domingo, 28 de abril de 2013

GIULIO CESARE de G. F. Handel — MET Live in HD, FCG — 27.04.2013


A ópera Giulio Cesare de Georg Friedrich Handel tem libreto de Nicola Francesco Haym e foi estreada no King’s Theatre em Londres no ano de 1724.

A história remonta ao ano 48 a.C. quando a guerra civil de Roma leva César em perseguição de Pompeu que, ao chegar a Alexandria, acaba morto por Ptolomeu, adolescente à frente do Egipto e irmão de Cleópatra, desencadeando um rebuliço geo-político-militar que se tornou um dos episódios iconográficos da história da decadência da república romana. Poderão lerão uma sinopse aqui.


A encenação de David McVicar pertence à Glyndebourne Festival Opera. Põe a acção base no período imperial inglês na Índia do século XIX. O palco está adiantado em relação ao habitual com cinco colunatas sucessivas. Ao fundo, quatro cilindros giratórios representam o mar da baía de Alexandria onde aparecem diversas frotas de barcos de diversos tipos e períodos históricos. Essa transversalidade histórica fica bem patente também no guarda-roupa muito variado. A encenação permite um acompanhamento muito eficaz da obra e expõe todo o espectro de emoções desta ópera que é cómica, trágica, romântica e dramática ao mesmo tempo. A direcção de actores, sempre muito adequada à música e ao texto, é absolutamente complexa e extremamente exigente do ponto de vista físico para os cantores, com imensos números acrobáticos e coreografias.


Giulio Cesare foi o contratenor David Daniels. O seu papel é vocalmente muito exigente e o encenador exigiu-lhe, também, uma enorme entrega física. O contratenor tem uma voz ampla, e encorpada e foi muito regular, oferecendo uma interpretação vocal de muito bom nível e uma enorme disponibilidade física.


O mezzo-soprano Patricia Bardon foi Cornélia. Apresentou-se com uma voz quente bem projectada e cenicamente em muito bom nível, sendo de destacar os seus duetos com Sexto.


Sexto, filho de Pompeu, foi interpretado pelo mezzo-soprano Alice Coote. Tem uma voz com um timbre belíssimo, sempre muito afinada e com uma amplitude muito bem controlada e com agudos perfeitos. Cenicamente esteve muito bem, tendo sido muito coerente e expressiva ao longo de toda a récita. No meu entender, foi o melhor e mais consistente cantor da récita.


O soprano francês Natalie Dessay foi Cleópatra. É um soprano que nos tem habituado a interpretações cénicas de excelência, o que se verificou hoje. Esteve sublime nesse componente. O papel era extremamente exigente e o encenador obrigou-a a fazer quase tudo no palco: até a mudar de roupa! Vocalmente é dotada de uma voz com um timbre muito agradável e, apesar de uma ou outra falha no ataque a uma ou outra nota aguda, teve uma interpretação de óptimo nível. Hoje, se havia dúvidas, demonstrou ser imbatível do ponto de vista cénico: é sobretudo uma actriz de mão cheia com uma voz enorme!


Ptolomeu foi interpretado pelo contratenor Christophe Dumaux. Dos contratenores em palco foi aquele de cuja voz mais gostei: tem um agudo muito bonito e bem sustentado e esteve em muito bom nível vocal. Cenicamente foi, também, uma revelação: faz tudo até piruetas e acrobacias de nível muito atlético. Ele e Dessay teriam nota artística elevada em provas de ginástica artística!


O barítono Guido Loconsolo foi Achilla. Tem uma envergadura física impressionante o que o ajudou cumprir eficazmente do ponto de vista cénico. A sua voz tem um timbre convencional, mas esteve técnica e interpretativamente muito bem. Teve, pois, uma excelente estreia no MET.


O contratenor Rachid Ben Abdeslamm foi Nireno. O seu papel não é muito extenso, mas é extremamente cómico. Fê-lo na perfeição vocal e cenicamente, tendo sido mais uma óptima estreia no MET.


