor branca nos leva além do teatro de ópera.



Em muito difere da encenação de Guth. Aqui, o Graal é uma forte luz,



Titurel é personificado como esqueleto,



as mulheres flor são literalmente flores,



o castelo de Klingsor é metaforizado num esqueleto da bacia humana (alusão à castidade),



a apresentação de Amfortas como um louco...



Consegue-se uma unidade de acção ímpar e, embora não tão inovadora como a encenação de Barcelona, faz com que toda a espectacularidade da última ópera de Wagner se entranhe na nossa alma.

Na English National Opera, no Coliseu de Londres, para quem desconhece, as óperas são traduzidas para inglês qualquer que seja o seu idioma de base. A curiosidade, aliada ao receio, trouxeram-me a esta récita. Habituado a ouvir o Parsifal desde há muitos anos em alemão, e quase sabendo de cor tudo o que se diz em cada fala, devo dizer que não fiquei minimamente incomodado com esta versão em inglês, a qual me pareceu de excelente qualidade. Para mim, embora admita que não a domine completamente, a língua inglesa é uma língua mais intrínseca do que o alemão. Ao poder ver a ópera e perceber totalmente cada uma das palavras cantadas, facilitou ainda mais esse “entranhar parsifaliano”.

Stuart Skelton foi Parsifal. Com excelentes provas dadas no passado, como Peter Grimes, esteve à altura da aposta feita pela ENO. Este cantor emana Parsifal por todos os poros. A voz é de timbre lindíssimo e capaz de acompanhar a transformação da personagem de tolo no início a iluminado no final.







John Tomlinson é um colosso cénico. A classe interpretativa é sublime. A sensação com que fiquei foi de que a voz, como actualmente se encontra, de certo modo beneficiou da tradução inglesa, permitindo disfarçar os défices nos agudos já conhecidos. A par com Matti Salminen, o qual nunca ouvi infelizmente ao vivo no papel, é talvez um dos melhores Gurnemanz dos últimos tempos.





Iain Paterson, em clara ascensão de carreira, e com muita razão, personificou um Amfortas excelente, quer do ponto de vista vocal quer cénico.



Jane Dutton, em substituição da mais forte wagneriana Irene Theorin, cumpriu como Kundry, oferecendo um 2º acto cenicamente muito credível. A voz é bonita mas longe de outras grandes vozes que viveram e ainda vivem este papel em palco.







Tom Fox é o único elo vocal que se pode ligar à produção existente em DVD e esteve imponente como Klingsor.

Andrew Greenan esteve bem como Titurel embora, depois de ouvir Ante Jerkunica, não acredite que alguém o faça melhor que este.

A orquestra produziu do melhor som que já ouvi em Wagner com a direcção particulamente emotiva de Mark Wigglesworth.



A comparação é inevitável mas posso dizer que este Parsifal não ficou atrás do Parsifal do Liceu de Barcelona. Dois grandes momentos wagnerianos desta Temporada!




PARSIFAL - English National Opera - 12 March 2011


On the past 12th March, while in Barcelona, ​​you could watch the last performance of the spectacular production of Parsifal by Claus Guth, in London at the Coliseum, it was also on stage the last performance of perhaps the best production of Parsifal in recent years.


Already immortalized on DVD at Festival Baden-Baden, and last seen in at the Liceu in Barcelona in 2005, this Parsifal staged by Nikolaus Lehnhoff has the ability to transport us into a parallel world where the purity of the dominant white colour takes us beyond the opera house.




Very different from the scenario of Guth. Here the Grail is a strong light,




Titurel is personified as a skeleton,



the Flowermaidens are literally flowers,



the castle of Klingsor is metaphorized in a human skeleton hip (reference to chastity),



Amfortas is presented as a madman...




It can give us a unic unity of action, while not as innovative as the staging of Barcelona, ​​making the whole spectacle of Wagner’s the final opera become ingrained in our soul.

At the English National Opera, London Coliseum, for those unaware, the operas are translated into English whatever their base language. Curiosity, coupled with fear, brought me to this performance. Accustomed to hear Parsifal in Germany for many years, and almost knowing all the lines, I must say I was not minimally disturbed by this English version, which seemed excellent. For me, though I admit I do not completely dominate the English language, it is more intrinsic in me than the German one. To see the opera and fully understand every word sung, has given me a different perspective of the work.


Stuart Skelton was Parsifal. With excellent reviews on his Peter Grimes, he was a won bet of the ENO. This singer Parsifal emanates from every pore. The voice is beautiful and able to follow the transformation of the character from the fool at the beggining to the enlightened of the end.








John Tomlinson is cenically gigantic. His classy interpretation is sublime. The feeling I got was that the voice, as currently is in, some way benefited from the English translation, allowing to mask the lack of clear higher pitch notes. Along with Matti Salminen, which unfortunately I never heard live on this role, is perhaps one of the best Gurnemanz of recent times.






Iain Paterson, in an uprising carrer, embodied an excellent Amfortas, while singing and also as acting.




Jane Dutton, replacing the strongest Wagnerian Iréne Theorin, sang Kundry, offering a very credible Act 2. The voice is beautiful but far from other great voices who lived and still live this role on stage.








Tom Fox is the only vocal link to the existing DVD production and was impressive as Klingsor.


Andrew Greenan was a good Titurel but I do not believe that someone would ever do this role as great as Ante Jerkunica.

The orchestra produced some of the best sound I ever heard in Wagner with the particularly emotive direction of Mark Wigglesworth.




The comparison is inevitable but I can say that this Parsifal was not inferior to the Parsifal at the Liceu Barcelona. Two great Wagnerian moments of this season!

4 comentários:

  1. Caro wagner_fanatic,

    Obrigado por mais este relato tão bem ilustrado, embora menos emotivo do que o referente ao Parsifal de Barcelona, que também tive o privilégio de assistir e que me marcou profundamente.
    Nunca passei pela experiência de ouvir esta ópera em inglês, mas devo confessar que a ideia não me é nada simpática. Acho que as óperas devem ser cantadas nos idiomas em que foram escritas.
    Acresce que, pessoalmente, não acho que a língua inglesa seja particularmente moldada para a ópera (talvez por haver relativamente poucas óperas de difusão alargada nesta língua, depois de Purcell, até ao ao século XX).
    Mas, depois de ler esta apreciação, se tivesse oportunidade de ver, talvez arriscasse...

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  2. What a staging! Fanciful! Especially Titurel looks just great. Many applause for the staging team.

    I've never heard Wagner in English, but I can imagine that it wouldn't disturb me, either. German and Englisch belong to the same language groupe. For example, "Öffnet die Tür!" "Open the door!"
    To me, Italian or french operas in German sounds terrible.

    I should provide the same camera as yours, otherwise I'd die for jealousy! Ha,ha..
    You take the best pictures.

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  3. In the programme interview with John Tomlinson, the bass says that English is probably the best language to sing :)

    I have never heard a translation from Italian to German but I believe they do that, for example, in Berlin at the Komische Oper, which is the equivalent to the ENO. In one of my past trips to Berlin I almost went to see La Bohème just to have a look on how it would sound but I gave up...

    I managed to take some photos at the curtain call but it is difficult because the ENO personel does not allow it... That is why the Skelton one is blurred... The staging photos are not mine...

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  4. Even in esperanto,with Wagner's music,its o.k.for my!!
    Greetings,Willy

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