quinta-feira, 30 de junho de 2011

FIDELIO, Royal Opera, Londres, Abril de 2011



 (review in English below)

Fidelio é a única ópera escrita por Ludwig van Beethoven, com libretto de Joseph Sonnleithner, Stephan von Breuning e Georg Friedrich Treitschke, segundo o libretto do francês Jean-Nicolas Bouilly Léonore ou l’amour conjugal. É uma peça musical notável, em consonância com a obra deste grande vulto da música clássica.

 (o amor verdadeiro não tem medo)

Florestan está preso na cave de uma prisão e a sua mulher, Leonore, disfarça-se de homem, Fidelio, para trabalhar na prisão e assim poder chegar ao marido. Conquista a confiança do responsável pelo presídio, Rocco que até lhe oferece a filha Marzelline em casamento (que se havia apaixonado por “ele”). Sabe que há um preso que está enclausurado numa cave inacessível e Dom Pizarro, o governador militar da prisão, pretende que se escave uma sepultura e nela se enterre esse preso depois de morto. Fidelio consegue acompanhar Rocco e reconhece o marido. Quando Don Pizarro aparece e pretende matar Florestan, Leonore revela a sua identidade e ameaça matá-lo também. Um Ministro visita a prisão, manda libertar todos os presos políticos e fica surpreendido por encontrar o amigo Florestan preso. A atitude de Leonore é enaltecida por todos excepto Marzelline, Don Pizzaro é preso e a ópera termina com um hino à liberdade.

A encenação, de Jürgen Flimm é interessante mas com algumas perplexidades. A acção passa-se nos nossos dias. No primeiro acto vêem-se lateralmente várias celas prisionais em três andares. No centro do palco há vários adereços, entre os quais uma mesa e cadeiras onde é oferecida uma refeição, da qual Fidelio retira o pão que, posteriormente, irá dar a Florestan. Quando decidem deixar os presos saírem para o pátio, o palco enche-se de personagens vestidos de branco imaculado, o que me pareceu desapropriado para um ambiente prisional. Alguma sujidade ficaria bem ali.
No 2º acto, a cela onde está Florestan está apropriadamente numa escuridão quase total e com acesso difícil. Contudo, ocupa o palco quase todo, o que lhe dá uma extensão excessiva para o que seria esperado. Na cena final, subitamente, todos festejam no palco, prisioneiros libertados e suas famílias, já à luz do dia, havendo apenas uma estátua atrás. É aqui outro grande momento do coro que assume o local principal em cena.



A direcção musical foi do britânico Mark Elder. Cumpriu sem impressionar, mas ofereceu-nos uma interpretação sóbria e correcta. A Orquestra esteve muito bem e o Coro da Royal Opera House foi fantástico, como seria de esperar numa ópera como esta em que as partes corais são componentes principais.

Fifelio / Leonore foi interpretado pelo soprano sueco Nina Stemme. A cantora é detentora de uma voz fabulosa que muito me tem impressionado nos papéis wagnerianos em que a tenho ouvido. Beleza de timbre, potência e musicalidade são características vocais que sempre revela. Aqui, manteve o seu habitual nível de excelência e foi uma das melhores da noite. Conseguiu transmitir, ao longo da récita, os diversos estados de alma pelos quais a personagem passa. Cenicamente foi também muito credível nomo Fidelio, com grande agilidade nos movimentos.
Já escrevemos sobre ela aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. É um privilégio poder assistir às actuações de Nina Stemme.



Rocco foi interpretado pelo baixo austríaco Kurt Rydl. Foi outro grande artista em palco,  tanto cénica como vocalmente. A voz é bonita, encorpada e ágil. Transmitiu com notável facilidade as diferentes situações vividas pela personagem.



John Wegner, barítono alemão, foi um Don Pizarro interessante e credível como o vilão da história. Vocalmente esteve bem, apesar de não ter atingido a qualidade dos cantores que referi anteriormente, dado que a voz revelou menor agilidade e potência mas, ainda assim, muito bem.

Marzelline foi interpretada pelo soprano britânico Elizabeth Watts e foi uma agradável surpresa. Foi uma excelente actriz e a voz era fresca, limpa, bem audível e versátil.



O elo mais fraco foi o tenor alemão Endrik Wottrich que cantou o Florestan. Começou com enorme força mas o que parecia prometer uma boa interpretação não se confirmou. Apesar de o papel ser relativamente curto, teve uma emissão muito irregular, com desafinações ocasionais e um enorme esforço para emitir as notas mais agudas que saem agrestes e sem qualidade. Os duetos com Nina Stemme foram impiedosos porque sempre que cantavam juntos, o dueto passava imediatamente a monólogo. Foi pena porque destoou qualitativamente do resto do elenco. No último Fidelio que vi ao vivo, Florestan foi interpretado por Jonas Kaufmann. A diferença foi colossal!



Apesar de Wottrich, foi mais um espectáculo de qualidade superior na Royal Opera House.







