segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Un Ballo in Maschera – MetLive, Dezembro de 2012


 No Sábado passado assistimos na Fundação Gulbenkian a mais uma transmissão em HD da Metropolitan Opera, desta vez Un Ballo in Maschera de G. Verdi.


Foi talvez, de todas as transmissões que vi em Lisboa, aquela em que o som foi pior. Volume excessivo, os solistas pareciam cantar directamente para microfones mas, em certas posições no palco, ouviam-se mal e muito distorcidos.


A encenação de David Alden colocou a acção nas primeiras décadas do século XX. O palco esteve sempre muito vazio e toda a acção decorreu em tons de cinzento. Diversidade cromática praticamente só existiu na pintura que reproduz a queda de Ícaro, que esteve omnipresente, no tecto. Asas brancas teve o pajem Óscar e asas negras vários elementos do coro no baile de máscaras final. A relação entre o mito de Ícaro e o enredo da ópera não foi clara para mim. Apesar de algumas das movimentações em palco terem sido bizarras, achei a abordagem cénica aceitável.

(Fotografia /Photo: Ken Howard / Metropolitan Opera)

Os solistas foram de peso. Marcelo Alvarez foi um Gustavo III, rei da Suécia, de voz poderosa e ampla, embora pouco emotiva. O barítono Dmitri Hvorostovsky, interpretou Renato (conde Anckarström) ao elevado nível que nos tem habituado, mas foi algo sobranceiro nas intervenções iniciais. A Amélia de Sondra Radvanovsky foi óptima, imprimindo grande intensidade dramática à sua interpretação, cénica e vocal. Também marcante foi a Ulrica de Stephanie Blythe, sobretudo no registo mais grave. Kathleen Kim, soprano ligeiro, fez o que pode como Oscar, mas acho que a voz não é a ideal para a personagem.

Dirigiu com qualidade Fábio Luisi e Orquestra e Coro da Metropolitan Opera ao seu habitual nível superior.

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Un Ballo in Maschera - MetLive, December 2012

Last Saturday at Fundação Gulbenkian we had another HD broadcast from the Metropolitan Opera, this time Un Ballo in Maschera by G. Verdi.

It was perhaps, of all the broadcasts that I saw in Lisbon, the one in which the sound was worse. Excessive volume, the soloists seemed to sing directly into microphones but in certain positions on the stage, they were very badly and distorted heard.

The staging of David Alden placed the action in the first decades of the twentieth century. The stage was always very empty and all the action took place in grayscale. Chromatic diversity existed almost exclusively in the painting that reproduces the Fall of Icarus, that was omnipresent in the ceiling. The pageboy Oscar Had white wings and various elements of the choir at the masquerade final had black wings. The relationship between the myth of Icarus and the plot of the opera was not clear to me. Although some of the movements on stage were bizarre, I thought the scenic approach was acceptable.

The soloists were weight. Marcelo Alvarez was Gustav III, King of Sweden, with a powerful and wide range voice, although little emotional. Baritone Dmitri Hvorostovsky played Renato (Count Anckarström) at the usual high level quality, but he “overlooked” the initial interventions. Sondra Radvanovsky’s  Amelia was great, with a high dramatic intensity interpretation, artistic and vocal. Also striking was the Stephanie Blythe´s Ulrica, especially in the lower record. Kathleen Kim, soprano leggero, did what she could as Oscar, but I think the voice is not suitable for the character.

Fabio Luisi directed with quality. Orchestra and Chorus of the Metropolitan Opera were at their usual high level of quality.

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6 comentários:

  1. me gustaron más las chicas que los hombres, aún así una gran noche verdiana en una escena muy mal resuelta,

    saludos desde barcelona!