Harry Bicket foi o maestro que dirigiu a Orquestra do Metropolitan e foi também o intérprete do cravo. O nível foi óptimo com um som de orquestra barroca assinalável, muito elegante e brilhante. Foi acompanhado, também, por David Chan, o violinista que sob ao palco para acompanhar Giulio Cesare: além da sua óptima interpretação, acompanhou de modo sublime Daniels com uma expressividade corporal assinalável.

Assistiu-se, portanto, a um conjunto de excelentes interpretações vocais e orquestrais secundados por uma encenação de grande qualidade. Que óptima maneira de acabar a temporada do MET Live in HD!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O RAPTO DO SERRALHO / DIE ENTFÜHRUNG AUS DEM SERAIL, Opernhaus Zürich, Janeiro de 2013


(review in English below)

O Rapto do Serralho é uma ópera de Mozart com libreto de Gottlieb Stephanie. Konstanze, a sua criada Blonde e o namorado Pedrillo estão prisioneiros do Pacha Selim num serralho na Turquia. Belmonte, um nobre espanhol, tenta libertar a sua amada Konstanze e os outros prisioneiros mas encontra a oposição de Osmin, o guarda do serralho. O Pacha vê, insistentemente, rejeitado o seu amor por Konstanze. Depois de várias peripécias os prisioneiros são libertados e tudo acaba em harmonia. No centro desta comédia escrita em alemão está o choque das duas culturas.



 A Ópera de Zurique apresentou uma produção de Adrian Marthaler. A encenação foi pouco interessante. O primeiro acto decorre à beira mar, num local semelhante a uma lixeira. Ouvem-se cães, gaivotas e grilos (!) ao longo da acção. Para além do lixo espalhado pelo palco, há apenas um caminho de pedras. O segundo acto passa-se no exterior do palácio do Pacha Selim, que mais parece um bairro social. O terceiro acto decorre no interior do palácio, em salas vazias, apenas com espelhos nas paredes. Desinteressante e com pouco sentido.



 O maestro Patrick Lange dirigiu a Orquestra Filarmónica de Zurique e o Coro da Ópera de Zurique. Cumpriram sem impressionar.




 O tenor mexicano Javier Camarena fez um Belmonte de bom nível e foi uma das melhores interpretações que lhe ouvi. Em palco esteve bem. Ofereceu-nos uma voz poderosa, bem colocada em todos os registos e muito interessante nos agudos.


 A Konstanze foi interpretada pelo soprano Jane Archibald. Não gostei porque gritou mais que cantou, foi banal no registo médio e incomodativa nos agudos. Sei que o papel tem árias de grande dificuldade, como Martern aller Arten, mas a cantora não esteve à altura, o que foi pena.


 O tenor Michael Laurenz foi um Pedrillo regular mas sem nenhuma característica que impressionasse positivamente. Cumpriu.


 Blonde foi interpretada pelo soprano Rebeca Olvera. Foi outra cantora decepcionante. A voz é pequena e mal se ouve e a presença em palco também não cativa


O baixo Thorsen Grümbel foi o outro cantou que se destacou nesta récita como Osmin. Cenicamente foi banal mas ofereceu-nos uma voz que, não sendo grande, esteve sempre afinada e com um registo grave assinalável.


 Um espectáculo que ficou muito aquém das minhas expectativas.





**


 THE ABDUCTION FROM THE SERAGLIO / DIE ENTFÜHRUNG AUS DEM SERAIL, Opernhaus Zürich, January 2013

The Abduction from the Seraglio is a Mozart opera with libretto by Gottlieb Stephanie. Konstanze, her maid Blonde and her boyfriend Pedrillo are prisoners of the Pasha Selim at a seraglio in Turkey. Belmonte, a Spanish nobleman, tries to free his beloved Konstanze and the other prisoners but is opposed by Osmin, the guardian of the seraglio. The Pacha sees insistently rejected his love for Konstanze. After several adventures the prisoners regain freedom and everything ends in harmony. At the center of this comedy written in German is the clash of the two cultures.