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Fidelio, Royal Opera, London, April 2011 

Fidelio is the only opera written by Ludwig van Beethoven, libretto by Joseph Sonnleithner, Stephan von Breuning and Georg Friedrich Treitschke, according to the libretto of Frenchman Jean-Nicolas Bouilly Léonore or l'amour conjugal. It is a remarkable piece of music, in line with the work of this great figure of classical music.
Florestan is imprisoned in the basement of a prison and his wife Leonore disguises herself as a man, Fidelio, to work in the prison and be able to reach her husband. She achieves the confidence of the responsible for the prison, Rocco, who offers him her daughter Marzelline in marriage (which was in love for "him"). She knows there's a prisoner in a cellar that is enclosed and inaccessible and Don Pizarro, the military governor of the prison, wants a grave to dig for the prisoner, after being arrested and killed. Fidelio follows Rocco and recognizes her husband. When Don Pizarro appears and wants to kill Florestan, Leonore reveals her identity and threatens to kill him too. A Minister visits the prison, orderes to free all political prisoners, and is surprised to find his friend Florestan imprisoned. Leonore's attitude is admired by all except Marzelline, Don Pizzaro is arrested and the opera ends with a hymn to freedom.
The staging by Jürgen Flimm is interesting but with some perplexities. The action is set in present days. In the first act we see laterally several prison cells on three levels. At center of the stage there are several objects, including a table and chairs where a meal is offered. Fidelio hides the bread that will later give Florestan. When they decide to let the prisoners out into the yard, the stage is filled with characters dressed in immaculate white, which seemed inappropriate for a prison environment. Some dirt would be fine there. 
In Act 2, the cell where Florestan is arrested is properly in almost total darkness and with difficult access. However, it occupies the stage almost throughout, giving it an excessive extent for what would be expected. In the final scene, suddenly, everyone is partying on stage, released prisoners and their families, at the light of day, with only a statue backstage. Here's another great moment of the choir that takes the main place on stage.
The musical direction was from Sir Mark Elder. He did it without impressing, but offered us a sober and correct interpretation. The Orchestra was very good and the Choir of the Royal Opera House was fantastic, as you would expect in an opera like this where the choral parts are major components.
Fifelio / Leonore was interpreted by the Swedish soprano Nina Stemme. The singer holds a fabulous voice that has impressed me in Wagnerian roles in which I have heard her. Beauty of tone, power and musicality are vocal characteristics that she always shows. Here, she maintained her usual level of excellence and was one of the best of the night. She could show, along the performance, the various moods through which the character lives. Artistically she was also very credible as Fidelio, with great agility movements in scene.
We have written about her here, here, here, here and here. It is a privilege to attend performances by Nina Stemme.
Rocco was interpreted by Austrian bass Kurt Rydl. He was another great artist on stage, both vocally and artistically. The voice is beautiful, full bodied and agile. He transmitted with remarkable ease the different situations experienced by the character.
John Wegner, German baritone, was Don Pizarro, an interesting and credible as the villain of the story. Vocally he was well, despite not reaching the quality of the singers I mentioned earlier, since the voice has lower agility and power, but still very good.

Marzelline was interpreted by the British soprano Elizabeth Watts and she was a pleasant surprise. She was an excellent actress and the voice was fresh, clean, loud and versatile.
The weakest link was the German tenor Endrik Wottrich who sang Florestan. He started with great strength but what seemed to promise a good interpretation was not confirmed. Although the paper is relatively short, he had issued a very irregular voice, with occasional discords and a huge effort to deliver the high notes without leaving harsh and quality. The duets with Nina Stemme were painful because when they sang together, the duet immediately turned into a monologue. This was a pity because he was clearly weaker when compared qualitatively with the rest of the cast. Last time II saw Fidelio live, Florestan was sung by Jonas Kaufmann. The difference was huge!

Despite Wottrich, this was another performance of superior quality at the Royal Opera House.

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segunda-feira, 27 de junho de 2011

MAHLER- 4ª Sinfonia "La Vita Celeste" – Teatro alla Scala, Milão, Maio de 2011

(text in English below)

A minha curta permanência em Milão foi cheia de surpresas musicais. Contava ver duas óperas, o que aconteceu, mas tive mais dois espectáculos inesperados. Um deles foi o que aqui dou nota.


 No Ridotto dei Palchi “Arturo Toscanini”, o Foyer do Scala, pude assistir à 4ª Sinfonia em sol maior La Vitta Celeste de Gustav Mahler, para soprano e orquestra de câmara, interpretada pelo “Ensemble da Camera dell’Accademia del Teatro alla Scala” e pelo soprano Susanne Braunsteffer.


 Por 5 Euros foi fácil adquirir um bilhete, no próprio dia em que, num ambiente mais intimista, nos foi proporcionada a audição desta bela peça, em que o público estava sentado a escassos metros da orquestra, toda constituída por jovens instrumentistas, sob a direcção de Renato Rivolta.


No último andamento coube ao jovem soprano alemão Susanne Braunsteffer interpretar a parte cantada. Fiquei muito bem impressionado com a qualidade da sua voz, fresca, límpida e muito expressiva, revelando uma boa técnica, com projecção sonora quando necessário e sempre sem esforço aparente. Recordo, contudo, a pequena dimensão da sala.



 No final os músicos dispuseram-se a falar com o público de forma informal, o que não deixou de ser outra situação muito agradável.


Um presente inesperado do Scala.

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MAHLER - 4th Symphony La Vita Celeste - Teatro alla Scala, Milan, May 2011

My short stay in Milan was full of musical surprises. I was planning to see two operas, what I did, but I had  two more unexpected musical experiences. One was what I note here.

