terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Don Giovanni, Royal Opera House, Londres, Janeiro de 2012

(review in english below)

Don Giovanni é uma ópera de W A Mozart (encomendada depois do sucesso de Le nozze di Fígaro) também com libretto de Lorenzo da Ponte.

A ópera está recheada de árias e ensembles marcantes. Relata a história de um sedutor compulsivo que escapa a tudo e a todos, excepto à morte. Don Giovanni, para além das múltiplas conquistas que são recordadas pelo seu criado Leoporello, seduz Donna Anna, noiva de Don Ottavio e filha do Commendatore que assassina. Donna Elvira foi outra conquista que abandonou e Zerlina, uma camponesa noiva de Masetto, é mais um alvo. Depois de múltiplas peripécias, incluindo a troca de identidade com Leoporello, a estátua do Commendatore convida-o a arrepender-se, o que recusa, acabando devorado pelas chamas do inferno.

A encenação de Francesca Zambello é de grande qualidade. No centro do palco há uma estrutura que roda, bem concebida e com escadas de acesso à parte superior. Ao rodar vai dando origem aos diferentes cenários. O fogo é uma presença frequente ao longo da récita e Don Giovanni acaba consumido pelas chamas num cenário de impressionante efeito visual.




 O maestro grego Constantinos Carydis esteve bem e conseguiu que a excelente Orquestra da Royal Opera House nos brindasse com uma bela interpretação. Ouviu-se Mozart!


 O baixo italiano Marco Spotti foi um Commendatore de voz muito grave, forte e cavernosa, como se espera neste breve papel.

O barítono canadiano Gerald Finley foi um Don Giovanni muito convincente. A voz é bem timbrada e bem audível. Foi muito credível no papel do protagonista. Cenicamente esteve bem, apesar de a encenação ajudar muito.


 Leoporello foi interpretado pelo baixo barítono italiano Lorenzo Regazzo. Apesar de ter sido um óptimo actor, foi o único cantor que destoou dos restantes. A voz não tem nenhuma característica particularmente atractiva e, sobretudo, é pouco potente e deixa-se facilmente abafar pela orquestra. Uma pena.

O tenor norte americano Matthew Polenzani foi um Don Ottavio excepcional. Voz sempre afinada, com um timbre belíssimo e uma interpretação de um lirismo marcante, sobretudo no registo mais agudo.

Também o jovem baixo barítono checo Adam Plachetka foi um Massetto de qualidade superior. Voz potente e muito bonita, muito expressivo e excelente actor.


 Nas senhoras reinou a excelência. O soprano russo Hibla Gerzmava foi uma Dona Anna deslumbrante, com uma interpretação ao nível que nos habituou. Apesar de por vezes ter um vibrato excessivo, a voz é expressiva, de grande potência, sempre afinada, excelente em toda a extensão vocal.


 O mezzo-soprano sueco Katarina Karneus foi uma Dona Elvira marcante. Possuidora de um timbre invulgar e atraente, interpretou a personagem com autoridade, foi sempre bem audível e muito credível. Cenicamente foi uma das melhores.



 Zerlina foi interpretada pelo soprano grego Irini Kyriakidou . Voz clara, límpida e muito lírica, deu graciosidade à personagem e brilho à representação.



 Um excelente Don Giovanni que inicia o ciclo Mozart / da Ponte que a Royal Opera vai levar à cena nas próximas semanas e que o wagner_fanatic vai ter a sorte de saborear na íntegra.





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Don Giovanni, Royal Opera House, London, January 2012

Don Giovanni is an opera by Mozart (commissioned after the success of Le nozze di Fígaro) also with a libretto by Lorenzo da Ponte.

The opera is full of striking arias and ensembles. It tells the story of a compulsive seducer that escapes everyone and everything except death. Don Giovanni, in addition to the many lovers that are mentioned by his servant Leoporello, seduce Donna Anna, Don Ottavio’ fiancee and daughter of the Commendatore who he murders. Donna Elvira is another lover that he abandoned, and Zerlina, a peasant engaged to Masetto, is another target. After many adventures, including the exchange of identity with Leoporello, the statue of the Commendatore invites him to sorrow, which he refuses and ends devoured by the flames of hell.

The staging of Francesca Zambello is of great quality. At the center of the stage there is a well-designed rotating structure with ladders to the top. When it rotates, it originates different scenarios. Fire is a frequent presence along the performance and Don Giovanni ends up consumed by flames in a staging of stunning visual effect.