Zurich Opera House presented a production of Adrian Marthaler. The staging was not interesting. The first act takes place by the sea, in a place like a dump. We hear dogs seagulls and crickets. Beyond the garbage scattered around the stage, there is only one path of stones. The second act is set in the exterior of the palace of the Pasha Selim, that looks like a housing estate. The third act takes place inside the palace, in empty rooms, only with mirrors on the walls.

Conductor Patrick Lange directed the Zurich Philharmonic Orchestra and the Zurich Opera Chorus. They were ok but not impressive.

Mexican tenor Javier Camarena interpreted a good Belmonte and he was one of the best performances heard this night. On stage he was well. He offered us a powerful voice, well tuned in all registers and very interesting in the top notes.

Konstanze was interpreted by soprano Jane Archibald. I id not like her performance because she shouted more than sang. She was regular in middle register but ugly in the high register. I know that her part has arias of great difficulty, such as Martern aller Arten, but the singer failed to match what it was worth.

Tenor Michael Laurenz was a regular Pedrillo without any characteristic that positively impressed.He was just OK.

Blonde was interpreted by soprano Rebeca Olvera. She was another disappointing singer. The voice was small and could barely be heard, and on stage she was also not captive

Bass Thorsen Grümbel was the other singer that stood out in this performance as Osmin. Artistically he was banal but he offered us a voice which, although not big, was always in tune and with a remarkable low register.

A performance that fell far short of my expectations.

**

domingo, 21 de abril de 2013

DAVID AFKHAM na FCG, 18.04.2013


David Afkham, o jovem maestro alemão, voltou a dirigir a Orquestra da Fundação Calouste Gulbenkian. O ano passado tinha deixado uma óptima impressão na direcção de obras como a Sinfonia n.º 7 de Schostakovich ou o Crepúsculo dos Deuses de Wagner, passando ainda, por exemplo, pelas Metamorfoses de Ligeti. A energia, precisão e clareza da sua condução ficaram na memória.
Esta temporada dirigiu as Sinfonias n.º 2 de Brahms e n.º 4 de Schumann. E foi brilhante! Uma vez mais demonstrou toda a sua enorme comepetência. Tem um tempo magnífico, interpreta as obras de modo que transparece um estudo aturado das partituras e do contexto das obras e é extremamente elegante. A sua direção é muito clara, precisa, com um controlo dos naipes absoluto e sabe dar ênfase aos diversos momentos melódicos com excelentes modulações. Além disso, podia ser cerebral, mas não! Dá-nos música mesmo e quem segue o seu gesto expressivo poderá prever exactamente o que vai acontecer. Se há maestro que mostra a relevância do homem que dirige uma orquestra é David Afkham. É que não minto quando digo que a Orquestra da FCG soa de outro modo: tem um som nítido e sem distorções e funciona como um corpo único cuja cabeça é David Afkham. Este eleva-a a um patamar de excelência. Vale a pena seguir este jovem porque terá certamente a relevância internacional que demonstra merecer.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

LA TRAVIATA – Teatro de São Carlos, Lisboa, Abril de 2013


 La Traviata, de G. Verdi com libretto de Francesco Maria Piave é uma das óperas mais conhecidas e populares. A música é de grande beleza e crescente intensidade dramática. A história pode ler-se aqui.




A encenação, de Francesco Esposito, é perfeitamente aceitável para os actuais tempos de crise. A acção é trazida para o presente, o cenário está rodeado de camarotes de teatro que se vão progressivamente esvaziando até ficarem apenas as estruturas de base. É um espectáculo dentro do espectáculo.Talvez este seja o aspecto mais interessante, muito ajudado pelos eficazes jogos de luz.
Tem também algumas incoerências e situações disparatadas. Dou apenas um exemplo de cada. Não fosse o Dr Grenvil dizê-lo, ninguém perceberia que Violetta estava a morrer tuberculosa. No 3º acto, quando Alfredo reaparece, não encontra melhor local para pôr os sapatos do que sobre as almofadas do leito de morte de Violeta, com ela lá!  