In Ridotto dei Palchi "Arturo Toscanini", the Foyer of the Scala, I listened to the 4th Symphony in G major "La Vitta Celeste" by Gustav Mahler, for soprano and chamber orchestra, performed by "Ensemble dell'Accademia del Teatro alla
Scala "and the soprano Susanne Braunsteffer.

For 5 Euros it was easy to get a ticket on the day. In a more intimate environment, we could hear this beautiful piece, in which the audience sat a few meters from the orchestra, composed of young instrumentalists under the direction Renato Rivolta.

The final part was also sang by young German soprano Susanne Braunsteffer. I was very impressed with the quality of her voice. It was fresh, bright and very expressive. The singer showed a good technique, sound projection when necessary and always without apparent effort.

In the end the musicians were willing to talk to the public in an informal manner, which was another pleasant situation.

An unexpected gift from la Scala.
 
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quinta-feira, 23 de junho de 2011

LES HUGUENOTS – La Monnaie, Bruxelas, Junho 2011

(review in English below)


Les Huguenots é uma ópera de Giacomo Meyerbeer com libretto de Eugène Scribe e Émile Deschamps.


É um retrato histórico do fanatismo religioso em França em 1572 quando, na noite de São Bartolomeu (24 de Agosto), foram assassinados cerca de 3000 protestantes (huguenotes) pelos católicos em Paris. Neste contexto, decorre a história de amor trágico entre o protestante Raoul e a católica Valentine.


O rei Carlos IX quer por termo às guerras religiosas em França. O Conde de Nevers, católico, dá uma festa em que é convidado e bem recebido um protestante, Raoul de Nangis. Este conta que se apaixonou por uma bela mulher que salvara das mãos de um grupo de estudantes inoportunos. Marcel, um discípulo de Raoul, canta uma canção huguenote e recusa juntar-se à festa. Uma mulher (a que Raoul salvara) vem romper o noivado com Nevers. Chega um pajem, Urbain, com uma carta para Raoul. Todos (excepto Raul) reconhecem o brasão da rainha Marguerite de Valois. A rainha quer casar Valentine com Raoul, aproximando católicos de protestantes, mas esta diz que o seu pai, o conde de Saint-Bris, se opõe. Raoul, ao reconhecê-la como a antiga noiva de Nevers, recusa-a e insulta os católicos. Nevers casa com Valentine. Marcel informa Saint-Bris que Raoul pretende um duelo. Saint-Bris decide fazer-lhe uma emboscada.. Valentine, escondida por um véu, avisa Marcel. A rainha exige saber o que se passa e quando Valentine levanta o véu, todos ficam surpresos. Saint-Bris diz a Raoul que a filha está já casada com Nevers. Valentine lamenta o seu destino mas aparece Raoul e confessam o seu amor. Raoul ouve os planos de Saint-Bris para matar os protestantes e vai avisá-los, recusando fugir com Valentine. Nevers é assassinado. Os huguenotes estão com a Rainha quando Raoul os informa do massacre. Valentine surge e promete protecção a Raoul se ele se converter ao catolicismo, mas recusa. Então ela aceita tornar-se protestante e são casados por Marcel. Os católicos assassinam os protestantes. Saint-Bris, ao ver uma mulher com dois homens feridos, pede que se identifiquem e verifica que a sua própria filha foi atingida mortalmente. A rainha tenta travar a matança mas o banho de sangue prossegue até de manhã.

O teatro La Monnaie parecia estar em remodelação profunda, de tal forma que até havia placas a indicar onde era a ópera, mas as obras eram apenas no exterior.




A encenação, fantástica, foi de Olivier Py. A acção foi transposta para um período intemporal. Os trajos das personagens principais tanto são da época como modernos, as casas representadas em construções metálicas são mais actuais e os massacres são feitos com metralhadoras. O palco tem uma mobilidade muito interessante e inovadora, as mudanças de cena são frequentes e bem conseguidas.


Logo na abertura aparece um bailarino empunhando uma grande cruz, que rapidamente se separa em duas, uma em cada mão, retratando de forma eficaz a temática da ópera. As curzes virão a ser usadas com grande eficácia ao longo da récita, ora simbolizando a cruz de Cristo, ora espadas, consoante a parte em que são pegadas.


Apesar de muito eficaz, a encenação não deixa de ter algumas bizarrias. No primeiro acto, o bacanal entre os homens no castelo do conde de Nevers leva-os a despirem-se quase completamente e a cenas homossexuais, irrelevantes e fora do contexto da ópera. O 2º acto abre com uma coreografia de um par integralmente nu, ele com um enorme par de chifres, que também não acrescenta nada à obra. E as cenas de nudez continuam, sobretudo quando as raparigas tomam banho no rio, mas aqui já de acordo com o enredo. No último acto a rainha aparece toda ensanguentada, como se tivesse participado no massacre. Enfim, são pormenores que se ultrapassam dada a grande qualidade da encenação.




A direcção musical foi de Marc Minkowski. Estava situado numa posição privilegiada e foi um prazer apreciar a mestria com que dirigiu a obra. A Orquestra Sinfónica e os Coros do Teatra La Monnaie tiveram desempenhos excepcionais.


Chamo a atenção para os coros, que são primordiais nesta ópera, estando frequentemente em cena e representando estudantes, soldados, religiosos e populares.