Greek conductor Constantinos Carydis was good and the excellent Orchestra of the Royal Opera House gave us with an excellent performance. We heard Mozart!

Italian bass Marco Spotti was a Commendatore with a very strong bass voice, as expected in this short role.

Canadian baritone Gerald Finley was a very convincing Don Giovanni. His voice háas a nice timbre and is always heard. He was very credible in the protagonist role. Artistically he was well, though the staging helped a lot.

Leoporello was interpreted by Italian bass-baritone Lorenzo Regazzo.  Despite being a good actor, he was the only singer that was not at the high level as all the others. His voice had no particularly attractive feature and, above all, it was not powerful and was easily drown out by the orchestra.
A pity.

North American tenor Matthew Polenzani was an exceptional Don Ottavio. His voice, always in tune, has a beautiful timbre and his performance was very lyrical, particularly evident in the upper registers.

Also the young Czech bass baritone Adam Plachetka was a great Massetto. He has a powerful and beautiful voice, and he is very expressive and an excellent actor.

Among the ladies excellence was the rule. Russian soprano Hilba Gerzmava was a stunning Dona Anna, with a performance to the level that she uses to offer the public. She has an expressive voice of great power, always in tune, and excellent throughout all her vocal range.

Swedish mezzo-soprano Katarina Karnéus was a remarkable Dona Elvira. She possesses an unusual and attractive timbre, she was outstanding in her performance, always well audible and very credible. Artistically she was one of the best.

Zerlina was interpreted by Greek soprano Irini Kyriakidou. She has a light voice, clear and very lyrical, and she was very gracious and bright in her performance.

It was an excellent Don Giovanni that starts the cycle Mozart / da Ponte that the Royal Opera will offer in the coming weeks, and that wagner_fanatic will be lucky enough to enjoy in full.

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

ENTREVISTA EXCLUSIVA DO ELENCO DO COSÌ FAN TUTTE DO TEATRO NACIONAL DE SÃO CARLOS AO BLOG FANÁTICOS DA ÓPERA (UPDATE: Clips sonoros e + respostas)

COMPLETO COM CLIPS SONOROS DA PRODUÇÃO (no final do texto) E AS RESPOSTAS DE TODOS OS MEMBROS DO ELENCO!!!



(in english below and FULLY UPDATED WITH SOUND CLIPS OF THE PRODUCTION AND THE ANSWERS FROM ALL THE CAST MEMBERS!!!)

O maravilhoso elenco do Così fan tutte, que encheu recentemente o Teatro Nacional de São Carlos, na sua grande generosidade, acedeu ao convite feito por mim, através de um dos seus membros, João Merino (depois o seu comentário deixado neste blog), para responder a umas questões em jeito informal de entrevista. Torna-se assim, o primeiro elenco a dar uma entrevista, em exclusivo, para o blog Fanáticos da Ópera. Uma honra e um privilégio imenso para nós e para todos os bloggers.

Como não podia deixar de ser, Mozart, esta produção do Così fan tutte e o panorama da Ópera em Portugal, foram os temas centrais.

Deixo-vos os cantores, em discurso directo:


Mozart é, sem dúvida, uma dos melhores compositores de todos os tempos. Così fan tutte, de entre a trilogia Da Ponte, é a sua ópera favorita de Mozart? Porquê?

João Merino - Para o meu tipo de voz, qualquer das óperas da triologia é fantástica, mas reconheço que o Cosi é talvez a mais completa, a mais perfeita em termos de equilíbrio como espetáculo.

Jorge Vaz de Carvalho - Mozart é o meu compositor preferido, também na ópera. Così Fan Tutte possui alguns dos momentos mais sublimes da escrita mozartiana (o trio “Soave sia il vento”, as árias “Un’aura amorosa” e “Per pietà”), mas vale, sobretudo, pelos modos como supera a dicotomia canónica opera seria/opera buffa, pela profundidade com que trata musicalmente a complexa psicologia humana e a ambiguidade (doçura e crueldade) dos mistérios amorosos nos múltiplos matizes. Se tiver que eleger uma só ópera de Mozart, essa será Le Nozze di Figaro, aliás, para mim, a melhor obra da literatura musical jamais composta.

Eduarda Melo – A trilogia é o resultado de uma dupla de génios! As três óperas são obras primas mas, na minha opinião, a que mais se destaca é Le Nozze di Figaro.