 A Orquestra Sinfónica Portuguesa esteve bem e o Coro do Teatro de São Carlos também. Até o maestro Martin André conseguiu dirigir fazendo poucos ruídos, por oposição à sua postura no Trovador, mas nunca conseguiu o dramatismo exigido.

O soprano Daniela Schillaci interpretou a Violetta Valéry. A voz é cheia, bem audível mas agressiva e com tendência para a estridência, sobretudo no registo mais agudo. A cantora tem uma boa figura e foi credível na interpretação cénica. Não se notou grande desespero na leitura da carta (e não olhou para ela enquanto a leu) mas logo a seguir, na ária Addio del passato, esteve bem, sem encantar.


 Andrés Veramendi, tenor, foi Alfredo Germont. Uma tristeza! Não tem voz nem postura em palco para um papel desta envergadura. A emissão foi irregular, frequentemente desafinada e sem emotividade.


 Giorgio Germont foi interpretado pelo barítono Damián del Castillo. Tem uma voz agradável mas a projecção não foi a melhor. A figura é excelente, a interpretação cénica foi decente mas é demasiado jovem para a personagem e parecia ser ele o filho e não o pai.


 Nos papéis secundários tivemos curtas mas boas interpretações. Joana Seara foi uma Aninna de voz segura e bem afinada, Luís Rodrigues foi um Doutor Grenvil muito convincente, Mário Redondo foi um excelente Barão Douphol  e Marco Alves dos Santos e João Merino deram boa presença a Gastone e ao Marquês d’Obigny.






A razão para não serem escolhidos cantores portugueses para os protagonistas é, para mim, incompreensível. Será só provincianismo e aquela ideia de que tudo o que vem de fora é necessariamente melhor? Não posso aceitar, seria mau de mais.

Não espero ouvir em São Carlos os melhores cantores estrangeiros da actualidade, sei que nos tempos que correm não é possível trazê-los ao nosso único teatro nacional de ópera (ao contrário do que aconteceu no passado), mas há um mínimo de qualidade que deveria ser garantido, mínimo esse que, na minha opinião, é suplantado por vários cantores portugueses que são incompreensivelmente arrastados para os papéis secundários.

Partilho a minha perplexidade com os meus amigos que escrevem neste blogue. Quem o lê pode constatar que, felizmente, temos tido muitas oportunidades de ver ópera, muito boa e muito má, cá e, sobretudo, fora. Por isso sentimos que o podemos dizer com algum conhecimento de causa (perdoem-nos a imodéstia).

**


LA TRAVIATA - Teatro de São Carlos, Lisbon, April 2013

 La Traviata by G. Verdi with libretto by Francesco Maria Piave is one of the best known and popular operas. The music is of great beauty and increasing dramatic intensity. The story can be read here.

The staging of Francesco Esposito, is perfectly acceptable for the current times of crisis. The action is brought to the present, the stage is surrounded by theater boxes that will become progressively faded until only the basic structures remain. Perhaps this is the most interesting aspect, greatly helped by efficient light projections.
It also has some inconsistencies and nonsense situations. I give just one example of each. If Dr Grenvil had not said it, no one would notice that Violetta was dying of tuberculosis. In the 3rd act, when Alfredo reappears, there was no best place to put his shoes than on the cushions of the deathbed of Violet, with her there!

The Portuguese Symphony Orchestra played well and Choir of Teatro São Carlos too. Even maestro Martin André managed to direct without making a lot of noise, as opposed to his performance in Il Trovatore, but he never achieved the required dramatic intensity.

Soprano Daniela Schillaci was Violetta Valéry. The voice is full, loud and clear but aggressive, with a tendency to stridency, especially in the top register. The singer has a good figure and she was credible in her scenic interpretation. She did not reveal great despair while reading the letter (and she did not look at it while reading) but the aria Addio del passato was fine.