A música de Meyerbeer é empolgante, cria atmosferas distintas ao longo da obra e tem grande força dramática.


O tenor americano John Osborn foi Raoul de Nangis. Não entrou bem mas quando aqueceu esteve sempre à altura do papel (e que papel!). A voz é de timbre agradável, claro, bem audível, as notas mais agudas surgem por vezes em esforço, mas nunca falhou. A interpretação é de elevada exigência, para além de a personagem estar quase sempre em cena. Cenicamente não esteve mal, mas ficou aquém das suas colegas.

A rainha Marguerite de Valois foi interpretada pelo soprano dinamarquês Henriette Bonde-Hansen. Teve um desempenho excepcional. A voz é lindíssima, redonda, potente, muito lírica e capaz de transmitir todas as emoções vividas pela personagem. De boa figura, a cantora esteve também irrepreensível cenicamente.


O soprano sueco Ingela Brimberg foi Valentine. Teve uma presença marcante. A voz de soprano dramático é de uma potência brutal e a cantora usou-a mais em força do que em jeito. Uma interpretação mais lírica teria sido mais adequada. Mas o impacto foi grande e revelou versatilidade na transmissão dos sentimentos que pretendeu imprimir à personagem. Outra cantora com uma excelente figura, o que ajudou muito na componente cénica.

Urbain, o pajem, foi o mezzo-soprano francês Blandine Staskiewicz . Apesar de um papel relativamente pequeno, foi outra interpretação superior, tanto vocal como cénica. A voz, bonita, era particularmente rica e encorpada no registo mais grave e, sempre que estava em cena, ouvia-se tanto sobre a orquestra como sobre o coro.


O Conde de Nevers foi o barítono canadiano Jean-François Lapointe. Esteve bem mas foi talvez o menos forte de entre os solistas. Tem uma boa figura, representou bem, mas a voz é menos versátil e, fazendo-se ouvir, não teve a pujança nem a harmonia dos outros cantores.

O barítono francês Phillipe Rouillon foi um Conde de Saint-Bris autoritário, com uma voz forte, versátil e expressiva.


Marcel foi o baixo francês François Lis. De todos os cantores principais foi o mais irregular, com períodos de voz bem timbrada e audível, alternando com outros em que se deixava facilmente abafar pela orquestra.


Inesperadamente, assisti a um dos melhores espectáculos da temporada, o que foi uma verdadeira surpresa, num teatro onde já vivi grandes dissabores no passado.

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Les Huguenots - La Monnaie, Brussels, June 2011

Les Huguenots is an opera by Giacomo Meyerbeer with libretto by Eugène Scribe and Emile Deschamps.

It is a historical picture of religious fanaticism in France in 1572 when, on the night of St. Bartholomew (August 24), about 3,000 protestants (Huguenots) were killed in Paris by catholics. In this context is the story of the tragic love between the protestant Raoul and the catholic Valentine.

King Charles IX wants an end to religious wars in France. The Count of Nevers, a catholic, gives a party where Raoul, a protestant, is invited and welcomed. He says that he fell in love with a beautiful woman who he saved from the hands of a group of troublesome students. Marcel, a follower of Raoul, sings a Huguenot song and refuses to join the party. A woman (the one saved by Raoul) arrives and breaks the engagement to Nevers. There comes a page, Urbain, with a letter to Raoul. All (except Raoul) recognize the arms of Queen Marguerite de Valois. The Queen wants Valentine to marry Raoul, bringing peace between catholics and protestants, but she says that her father, the Comte de Saint-Bris, opposes. Raoul, recognizes her as the former fiancee of Nevers, and refuses her, insulting the catholics. Nevers marries Valentine. Marcel tells Saint-Bris that Raoul wants a duel. Saint-Bris plans an ambush. Valentine, hidden by a veil, warns Marcel. The Queen demands to know what is happening and when Valentine lifts the veil, everyone is surprised. Saint-Bris informs Raoul that her daughter is already married to Nevers. Valentine laments her fate, but Raoul appears and confesses his love. Raoul listens to the plans of Saint-Bris to kill the protestants and warns them, refusing to run away with Valentine. Nevers is killed. The huguenots are with the Queen when Raoul informs them of the massacre. Valentine appears and promises protection to Raoul if he converts to catholicism, but he refuses. So she agrees to become protestant and they are married by Marcel. Catholics murder protestants. Saint-Bris, seeing a woman with two men wounded, asks their identity and verifies that his own daughter was shot to death. The Queen tries to stop the killing but the bloodshed continues until morning.

The staging by Olivier Py was fantastic. The action occurred in a timeless period. The costumes of the main characters were both old fashioned and modern, the homes represented in metal buildings were more modern and massacres were made with machine guns. The stage had a very interesting and innovative mobility, the scene changes were frequent and well done.
Right in the opening a dancer appears holding a large cross, which quickly is separated into two, one in each hand, effectively portraying the theme of the opera. The crosses will be used with great visual impact throughout the performance, either symbolizing the cross of Christ, or swords, as they were handled by the singers.