Luísa Francesconi – Da trilogia, ironicamente, o Così é a que gosto menos. Considero alguns momentos do Le Nozze di Figaro inigualáveis, assim como a força dramatúrgica da música do Don Giovanni. Apesar disso, é uma obra prima, com certeza. A trilogia é absolutamente fantástica!

Carmen Romeu - A trilogia Da Ponte é uma grande parceria de Mozart com o libretista Lorenzo da Ponte. A genialidade destas obras é a união do texto com a música, já que se consegue que a própria música fale e repita o texto proposto por Da Ponte. As três, para mim, são fenomenais. Não posso dizer que o Così seja a minha favorita. Prefiro o dramatismo do libretto do Don Giovanni, embora musicalmente adore as 3 obras. Todas têm momentos de genialidade Mozartiana.



Esta produção do Così, ao passar-se no átrio de um hotel, de certo modo afasta-se do ambiente original da ópera. Sente-se mais confortável em produções clássicas ou prefere produções modernas?

João Merino - Os encenadores como criativos tendem a procurar caminhos nem sempre ortodoxos! Pessoalmente desde que faça sentido, seja logico ou esteja justificado dramaturgicamente não tenho qualquer objecção.

Jorge Vaz de Carvalho - Não tenho preferência por produções clássicas ou modernas, desde que sejam fiéis ao espírito da obra. As encenações “modernas” (no sentido da transposição da acção para épocas outras que não as originais) tinham inicialmente a intenção (louvável) de mostrar como certos acontecimentos ou sentimentos (a crueldade tirânica de Scarpia, a força guerreira e debilidade psicológica de Otelo, a paixão sacrificial da Traviata) possuem, afinal, carácter não datável, pois caracterizam o ser humano tal como o conhecemos, em qualquer tempo e lugar. Descambou-se daí para produções que apenas usam as óperas como pretexto para realizações de espectáculos, melhor ou pior concebidos, mas sem a humildade que considero essencial: o génio já está no compositor (e, no caso de Mozart, isso é ainda mais flagrante!) – nós somos meros intérpretes (o que é já um extraordinário privilégio), criadores por fidelidade, não por deserção.

Eduarda Melo – A partir do momento em que as intenções do texto são respeitadas e que a contrução da personagem tem sentido, qualquer tipo de encenação me dá imenso prazer a interpretar.

Luísa Francesconi – Prefiro as produções clássicas onde todas as indicações de cena são respeitadas e todo o texto faz sentido.

Shawn Mathey - O mais importante para mim, não é o periodo ou estilo da encenação. É a psicologia que conduz as relações entre as personagens. Podes ter um cenário que custe muitos milhares de dólares mas se nada de interessante e real se passa no mesmo, não tem sentido.

Carmen Romeu - Geralmente prefiro que as encenaçoes sejam fiéis ao libretto, o que não quer dizer que não possam ser modernas. Desde que uma produção moderna tenha sentido, eu gusto. Contudo, para ser sincera, em Mozart, prefiro as produções clássicas.



Vista parcial do cenário da encenação de Guy Joosten - átrio de hotel


O que acha que tornou esta produção tão eficaz e especial para todos os que tiveram a oportunidade de a ver?

João Merino - É uma produção que tem percorrido a europa nos últimos 15 anos, logo só pode ter qualidade. No caso da “nossa” versão penso que o facto de ser um elenco muito equilibrado e coeso fez a diferença. Foram 6 semanas de um trabalho intensíssimo, altamente pormenorizado e detalhado! Muito desgastante para todos, e só com muita união e bom ambiente foi possível chegarmos a bom porto.

Jorge Vaz de Carvalho - Se pretender ser redundante, diria que a eficácia desta produção está no facto de ser um espetáculo eficaz.

Eduarda Melo – Cantores com grandes qualidades cénicas e vocais que tiveram a audácia e inteligência de transformar o espaço cénico num verdadeiro “Hotel de 5 estrelas”.

Luísa Francesconi – Talvez por ser uma montagem prática e realista.

Shawn Mathey – Eu acho que fomos afortunados com esta produção porque possui um maravilhoso e elaborado cenário, e uma generosa quantidade de detalhes psicológicos. Manteve a acção em movimento constante, tornando a produção credível.

Carmen Romeu - Creio que esta produção é bastante dinâmica, cheia de movimento e creio que o espectador tem muito para onde olhar.



Carmen Romeu (Fiordiligi), Eduarda Melo (Despina) e Luísa Francesconi (Dorabella)
nos bastidores da última récita desta produção - 24 de Janeiro 2012


Que personagem operática de Mozart mais admira e qual gostaria de ainda interpretar?

