sexta-feira, 6 de julho de 2012

SOPRANO BRASILEIRA É DISPENSADA POR ESTAR ACIMA DO PESO


Mais um texto de Ali Hassan Ayache do blogue Música, Ópera & Ballet que publicamos na íntegra:

O soprano estadunidense Deborah Voigt foi dispensada da companhia britânica Royal Opera House em 2004 por estar acima do peso. Alguém achou que a cantora não ficaria bem no figurino, um belo vestido preto, da ópera Ariadne auf Naxos de Richard Strauss. A famosa companhia londrina contratou na época um soprano menos "fofinha", a alemã Anne Schwanewilms.
Deborah Voigt não se deu por vencida, fez uma operação no estômago, perdeu 60 kilos e foi recontratada para a temporada 2007/2008 do Royal Opera House. A voz não é mais a mesma de tempos pretéritos, mas a silhueta combina bem melhor com as exigências atuais.

 Debora Voigt -foto Internet

Outra que sofreu com o peso e levou uma bronca em público foi Daniella Dessi. O soprano abandonou a ópera La Traviata de Verdi, em Roma, após comentários pra lá de maldosos do afamado diretor Franco Zeffirelli: “Ela não tem nada a ver com minha imagem de Violeta que, certamente, não era assim tão corpulenta”. “Ela é velha demais para convencer o público em uma trama que fala de paixão da juventude”. O soprano e o maridão Fabio Armiliato, que faria o papel de Alfredo, pediram demissão e saíram soltando marimbondos africanos por todos os lados.

Daniella Dessi-Foto Internet.

O advento do vídeo, primeiro em VHS, depois em DVD e mais recentemente em BLU-RAY e ópera nos cinemas, fez a imagem ganhar grande importância . Hoje diretores e público exigem cantores-atores que pareçam e interpretem o personagem. Ficar estático e soltar o vozeirão não são suficientes para se construir uma carreira lírica. Pavarotti, Caballé, Alessandra Marc estariam desempregados.

 Alessandra Marc-Foto Internet

Aconteceu também no Brasil, uma fonte me confidenciou e pediu sigilo absoluto. Recentemente em uma produção nacional um soprano foi dispensada por estar acima do peso e não combinar com a personagem. Chamaram uma estrangeira, sendo bonzinho com ela, a moça não passou do convencional. Errou entradas, antecipou compassos, esqueceu frases e se desencontrou com a orquestra diversas vezes. Mas, sua silhueta se adequava com a personagem em questão.
Será que vale a pena?

11 comentários:

  1. Caro Ali,
    Se este tipo de medidas tivesse sempre sido aplicada, não teríamos apreciado algumas das maiores vozes do século passado, como Horne, Callas, Caballé, Bergonzi, Pavarotti, Gigli e tantos tantos outros!

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  2. Caminhamos para a ópera visual. A música e as vozes deixam de interessar o público, apenas ávido de cantores bonitos e produções vistosas (no sentido do nunca-antes-visto). É a ditadura dos todo-poderosos encenadores.

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    1. A Anna Netrebko disse uma vez numa entrevista (já não sei a quem, vi na televisão) que a beleza fornece contratos mas se a voz e a técnica não prestarem, não há beleza que os aguente.

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    2. Não sei, Gi. Acredito que a Netrebko esteja enganada.

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    3. Actualmente acho que o que diz a Netrebko não estará muito distante da realidade em cada vez mais casos.
      Como já escrevi aqui várias vezes, sou dos que acha que a ópera é também um espectáculo para se ver e, se as produções forem visualmente agradáveis, para mim é mais um factor de agrado. Mas daí a exigir-se que os cantores sejam bonitos, vai uma distância que não é para percorrer. "Bonitos", sim, mas na interpretação vocal!

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    4. Claro que sim, mas temo que os valores vocais e musicais estejam a tornar-se cada vez mais desvalorizados pelos espectadores em geral.

      O Ali Hassan fala do DVD e dos outros suportes de vídeo que nos mostram grandes planos dos cantores. As transmissões em directo para grande ecrã também tendem a dar preferência a cantores que tenham boas relações com a câmara. Sabemos também que as vozes são amplificadas e, de certo modo, niveladas em estúdio. Penso que estas distorções não estão a fazer bem à Ópera enquanto espectáculo ao vivo.

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  3. Deborah Voigt: O Regresso do Pequeno Vestido Preto
    http://www.youtube.com/watch?v=kQqPauyGiVU

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  4. Gostaria de ver uma rapariguinha, já não digo de 16 anos, mas mesmo de 20 a tentar cantar Madama Buterfly. Todos nos habituámos a ver "the fat lady sings", e ninguém deixou de perceber que Buterfly era quase uma criança e que Turandot era a mulher mais linda do mundo por quem valia a pena morrer (a última que vi temi que abrisse um buraco no palco de S. Carlos). Já agora, espero que não proibam cantoras de voz poderosa cantarem a Traviata ou a Boheme. É que não fica bem a quem está a morrer tísica.

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  5. Comme d'habitude ,information comme il faut ,l'objectivitè
    est toujours bien respectè!
    Salutations,Willy

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  6. Creio que a presente ditadura exercida pela figura do encenador constituir-se-á, tão-somente, mais uma fase, ainda que assaz nefanda, no periclitante equilíbrio de forças que sustenta a Lírica internacional, sucedendo, historicamente, ao elemento puramente vocal e à direcção musical.

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