Although very efficient, the staging is not devoid of some oddities. In the first act, the orgy of men in the castle of the Count of Nevers leads them to almost completely undress, and perform homosexual scenes, irrelevant and outside the context of this opera. The 2nd act opens with a choreography of a nude couple, him with huge horns, which also adds nothing to the work. And the nude scenes continue, especially when the girls go bathing in the river, but here it is according to the plot. In the last act the Queen appears all covered with blood, as if she had participated in the massacre. All are small details that can be easily surpassed by the excellent quality of the staging.

The musical direction was by Marc Minkowski. I was placed in a privileged position and it was a pleasure to appreciate the skill with which he directed the work. The Orchestra and Chorus of La Monnaie were exceptional.
I mention the choruses in particular because they are paramount in this opera, often on the stage and playing students, soldiers, religious and common people.

Meyerbeer's music is exciting, creates different atmospheres throughout the work and has great dramatic force.

American tenor John Osborn was Raoul. He did not have a good start but after warming the voice he was always well in the role (and what a role!). The timbre of his voice is pleasant, light, well heard, the top notes sometimes are sung in effort, but he never fails. The role is very demanding and he is almost always on stage. Artistically he was well, but her colleagues were better.

Queen Marguerite de Valois was interpreted by Danish soprano Henriette Bonde-Hansen. She had an outstanding performance. The voice is beautiful, round, powerful, lyrical and very able to convey all the emotions experienced by the character. Good figure, the singer was also blameless artistically.

Swedish soprano Ingela Brimberg was Valentine. She had a strong presence. The dramatic soprano voice was strong and the singer used it more in power than in melody. A lyrical interpretation would have been more appropriate. But the impact was great and she showed versatility in conveying the different feelings of the character. She was another singer with an excellent figure, which helped her artistry.

Urbain was the French mezzo-soprano Blandine Staskiewicz. Although a relatively small role, she was responsible for another superior interpretation, both vocal and artistic. The voice, beautiful, was particularly rich and strong in the lower register and, whenever she was on stage, she could be heard over the orchestra and over the chorus.

The Count of Nevers was the Canadian baritone Jean-François Lapointe. He was well but he was perhaps the least strong among the soloists. He has a good figure, he acted well, but the voice was less versatile and had not the strength nor the harmony of the singers.

French baritone Philippe Rouillon was an authoritarian Count de Saint-Bris, with a strong, expressive and versatile voice.

Marcel was the French bass François Lis. Among all the principal singers he was the most irregular, with periods of well-modulated audible voice, alternating with others that led the orchestra drown him.

Unexpectedly, I attended one of the best performances of the season, which was a real surprise, in a theater where I have lived unpleasant experiences in the past.

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sábado, 18 de junho de 2011

CARMEN – Teatro de São Carlos, Junho de 2011


Carmen é uma ópera de Georges Bizet com libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy baseado no romance homónimo de Prosper Mérimée.

O argumento pode ser lido aqui, mas, como enquadramento histórico da obra, transcrevo o texto de Pedro Russo Moreira que se encontra no “site” do Teatro Nacional de São Carlos:

A ópera Carmen foi encomendada por Du Locle e De Leuven, directores da Opéra-Comique de Paris para integrar a temporada daquele teatro, que passava à altura por algumas dificuldades financeiras. Bizet aceitou o desafio e propôs a obra escrita em 1845 por Prosper Mérimée como base do seu enredo, tendo sido de imediato nomeados dois libretistas.
A obra foi intensamente trabalhada pelo compositor desde 1873, e os ensaios começaram no ano seguinte, reunindo várias críticas por parte da equipa devido ao realismo da história e à dificuldade de execução orquestral e coral. O papel principal foi atribuído a Célestine Galli-Marié, uma notável meio-soprano que actuou no Real Teatro de São Carlos na temporada de 1860-61, interpretando vários papéis de ópera italiana.
A recepção da ópera pelo público parisiense, no momento da sua estreia, não foi positiva. Algumas críticas em torno do trabalho de Bizet, que provinham de sectores mais conservadores, protestavam contra algumas cenas, tais como a morte de Carmen, ou pelo facto de apresentar uma personagem principal feminina, com tremenda liberdade, poder e comportamentos não aceites à época.
 A sua popularidade ascendeu através de uma produção que teve lugar em Viena, em Outubro de 1875, com a adaptação dos diálogos falados para recitativo efectuada por Giraud, versão esta que predominou, recolhendo a admiração pública de figuras como Saint-Saëns, Brahms, Wagner e Tchaikovski, entre outros. A história trágica da cigana Carmen voltaria a Paris apenas em 1883, reconciliando-se finalmente com o público.
 A riqueza da obra, no capítulo da orquestração, da construção melódica e da textura harmónica, aliadas a uma mistura entre a corrente do Realismo, em voga na época, e o exotismo do próximo, conferiram-lhe um lugar de destaque na história da música ocidental.


Com direcção musical  Julia Jones, a Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, o Coro dos Pequenos Cantores da Academia de Amadores de Música, encenação de  Stephen Medcalf,  cenografia e figurinos de Jamie Vartan e desenho de luz de Simon Corder, assistimos a uma nova encenação baseada na produção do do Teatro Lírico de Cagliari (2005).