João Merino - Das óperas de Mozart já interpretei praticamente todas, mas de facto o Don Giovanni tem um carisma que, não posso negar, me atrai muito e portanto gostaria de voltar a fazer num futuro próximo.

Jorge Vaz de Carvalho - A personagem operática de Mozart que mais admiro e que constitui o maior desafio músico-dramático para o cantor é Don Giovanni. Interpretei, felizmente, ao longo da minha carreira, já todos os papéis de Mozart que desejava: Conde Almaviva e Figaro em Le Nozze di Figaro, Don Giovanni e Leporello de Don Giovanni, Guglielmo e Don Alfonso de Così Fan Tutte e Papageno de Die Zauberflöte.

Eduarda Melo – Há muitas personagens Mozartianas que me fascinam… Neste momento adoraria interpretar a Susanna de Le Nozze di Figaro.

Luísa Francesconi – É difícil dizer a que mais admiro… Don Giovanni, Zerlina, Conde de Almaviva, Donna Elvira. Gostaria de interpretar ainda Sesto, da Clemenza di Tito, e Donna Elvira.

Shawn Mathey – Eu admiro muito Tamino. Ele acredita profundamente no amor. Ainda desejo cantar Idomeneo. É um desafio pelo qual estou ansioso.

Carmen Romeu - As personagens Mozartianas que mais admire são: a Elettra de Idomeneo pelo seu temperamento e dificuldade do papel; Donna Anna pela beleza da sua música; Donna Elvira pela sua personalidade; e Fiodiligi pela sua grande dificuldade tanto musical como interpretative. Gostaria de interpretar Donna Elvira, Elettra e Vitelia (da Clemenza di Tito).



Shawn Mathey (Ferrando), Jorge Vaz de Carvalho (Don Alfonso) e João Merino (Guglielmo)
nos camarins após a última récita desta produção - 24 de Janeiro 2012


Na sua opinião, o que falta em Portugal para que a Ópera exista em maior proporção e passe a ter papel de peso na oferta cultural? Como poderia o TNSC ultrapassar estas dificuldades económicas presentes e mesmo assim oferecer um resto de temporada (e temporadas futuras) cheias de boa ópera?

João Merino - Uma verdadeira e eficaz lei do mecenato e um muito maior investimento do estado na cultura! Há uma falsa ideia de que o estado gasta muito dinheiro com a ópera e que são os intervenientes directos na produção dos espectáculos os beneficiários! Nada mais errado! Quem beneficia com o investimento do estado são os espectadores que deste modo tem acesso á opera com bilhetes a preços relativamente acessíveis. A ópera é e será sempre um espetáculo caro e dispendioso.

Relativamente ao TNSC uma estratégia poderia passar pela rentabilização de produções já existentes e que obtiveram sucesso como por exemplo o Chapéu de palha de Florença do ano passado, com a realização de muitas mais recitas e de tornées pelo pais. Temos uma rede de dezenas de novos teatros municipais que poderiam ser palco de boas produções e desta forma levaríamos a ópera a todas as populações e ao mesmo tempo, com elencos maioritariamente portugueses (já temos um numero considerável de cantores portugueses com qualidade para desempenhar uma grande parcela do repertório operático!) que desta forma teriam o fundamental para evoluírem e adquirirem experiencia fundamental para outros voos.

Jorge Vaz de Carvalho - Portugal precisa de ter, no mínimo, dois centros permanentes de produção de ópera, em Lisboa e no Porto. Metade dessas produções, por uma questão de rentabilidade e não dispersão de recursos, poderiam ser intercambiáveis. Mas esses centros de produção deveriam realizar as suas produções também com vista à circulação pela província, aproveitando a rede de teatros municipais em funcionamento, e fazer protocolos com as autarquias para trazer as populações à ópera. Para superar dificuldades económicas, o Teatro de São Carlos tem de resolver o eterno problema de máquina pesada que é: a maior parte das verbas atribuídas são para despesas de funcionamento, em vez de serem destinadas à finalidade maior que é a produção artística. Deveria recuperar as suas próprias produções (em vez de alugar mau no estrangeiro) e investir em encenadores e cenógrafos que, com criatividade, realizassem produções dentro dos recursos possíveis (excelente não é sinónimo de caro). Por outro lado, havendo vozes portuguesas de qualidade, tem de ser quebrado o ciclo de desperdício de valores nacionais, quer pela sua não utilização, quer pela perda de tempo e dos escassos recursos em projectos de amadorismo atroz (como têm sido certos estúdios de ópera, companhias e afins): trabalhando com bons maestros e encenadores é possível os jovens cantores desenvolverem competentemente as suas aptidões e, para a entidade produtora, realizar óperas com custos contidos.