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  2. Caro Fanático,

    Quanto à encenação, estamos absolutamente de acordo: cinzenta, com uma ligação metafórica pouco compreensível, direcção de actores fraca. Serviu, mas não foi espectacular e não será uma referência.
    Quanto aos intérpretes, temos algumas opiniões discordantes.
    Alvarez foi um Gustavo de qualidade vocalmente, mas penso que falhou cenicamente - por culpa do encenador provavelmente. Aqui e ali demasiado cómico e a sua cena final é inverosímil: ninguém morre assim... e com todo aquele fervor...
    Hvorostovsky esteve realmente bem: tem uma voz magnífica e uma excelente presença. Penso que não consigo gostar tanto dele porque é irritantemente dono de um narcisismo do tamanho do palco: fica-lhe muito mal.
    Sondra Radvanovsky foi, na minha opinião, a pior da noite: deixou-me extremamente irritado. Penso que na ópera as palavras contam e a sua interpretação esqueceu as palavras em detrimento de uma emoção que não as expressou. Foi melhorando muito ligeiramente ao longo da récita, mas o seu italiano é sofrível...
    Stephanie Blythe tem uma figura e voz enormes e esteve muito bem, embora no registo agudo tenha sido um pouco áspera.
    Kim fez uma interpretação muito segura e vocalmente esteve muito bem e, quanto a mim, tem um timbre adequado.
    Quanto à orquestra: nada a dizer além de que é uma das melhores do mundo.
    Penso que esta ópera não é uma das mais inspiradas de Verdi e o libretto não ajuda.
    Saudações,

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    1. Caro companheiro de blogue,
      Alvarez tem uma voz magnífica, mas não é só força que se pretende. O encenador não ajudou, mas o cantor também não. Quanto a Hvorostovsky estamos de acordo, sobranceiro em excesso. Radvanovsky não terá fraseado na perfeição, concedo, mas é um soprano verdiano como raramente se encontram nos dias de hoje e, para mim, foi muito convincente. Se em relação a Stephanie Blythe estamos de acordo, já no que respeita à Kim não. Acho que não se adequa a este papel. Já vi esta cantora algumas vezes, tenho respeito pelo seu trabalho, aqui fez o que pôde, mas o Oscar não é para ela. Ainda bem que divergimos em certas interpretações, é também isso que anima o blogue.

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    2. Caríssimo camo_opera,

      é com particular agrado que, amiúde, contacto com impressões, cabalmente, dissimiles relativamente a obras de reportório como a presente.

      A possibilidade de aferição de uma vastíssima miríade de sensibilidades afigura-se assaz prazenteira por intermédio da forma como, benignamente, relativizam todo um ideário edificado em pré-concepções.

      Inversamente, considero Un Ballo in Maschera, não só um dos mais inspirados títulos da produção verdiana, como um pilar do romantismo musical italiano.

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  3. Concordamos em geral sobre esta transmissão.
    Também, como ao camo_opera, me irrita o narcisismo de Hvorostovsky, que tem uma voz bonita, uma boa figura, mas não é tão atraente como imagina nem é sequer um cantor sem falhas.
    A dicção de Radvanovsky é muito má e também me enerva tentar desesperadamente perceber o que está a ser cantado, mas de resto ela tem muito bom controle da emissão e, dentro dos seus limites, pareceu-me bem.
    O que já não se aguenta facilmente são cantores armados em estátuas cantantes...

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  4. Tentando agregar ao que já foi dito:

    1) A metáfora do Ícaro é óbviamente com o Rei, que, ao "desafiar os Deuses" (sendo imprudente em todos os atos que pratica), tem o fim que se espera. Tanto ele como Ícaro sabiam dos riscos que corriam e mesmo assim continuaram. Acho que é isso. Seria até interessante se não fosse tão óbviamente jogada na nossa cara durante toda a récita.

    2) De maneira geral gostei dos cantores. Os problemas que percebi ao meu ver tem muito mais a ver com a direção de cena e com os conceitos do diretor do que com os cantores. A Kim de Oscar não funciona simplesmente porque ela é baixa demais para fazer um "trouser role". Mesmo com um salto alto, ela, toda de branco, ficou parecendo o Tatoo da Ilha da Fantasia. Mas nada contra sua performance como cantora.

    3) Eu acho "Un Ballo en Maschera" uma grande ópera. Verdi nunca é chato, a narrativa anda num ritmo bom, a música sempre é bonita, não sei do que as pessoas reclamam...

    Resumindo, não é uma produção classe A (pro alto nível do que o Met faz normalmente), mas foi um bom divertimento.

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