Andrés Veramendi, tenor, was Alfredo Germont. A sadness! He has no voice or posture on stage for a role of this magnitude. The singing was irregular, often tuneless and unemotional.

Giorgio Germont was interpreted by baritone Damian del Castillo. He has a pleasant voice but the projection was not the best. The figure is excellent, his artistic interpretation was decent but he is too young for the character. He seemed to be the son and not the father.

In supporting roles we heard short but good interpretations. Joana Seara was a secure and finely tuned voice Aninna, Luís Rodrigues was a very convincing Doctor Grenvil, Mário Redondo was an excellent Baron Douphol and Marco Alves dos Santos and João Merino were well as Gastone and the Marquis d'Obigny.
The reason why Portuguese singers are not chosen for leading roles is, to me, incomprehensible. Is this only parochial and that idea that everything that comes from abroad is necessarily better? I can not accept that, it would be too bad.

I do not expect to hear today the best foreign singers in Teatro de São Carlos, I know that these days we can not afford to bring them to our unique national opera theater (unlike what happened in the past). But there is a minimum quality that should be guaranteed and, in my opinion, that is offered by several Portuguese singers that are incomprehensibly dragged to supporting roles.

I share my amazement with my friends who write on this blog. Those who read it can see that, fortunately, we have had many opportunities to see very good and very bad operas here, and especially abroad. So we feel that we can say this with some knowledge of the facts (forgive the immodesty).

**

domingo, 14 de abril de 2013

IL TROVATORE de Giuseppe Verdi no Teatro Nacional de São Carlos, 14.04.2013


(Review in English below)


A ópera Il Trovatore de Giuseppe Verdi foi estreada a 19 de Janeiro de 1853 no Teatro Apollo em Roma. O libretista foi o italiano Salvador Cammarano que se baseou na peça El trovador do espanhol Antonio García Gutiérez. É uma das mais famosas óperas de Verdi e foi a 21.ª ópera mais representada entre 2007 e 2012.


A encenação ficou a cargo de Francesco Esposito. Decidiu modernizar a ópera que se passa no século XV. O problema maior é que o texto está cheio de referências a situações e coisas não transponíveis para os tempos de hoje: guerras de condes, espadas, cercos a castelos, etc. Utilizou estruturas metálicas com painéis para fazer edifícios de betão. Transformou os homens do Conde em guerreiros com metralhadoras. O castelo numa camarata militar com beliches. Azucena é uma cigana com medalhas militares alcoólica temida pelos militares. Em suma, pode dizer-se que, apesar de a história se seguir, a encenação estava totalmente desadequada ao século XV e não houve esforço de uma real adaptação aos tempos de hoje.


A Orquestra Sinfónica Portuguesa não estiveram em grande plano. Martin André teve uma interpretação muito irregular no tempo, com desencontros frequentes com os solistas, muito pouco clara no som e com alguns naipes a falhar (os sopros no famoso coro que abre o 2.º acto) e a apostar em finais demasiado... apoteóticos...


Os solistas também não foram brilhantes.
O soprano italiano Rachele Stanisci foi Leonora. A voz tem um timbre ligeiramente sujo e não é especialmente belo. Teve uma interpretação cénica aceitável, embora a direcção de actores a tenha feito ser histérica: sempre a apontar-se uma arma à cabeça. Mas a interpretação vocal esteve longe de ser magnífica com muitas estridências nos agudos.

O mezzo-soprano italiano Agostina Smimmero foi Azucena. Cenicamente esteve em bom plano, conseguindo transmitir os sentimentos trágicos da ópera, nomeadamente quando conta a Manrico a morte da mãe e do seu filho. Vocalmente, apesar de não ter a voz potente e timbre escuro em toda a amplitude vocal típica dos mezzo verdianos, foi regular e teve a interpretação mais conseguida da récita.