Eduarda Melo – Educação de públicos, incentivar e sensibilizar os jovens para a Ópera e uma maior aposta nos artistas portugueses.

Luísa Francesconi – Incentivos privados e maior organização dos órgãos de gestão artística.

Carmen Romeu - Creio que este é um momento muito difícil para os países europeus e sobretudo para a cultura. Creio que a melhor solução é fazer co-produções e retornar a produções que já se tenham feito no passado. Por outro lado, acho importante haver alguma das récitas de uma produção a preços mais baixos, facilitando assim a ida ao teatro de pessoas mais jovens, despertando assim o interesse pelo género operatico.


Que planos pessoais para o futuro?

João Merino - Continuar a investir na carreira, fazer audições para novas produções e esperar que o trabalho vá continuando a aparecer.

Jorge Vaz de Carvalho - Após quase três décadas de carreira, regressado definitivamente (?) a Portugal, desde que assumi, em 1999, a direcção da Orquestra Nacional do Porto e construí a sua dimensão sinfónica, os meus planos imediatos passam por me dedicar, sobretudo, aos meus alunos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica, à minha obra literária e de tradução. Felizmente, posso permitir-me aceitar só as óperas que ainda me interessa interpretar.

Eduarda Melo – A Flauta Mágica na Ópera de Marseille e o Barbeiro de Sevilha na Ópera de Lille.

Luísa Francesconi – Così fan tutte em São Paulo.

Shawn Mathey – Tamino de A Flauta Mágica, em Dallas.

Carmen Romeu - Por agora, vários recitais, La Corte de Faraon no Teatro Arriaga de Bilbao, Ciro em Babilonia no Rossini Opera Festival…




Caros amigos,

Passadas as 5 récitas do Così fan tutte, no Teatro Nacional de São Carlos, que decorreram entre 14 e 24 de Janeiro, e onde (muitos dirão, roçando a insanidade musical) marquei presença em cada uma delas, não posso deixar de terminar este exclusivo do blog com um complemento a tudo o que disse acerca da récita de estreia.

Já tive a oportunidade de assistir a vários espetáculos, como é testemunha este blog e, inclusive, cheguei a ver por 2 vezes algumas produções, mas nunca senti que gostaria de ter estado presente em mais. Com este Così foi diferente. Apaixonei-me pela encenação, pelos cantores, pela orquestra, pelo maestro, como acho que nunca me aconteceu antes, no São Carlos ou em qualquer outro palco fora de Portugal. E isso, juntando-se a minha paixão crescente pela produção operática de Mozart desde há cerca de um ano, e a consciência de que esta produção fantástica se ergue em tão difícil panorama económico, fez-me devorar estas récitas de modo tão assíduo.

Desculpem-me os cantores se o facto de ter estado junto deles durante 4 noites e uma tarde, os ter conhecido nos bastidores, testemunhando a sua simpatia, e tendo sido possível a entrevista que acima puderam ler, incluindo registos de imagem em palco, me faz senti-los mais próximos e isso me torne à vontade para dizer: gracias Carmen, obrigado Luísa, obrigado Eduarda, obrigado João, obrigado Jorge e thank you Shawn. Ao mesmo tempo que foram alimentando a minha “Cosifantuttite” aguda, foram tratando-a com um excelente remédio de produção nacional. Este Così fica na minha memória como a referência pessoal até ao momento. Brevemente irei assistir à produção do Così fan tutte da Royal Opera House mas sei, à partida, que não irá estar ao vosso nível.

Tenho pena de não ter capacidade, dinheiro, poder, influência ou o que queiram chamar, para pôr o Teatro Nacional de São Carlos num rumo de qualidade como a que nos ofereceram nesta produção, e para dar uma oportunidade à Ópera em Portugal. Se pudesse cumprir todos os sonhos que têm a nível profissional fá-lo-ia de bom grado, porque vocês verdadeiramente o merecem.