Foi mais outro bom espectáculo no São Carlos. Julia Jones cumpriu, embora não tenha sido empolgante a sua direcção. Não conseguiu fazer levantar a  Orquestra Sinfónica Portuguesa que, contudo, teve um dos seus melhores desempenhos da temporada (em ópera). O Coro também esteve muito bem e o Coro infantil  teve a sua graça. 
A encenação transportou a acção para os anos 40 – 50 do século XX.. Não achei particularmente bem conseguida, mas foi vistosa e respeitou a obra.

(algumas fotografias são do programa de sala do TNSC)

Carmen foi interpretada pelo mezzo-soprano israelita Rinat Shaham, que tem feito sucesso internacional neste papel. A voz é escura e encorpada, o timbre bonito e gostei particularmente do registo mais grave. Os agudos saíram sempre afinados. Foi, de longe, a melhor cantora da tarde. Em cena esteve perfeita.


Don José foi o tenor norte americano Andrew Richards.. A voz é bem audível e cheia no registo médio e o timbre agradável. Contudo, os agudos são cantados em esforço, quase em falsete e não brilham. Cenicamente esteve bem, a figura também ajuda.


O soprano italiano Adriana Damato foi  uma Micaèla de voz bem projectada, doce e ingénua no 1º acto. No 3º acto foi, por vezes, estridente. Mas teve uma boa interpretação. Foi também uma das mais convincentes cenicamente, apesar da deficiente pronúncia do francês.

O barítono grero Yannis Yannissis, foi um Escamillo à altura dos restantes solistas. A voz é banal mas fez-se ouvir com facilidade


Os cantores portugueses Nuno Dias (Zuniga), Luís Rodrigues (Moralès), Joana Seara (Frasquita), Luísa Francesconi (Mercédès), Carlos Guilherme (Le Remendado) e Mário João Alves (Le Dancaïre ) estiveram também bem.


Foi um prazer ver, pela primeira vez este ano, o Teatro de São Carlos cheio. A lotação estava esgotada. Como já aqui escrevi várias vezes, acho que são necessárias mais óperas populares como esta para que o público português se reconcilie com o seu Teatro de Ópera.

Quando me perguntam, aconselho a Carmen aos que querem ver, pela primeira vez, uma ópera. Acho que esta produção do Teatro de São Carlos cumpre bem essa função, a de cativar novos espectadores.

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Teatro de São Carlos, Lisboa - Temporada 2011-2012


Foi ontem tornada pública a Temporada Lírica 2011-2012 do Teatro Nacional de São Carlos. Também se conhecem a Temporada Sinfónica e Outras Iniciativas, mas abordarei apenas a temporada lírica.


Conta com 6 óperas (para além de outras, pequenas, no Salão Nobre) e, dadas as dificuldades que o País atravessa, é uma temporada digna, assim as coisas corram bem. A cultura é sempre das áreas que mais sofre nestas ocasiões e não se concretizou o que chegou a constar – que não estava garantida uma próxima temporada. Um País sem cultura é um País morto e, felizmente, não chegámos a esse extremo.





Aspectos positivos:


- O afastamento do espectro da inacção (e possível afastamento ou “reforma” antecipada) dos músicos do TNSC e da Orquestra Sinfónica Portuguesa, por razões que lhes seriam totalmente alheias.

- A presença de cantores portugueses em papeis de relevo em algumas óperas.

- Finalmente, a possibilidade de voltar a admirar a nossa melhor cantora da actualidade: Elisabete Matos, no papel de Elisabetta de Valois na ópera Don Carlo. O Teatro estava em dívida com Elisabete Matos há muito!

- A escolha dominante de óperas mais conhecidas da generalidade do público, o que poderá contribuir para que este se reconcilie com o São Carlos, como tenho vindo a referir em textos anteriores.

- O conceito “Contar uma Ópera”, se for feito de forma radicalmente diferente do ano passado. Vi a Cavalleria Rusticana que foi uma desgraça.

- A apresentação de ópera para famílias e escolas – O Gato das Botas no Teatro Camões.

Aspectos negativos:

- O número escasso de óperas levadas à cena mas, como referi acima, no contexto actual, aceita-se a opção que pode já constituir um esforço muito significativo.

- A falta de alguns compositores de referência (Wagner, Bellini, Rossini e outros).

- A presença de cantores estrangeiros que poderão não estar à altura das personagens que lhes foram atribuídas. Dou-lhes o benefício da dúvida, mas é esperar para ver. Faço votos para que não tenha regressado o preconceito de que os cantores estrangeiros (sejam eles quais forem) são melhores do que os nacionais, situação que foi totalmente negada nas passadas temporadas em que tivemos estrangeiros de má ou péssima qualidade. É essencial continuar a dar oportunidades aos portugueses no principal palco de ópera nacional para que o público amante da lírica os possa apreciar convenientemente.


As óperas anunciadas são:

-
Don Carlo (Verdi) em Outubro de 2011, dias 8, 11, 13,15,18, 20 às 20:00h e dia 23 às 16:00h Produção nova do TNSC. Uma das melhores óperas de Verdi, aguardo-a com expectativa. Tem cantores de qualidade e, claro, Elisabete Matos. A não perder!

- O Gato das Botas (Montsalvatge) em Dezembro de 2011, dias 13, 20 e 22 às 20:00h e dias 10, 11,17 e 18 às 16:00h (dias 14 e 16 e 21 às 15:00h e às 11h00 para escolas).