O tenor sérvio Ivan Momirov foi Manrico. Apesar de após o intervalo do 2.º acto ter sido anunciado que o tenor estava indisposto e que, ainda assim, iria continuar, teve uma interpretação vocal sofrível. É verdade que tem potência vocal e que foi sempre audível, mas o timbre da voz não é agradável, esteve sempre em esforço para atingir as notas agudas e tem um tom lamurioso.

O barítono letão Valdis Jansons foi Il Conte di Luna. Cenicamente teve uma postura um pouco estática e, vocalmente foi regular, apesar de alguma dificuldade na projecção ao início.

O baixo italiano Giovanni Furlanetto foi Ferrando. Teve uma interpretação cénica eficaz e vocalmente, embora regular, não encantou.

Os restantes elementos têm papéis demasiado menores para se fazer uma avaliação.


Assim, pode afirmar-se que se assistiu a uma récita homogénea, mas pautada pela diminuta qualidade vocal e orquestral com uma encenação pouco adequada ao texto. Tendo em conta a escassez de recursos, continua a não ser compreensível o porquê de se apostar em cantores estrangeiros e não nos portugueses que nem oportunidade para se mostrar têm, o mesmo se aplicando aos encenadores. Porque não ir buscar aos caixotes do TNSC uma encenação das antigas?

--------------
(Review in English)

The opera Il Trovatore of Guiseppe Verdi had its premiere in January 19, 1853 at the Teatro Apollo in Rome. The Italian Salvador Cammarano wrote the libretto that was based on the Spanish play El trobador by Antonio García Gutierez. It is one of the most famous operas of Verdi and was 21st most represented opera between 2007 and 2012.

Francesco Esposito did the staging decided to modernize the opera that takes place in the fifteenth century. The bigger problem is that the text is full of references to situations and things do not translated to modern times: wars between counts, swords, castles sieges, etc. Metal structures were used to make concrete buildings. Cout’s men were turned men into warriors with lot of guns. The castle was transformed in a military dormitory with bunk beds. Gypsy Azucena is an alcoholic with military medals feared by the military. In short, it can be said that although the storyline is followed, the scenario was totally inadequate to the fifteenth century and there was no real effort to adapt it to modern times.

The Portuguese Symphony Orchestra was not in good plan. Martin André had an interpretation very irregular in tempo, with frequent clashes with the soloists and bet on apotheotic finales…

The soloists were not brilliant.
The Italian soprano Rachele Stanisci was Leonora. The voice has a timbre slightly dirty and not especially beautiful. She had an acceptable scenic interpretation, although the direction of the actors has done her to be hysterical: always pointing a gun up to her head. But the vocal interpretation was far from the shrillness, shouting pitch notes a lot.
The Italian mezzo-soprano Agostina Smimmero was Azucena. Scenically she was in good plan, managing to convey the feelings of the tragic opera, particularly when tells Manrico her mother and son deaths. Vocally, despite not having a powerful voice and dark tone throughout the vocal range of typical Verdian mezzo, she was regular.
The tenor Manrico was Serbian Ivan Momirov. Although after the 2nd intermission has been announced that the tenor was unwell and that he still will continue, he had an insufficient vocal interpretation. He has vocal power and was always audible, but his timbre is not pleasant, he was always in effort to reach the high notes and has a plaintive tone.
The Latvian baritone Valdis Jansons was Il Conte di Luna. Scenically he was slightly static and vocally was regular, although with some difficulties in vocal projection at the beginning.
The Italian bass Giovanni Furlanetto was Ferrando. Scenically he had an effective interpretation and vocally, although regular, he did not charmed.
The remaining elements have roles too minor to make an assessment.

Thus, it can be said that there has been a regular performance uniform, but guided by faulty quality at orchestral and vocal levels with a staging not adapted to text. Given the scarcity of resources, it is still not understandable why to invest in foreign singers and not the Portuguese who neither have the opportunity to show them. The same applies to directors. Why not pick up on TNSC’s archives an old good stage?