Para mim, a Temporada estava salva se esquecessem La Rondine e se juntassem todos vós para um Don Giovanni. Chamavam o João Oliveira (cuja voz conheço bem, até mesmo antes dos tempos do São Carlos) para Comendador, arranjavam alguém para Masetto e tínhamos qualidade para por esta Lisboa e arredores do Mundo mais felizes. É disto que todos precisamos nesta altura difícil e Mozart, através da sua música, fez-nos ver que a felicidade pode estar nas coisas simples.

Bem hajam e... Obrigado!




Deixo-vos com os melhores momentos desta produção nos clips seguintes (o momento mais mágico em palco, na minha humilde opinião, foi com "Il core vi dono"):

















EXCLUSIVE INTERVIEW OF THE CAST OF COSÌ FAN TUTTE FROM THE TEATRO NACIONAL DE SÃO CARLOS, PORTUGAL, TO THE BLOG OPERA FANATICS

FULLY UPDATED WITH SOUND CLIPS OF THE PRODUCTION (at the end of the text) AND THE ANSWERS FROM ALL THE CAST MEMBERS!!!


The wonderful cast of Così fan tutte, which recently filled the Teatro Nacional de São Carlos, in its great generosity, acceded to the request made by me, through one of its members, João Merino (after his comment left on this blog), to answer some questions in an informal interview. It thus becomes the first cast to give an interview, exclusively for the Opera Fanatics blog. A great honor and a privilege for us and for all bloggers.

Mozart, this production of Così fan tutte and the panorama of the Opera in Portugal were the central themes.

I leave you the singers, in their own words:


Mozart is undoubtedly one of the best composers of all time. Così fan tutte, from the Da Ponte trilogy, is your favorite opera by Mozart? Why?

João Merino - For my kind of voice, any of the operas of the trilogy is fantastic, but I recognize that the Così is perhaps the most complete, most perfect in terms of balance as a spectacle.

Jorge Vaz de Carvalho - Mozart is my favorite composer, also in opera. Così fan tutte has some of the most sublime Mozartian writing (the trio "Soave sia il vento," the arias "Un'aura amorosa" and "Per pietà"), but it is great mainly by the ways it overcomes the dichotomy between opera seria/opera buffa, how deeply deals with the complex human psychology and the ambiguity (sweetness and cruelty) of the mysteries of love in multiple ways. If I had to choose only one Mozart opera, it would be Le Nozze di Figaro, in fact, for me, the best musical work of literature ever written.

Eduarda Melo - The trilogy is the result of a pair of geniuses! The three operas are masterpieces, but in my opinion, the best is Le Nozze di Figaro.

Luísa Francesconi – Of the trilogy, ironically, Così is the one I least enjoy.. I believe a few moments of Le Nozze di Figaro are unparalleled, as well as dramaturgical strength of the music of Don Giovanni. Nevertheless, it is a masterpiece, for sure. The trilogy is absolutely fantastic!

Carmen Romeu - The Da Ponte trilogy is a great partnership with Mozart's librettist Lorenzo da Ponte. The genius of these works is the combination of text with music, since you can tell that the music itself can repeat the text proposed by Da Ponte. The three for me are phenomenal. I cannot say that Così is my favorite. I prefer the drama of the libretto of Don Giovanni, though musically I adore the three works. They all have great moments of Mozart's genius.




This production of Così fan tutte, set in the lobby of a hotel, in a way departs from the original environment of the opera. Do you feel more comfortable in classic productions or you prefer modern productions?

João Merino - The creative directors tend to look for ways not always orthodox! Personally, if it makes sense, is logical or is justified dramaturgically, I have no objection.

Jorge Vaz de Carvalho - I have no preference for classical or modern productions, provided they are faithful to the spirit of the work. The “modern” scenarios (in the transposition of the action for times other than the original) had initially intended (praiseworthy) to show how certain events or feelings (the tyrannical cruelty of Scarpia, the psychological warrior strength and weakness of Othello, the sacrificial passion of La Traviata) are, after all, non-datable because characterize the human being as we know, at any time and place. Drifted up there for productions using only the operas as a pretext for achievements shows, designed better or worse, but without the humility that I consider essential: the genius is already in the composer (and, in the case of Mozart, it is even more striking!) - we are merely interpreters (which is already an extraordinary privilege), creators of fidelity, not for desertion.

Eduarda Melo - From the moment the intentions of the text are respected and that the construction of the character makes sense, any production gives me great pleasure to perform.

Luísa Francesconi - I prefer the classic productions where all scene indications are respected and the whole text makes sense.