- Così fan Tutte (Mozart) em Janeiro de 2012 nos dias 14, 17, 19, 24 e 26 às 20:00h e
dia 22 Janeiro às 16:00h. Também uma das melhores óperas de Mozart numa produção da Vlaamse Opera da Bélgica. Tem intérpretes que sugerem que poderá ser outro bom espectáculo.

- Madama Butterfly (Puccini), em Março de 2012, dias 13, 15,17, 20,22 às 20:00h e dia 25 às 16:00h. Produção da Ópera Real de Copenhaga. A história da mais trágica heroína de Puccini. Pode ser um espectáculo muito interessante ou o oposto. Depende muito da forma como for cantada e da encenação.

- Turandot (Busoni) + Francesca da Rimini (Rachmaninov) em Maio de 2012, dias 19, 21, 23, 25 às 20:00h e dia 27 às 16:00h. Uma nova produção do TNSC.

- Don Pasquale (Donizetti) em Junho de 2012 nos dias 14, 16, 18, 20 e 22 às 20:00h e no dia 24 às 16:00h. Uma produção do Teatro La Fenice de Veneza. Mais uma ópera que poderá ser muito boa ou desinteressante, conforme a interpretação.

Todos os pormenores podem ser consultados em:
http://www.saocarlos.pt/gca/?id=1068

É esperar para ver e ouvir…
E cá estaremos para comentar.

terça-feira, 14 de junho de 2011

I CAPULETI E I MONTECCHI – Bayerische Staatsoper, Munique, Abril de 2011

(review in English below) 

 I Capuleti e i Montecchi é uma ópera de Vicenzo Bellini com libreto de Felice Romani. A história baseia-se no amor trágico de Romeu e Julieta.


 O resumo da história pode ler-se aqui.


 Vicent Boussard foi o encenador. A Munique também já chegou a moda de as personagens serem vestidas por costureiros famosos, no presente caso Christian Lacriox.. As senhoras estavam, de facto, com fatos vistosos. Julieta tinha um exuberante vestido claro creme e azul e, apesar de ter andado sempre descalça durante todo o espectáculo, estavam-lhe destinados uns sapatos verdes, que nunca calçou. As mulheres do coro tinham vestidos compridos muito coloridos, tropeçavam frequentemente neles pois o cenário tinha nessas partes uma grande escadaria. Pareciam prostitutas vitorianas, mas enfim…


 A encenação, embora com notável impacto visual, foi bizarra. Na primeira cena há múltiplas celas de cavalos penduradas no tecto e os homens cantam vestidos de fato e cartola. Não há mais nada no palco. A primeira aparição de Julieta é no quarto e tem como únicos adereços uma pequena estátua suspensa no cimo e um lavatório. Ela empoleira-se nesse lavatório e aí, em equilíbrio precário, passa grande parte da cena, cantando nessa posição a belíssima ária Oh! Quante volte. Aparece Romeu e, sempre que ambos estão presentes, ao longo da ópera, Julieta parece evitá-lo a todo o custo. As restantes cenas passam-se com o palco envolvido numa moldura gigante, num efeito muito semelhante ao que vi aqui 



 A cena final, no túmulo, também é bizarra. Romeu entra e encontra Julieta “morta”, deitada no chão com o vestido de sempre. Em dado momento, ainda antes do acordar, Romeu puxa-a por um braço e ela fica em pé, imóvel, como que petrificada. Ao puxá-la o Romeu deu uma valente queda para trás, mas foi um pequeno acidente hilariante da noite. Depois de se envenenarem ambos e morrerem, avançam a passo lento para a boca de cena e cai o pano.
Foi, de facto, uma encenação diferente, mas vistosa.

(algumas fotografias são da Bayerische Staatsoper)

 O maestro Yves Abel dirigiu de forma assinalável e a Orquestra da Bayerische Staatsoper correspondeu com elevada qualidade. Foram notáveis os solos de harpa, violoncelo, flauta e oboé que tanto enriquecem a beleza melódica da partitura. No final, durante os agradecimentos, Yves Abel teve a delicadeza de fazer levantar cada um destes instrumentistas, o que lhe ficou muito bem.


 Romeu foi interpretado pelo jovem mezzo-soprano irlandês Tara Erraught, que substituiu Vesselina Kasarova, doente. Não conhecia esta cantora e deixou-me uma boa impressão. A voz é firme e bem audível. No registo mais grave é segura e muito agradável mas nos agudos perde um pouco a qualidade melódica. Evita gritar, apesar de cantar em esforço. Cenicamente não impressionou, mas o papel também não ajuda (apesar de tudo é uma mulher) e a encenação ainda menos.


 Julieta foi cantada pelo soprano japonês Eri Nakamura. Esta foi a grande surpresa da noite. Já a havia ouvido aqui, onde não me impressionou.


 Desta vez foi bem diferente. Teve uma interpretação fabulosa. A voz é de uma potência impressionante e de uma beleza ímpar. Mantém a qualidade em todos os registos, nomeadamente quando sobe para as notas mais agudas. O legato é também de grande qualidade e, nos duetos com Romeu, foi melhor, embora as duas vozes se conjugassem bem. Em cena foi quase uma artista de circo pois teve que cantar em posições de equilíbrio pouco estável por diversas vezes, quer em pé no lavatório do quarto no 1º acto, quer em cima da moldura no 2º acto. Ao que os encenadores obrigam os cantores!