Shawn Mathey - The most important thing to me is not the time period or style of the setting. It's the psychology that is driving the relationships between the characters. You could have a multi-million dollar set, but if nothing interesting and real is happening on stage, it doesn't matter.

Carmen Romeu - I generally prefer the productions that are faithful to the libretto, which does not mean they cannot be modern. If a modern production makes sense, I like it. However, to be honest, in Mozart, I prefer the classic productions.



Partial view of the scenario of Guy Joosten production - lobby of a hotel


What do you think that made this production so effective and special for those who have had the opportunity to see it?

João Merino – It is a production that has traveled around Europe in the last 15 years, thus it can only can good. In the case of "our" version I think the fact that it has a very balanced and cohesive cast made the difference. There were 6 weeks of very intense and highly detailed work! It was very stressful for all of us, and only with great unity and good relationship environment was possible to come to a good end.

Jorge Vaz de Carvalho - If you allow me to be redundant, I would say that the effectiveness of this production lies in the fact that it is an effective performance.

Eduarda Melo - singers with great vocal and dramatic qualities that had the courage and intelligence to turn stage space into a true "5-star hotel".

Luísa Francesconi - Maybe because it was practical and realistic.

Shawn Mathey - I think we were fortunate with this production to have a wonderful, elaborate set, and a generous amount of psychological detail. It kept the action moving and made the production believable.

Carmen Romeu - I believe that this production is very dynamic, full of movement and I think the viewer has a lot where to look.


Carmen Romeu (Fiordiligi), Eduarda Melo (Despina) and Luísa Francesconi (Dorabella) on the backstage, in the last night of the production - January 24, 2012




Which opera character do you most admire in Mozart operas and which would you still like to play?

João Merino – I have played almost all Mozart operas, but in fact the Don Giovanni has a charisma that I cannot deny it attracts me a lot and so I would like to do it again in the near future.

Jorge Vaz de Carvalho – In Mozart's operas, the character I most admire and that is the biggest challenge for the musical-dramatic singer is Don Giovanni. I have played happily throughout my career, all the mozartian roles I wanted to perform: Figaro and Count Almaviva in Le Nozze di Figaro, Don Giovanni and Leporello in Don Giovanni, Guglielmo and Don Alfonso in Così Fan Tutte and Papageno in Die Zauberflöte.

Eduarda Melo - There are many Mozartian characters that fascinate me ... Right now I'd love to play Susanna in Le Nozze di Figaro.

Luísa Francesconi - Is difficult to say which one I admire most ... Don Giovanni, Zerlina, Count Almaviva, Donna Elvira. I would still like to play Sesto, from La Clemenza di Tito, and Donna Elvira.

Shawn Mathey - I really admire Tamino. He believes in love - at the very core of his being. I have yet to sing Idomeneo. That's a challenge I'm looking forward to.

Carmen Romeu - The Mozartian characters I most admire are: Elettra in Idomeneo by his temperament and difficulty of the role; Donna Anna for the beauty of his music; Donna Elvira by her personality; and Fiodiligi for her great music and interpretative difficulty. I would like to play Donna Elvira, Elettra and Vitellia (from La Clemenza di Tito).



Shawn Mathey (Ferrando), Jorge Vaz de Carvalho (Don Alfonso) and João Merino (Guglielmo) in the dressing rooms after the last night of the production - January 24, 2012


In your opinion, what is missing in Portugal so that we can see more Opera productions? How could the Teatro Nacional de São Carlos overcome the financial difficulties of present times and still offer a good end of the season 2011-2012 and also future seasons, full of good opera?

João Merino - A real and effective law of patronage and a much greater government investment in culture! There is a misconception that the government spends too much money on the opera and who are actively involved in the their production are the only ones who win with that! Nothing could be more wrong! Who benefits from the investment of the government are the spectators who can have access to tickets at relatively affordable prices. The opera is and will always be an expensive art production.

For the Teatro Nacional de São Carlos, a strategy could pass by the profitability of existing productions and that have been successful such as the last year’s Chapéu de palha de Florença, increasing the number of performances by production and to make tours around the country. We have a network of dozens of new municipal theaters that could be good stages for opera productions and thus would take the opera to all populations. At the same time, casts with mainly Portuguese (we already have a considerable number of Portuguese quality singers to perform a large portion of the operatic repertoire!) would allow these singers to evolve and to dream with other stages outside Portugal.