 Lembro-me que, há cerca de 2 anos, me desloquei a Londres para ver I Capuleti e i Montecchi com Anna Netrebko e Elina Garanca. Na récita anterior à que assisti a Netrebko havia cancelado (tinha sido mãe há poucos meses) e fora substituída por Eri Nakamura, na altura estudante do programa Jette Parker para jovens artistas da Royal Opera House. Suspirei de alívio quando o espectáculo começou e tive a certeza que era a Netrebko que ia cantar. Essa foi uma récita daquelas que nunca esquecerei, mas hoje verifiquei que a Nakamura também está à altura do papel.


Tebaldo foi interpretado pelo tenor americano Dimitri Pittas Foi o elo mais fraco da noite. Apesar de ter cantado de forma decente, a voz perdia qualidade e potência quando cantava notas mais agudas e era notório o esforço do cantor para as manter audíveis.


 O baixo americano Steven Humes teve também uma boa prestação tanto cénica como vocal. Ofereceu-nos uma voz redonda, forte, expressiva e muito agradável.


 Como já referi neste blogue, sou um grande apreciador de belcanto e Bellini é, neste campo, o compositor que mais aprecio. Foi, por isso, com muita satisfação que voltei a ouvir esta ópera, apesar de encenada de uma forma totalmente inesperada.


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I Capuleti ei Montecchi - Bayerische Staatsoper, Munich, April 2011

I Capuleti e i Montecchi is an opera by Vincenzo Bellini with libretto by Felice Romani.
The story is based on the tragic love of Romeo and Juliet.

The summary of the story can be read here

Vincent Boussard was the director. The “fashion” of the singers to be dressed by famous fashion designers has also arrived to Munich. In this case, the designer was Christian Lacriox.  The ladies were, in fact, with flashy dresses. Juliet had an exuberant light cream and blue dress and, despite having always walked barefoot throughout the performance, there were there green shoes for her, although she never put them on. Women's choir dresses were very colourful, the choir singers often stumbled on them because the scenery in these parts had a big staircase. They looked like Victorian prostitutes, but anyway ...

The staging, though with remarkable visual impact, was bizarre. In the first scene there are multiple cells of horses hanging from the ceiling and the men sing dressed in suit and tall hat. There's nothing else on stage. The first appearance of Juliet is in her bedroom and on the stage there are only a small statue ornament suspended from the top and a sink. She perches on the sink and there, in precarious balance, spends much of the scene, singing the beautiful aria Oh! Quante volte. in that position. Romeo appears and whenever both are present, throughout the opera, Juliet seems to avoid him at all costs. Most of the remaining scenes are with the stage surrounded by a giant frame, an effect very similar to that seen recently here

The final scene in the tomb is also bizarre. Romeo enters and finds Juliet "dead," lying on the floor. At one point, before she wakes up, Romeo pulls her by the arm and she stands, motionless, as if petrified. To pull her, Romeo gave a mighty fall backwards, but this was a minor hilarious accident of the night. After both have poisoned themselves and die, they walk at a slow pace for the proscenium arch and the curtain falls.
It was indeed a different staging.

Conductor Yves Abel was remarkable and the Orchestra of the Bayerische Staatsoper corresponded with high quality. Harp, cello, flute and oboe solos were noticeable, enriching the melodic beauty of the score. In the end, during curtain calls, Yves Abel had the courtesy to make stand up each of these instrument soloists, which was nice to see.

Romeo was played by the young Irish mezzo-soprano Tara Erraught, who replaced Vesselina Kasarova. I did not know this singer before and she left me a good impression. The voice is firm and very audible. In the low register it is firm and very nice but it looses melodic quality in the high register. She avoids shouting, despite singing in effort. Artistically she was unimpressive, but the character does not help (after all she is a woman) and the staging even less.

Juliet was sung by Japanese soprano Eri Nakamura. She was the big surprise of the night. I had already heard her here, and she did not impress me. This time was different. She had a fabulous interpretation. The voice is of impressive power and beauty. She maintains quality in all registers, especially when she sings top notes. The legato is also of great quality and, in duets with Romeo, she was better, though the two voices were in perfect harmony.
On stage she was almost a circus performer because she had to sing in unstable equilibrium positions several times, either standing on the sink of her bedroom in the first act, either on top of the frame in Act 2.
About two years ago, I went to London to see I Capuleti ei Montecchi with Anna Netrebko and Elina Garanca  In the performance prior to that I had attended Netrebko canceled (she had been mother a few months before) and had been replaced by Eri Nakamura, at the time a student of the Jette Parker Young Artists program of the Royal Opera House. I was relieved when the performance began and I confirmed I was going to have Netrebko on stage. This was one of those performances I will never forget, but today I consider that Nakamura is also a good interpreter of the role.

Tebaldo was played by American tenor Dimitri Pittas. He was the weakest of the night. Despite having sung in a decent manner, the voice lost quality and power when he sang high notes and the singer's effort to keep them audible was notorious.

American bass Steven Humes also had a good performance both artistic and vocal. He offered us a round strong, expressive and very nice voice.

As I mentioned in this blog, I'm a big fan of belcanto and Bellini is the composer who I most appreciate. It was therefore with great satisfaction that I had the chance to see this opera again, though staged in totally unexpected manner.

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