Jorge Vaz de Carvalho - Portugal needs to have at least two permanent centers of opera production in Lisbon and Porto. Half of these productions, as a matter of profitability and not dispersion of resources might be interchangeable. But these production centers should also perform their productions for the service of the other cities of the country, taking advantage of the network of municipal theaters in operation, and make agreements with municipalities to bring people to the opera. To overcome economic difficulties, the Teatro Nacional de São Carlos has to solve the perennial problem of the heavy machine that is: most of the allocations are for operating expenses, rather than for the main purpose that must be the artistic production. It should recover their own products (instead of renting bad ones abroad) and invest in directors and designers who, with creativity, perform productions within the resources available (excellency does not mean expensive). On the other hand, with the quality of the portuguese voices, it has to break the cycle of waste of national valuable singers, by non-use and by loss of time and scarce resources on projects of unbelievable and atrocious amateur quality (like certain opera studios have been, and related companies). Working with good directors and conductors it is possible for young singers to develop their skills and competently perform operas with contained costs.

Eduarda Melo - public education, awareness and encourage young people to opera and greater investment in Portuguese artists.

Luísa Francesconi - Private incentives and a better organization of arts management agencies.

Carmen Romeu - I think this is a very difficult time for European countries and especially for the culture. I think the best solution is to make co-productions and return to productions that have already been done in the past. On the other hand, I think it is important to have some of the nights of a production at lower prices, thus facilitating the theater for young people, and arousing interest in the operatic genre.



Which are your professional plans for the future?

João Merino – To continue to invest in my career, auditioning for new productions and hoping the work will continue to appear.

Jorge Vaz de Carvalho - After nearly a career of three decades, and permanently (?) returned to Portugal since I took over, in 1999, the direction of the Oporto National Orchestra and build their symphonic ensemble, my immediate plans are to devote myself, especially to my students of the Faculty of Humanities at the Catholic University, to my literary work and translation. Fortunately, I can afford to accept only those operas that still interest me to perform.

Eduarda Melo - The Magic Flute at the Opéra de Marseille and the Barber of Seville at the Opéra de Lille.

Luísa Francesconi - Così fan tutte in São Paulo.

Shawn Mathey – Tamino from the Magic Flute, in Dallas.

Carmen Romeu - For now, several recitals, La Corte de Faraon in The Arriaga Theatre in Bilbao, Ciro in Babilonia at the Rossini Opera Festival...




Dear friends,

The past five representations of Così fan tutte at the Teatro Nacional de São Carlos, which took place between 14 and 24 January, and where (many would say, with some musical insanity) I was present in each one of them, I must finish this exclusive post with a complement to what I have said about the opening night.

I had the opportunity to attend several opera performances, as this blog is my witness, and even got to see some productions by 2 times, but never felt the desire to be present in more. With this Così was different. I fell in love with the scenario, the singers, the orchestra, the conductor, as I think never happened before, in the São Carlos or any other stage outside of Portugal. And that, along with my growing passion for the operatic production of Mozart for nearly a year, and the awareness that this fantastic production rises in such a difficult economic scenario, made me consume so eagerly this production.

Excuse me the singers if, for having been with them for 4 nights and one afternoon, having met then on backstage, witnessing their sympathy, and this interview being possible along with photos on stage, I feel them closer enough and confortable to say: gracias Carmen, thank you Luisa, thank you Eduarda, thank you João, thank you Jorge and thank you Shawn. While you were feeding my acute "Cosifantuttitis" you also have been treating it with an excellent domestic production remedy. This Così has become my personal reference to date. Soon I will watch the production of Così fan tutte at the Royal Opera House but I know from the outset that it will not be at your level.

I regret not having capacity, money, power, influence, or whatever you want to call, to put the Teatro Nacional de São Carlos on a course of quality as that offered in this production, and to give Opera another and true chance in Portugal. If I could fulfill all your artistic dreams I would do it willingly, because you truly deserve. If any of the music directors of the greatest opera houses in Europe and around the world will ever read this, trust our judgement and listen to these great artists. Give them an opportunity and you see they won’t fail.

For me, the season was complete if they forget La Rondine and ensemble you all for a Don Giovanni. They could call João Oliveira (whose voice I know well, even before the times of São Carlos) to be Il Commendatore, would get someone to do Masetto and had the quality to put Lisbon, and the rest of the world who would come to see you, happier. That's what we all need at this difficult time and Mozart, through his music, was able to tell us that happiness may lie in simple things.

Best wishes to you all and… Thank you!




I leave you with the best moments of this production in the following sound clips (in my humble opinion, the most magical moment on stage was with "Il core vi dono"):