domingo, 18 de maio de 2014

LA GIOCONDA, Teatro de São Carlos, Maio de 2014

(review in english below)

La Gioconda, de A. Ponchielli com libreto de Arrigo Boito, esteve em cena, em versão concerto, no Teatro Nacional de São Carlos.


O Maestro Antonio Pirolli dirigiu superiormente a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Ambos tiveram desempenhos de grande qualidade, contribuindo significativamente para a elevada qualidade do espectáculo.


 Elisabete Matos foi La Gioconda. Um luxo! Desempenho dramático sensacional associado a uma interpretação vocal fabulosa ao longo de toda a récita, mas com um último acto de referência. Sim, o Suicidio foi brilhante, mas tudo o resto também. Ponchielli, onde quer que esteja, sabe que, no início do Séc XXI, La Gioconda é La Matos!


 No final da récita a que assisti, Elisabete Matos emocionou-se com os aplausos calorosos (e justíssimos) do público. Os Grandes são assim!

O barítono espanhol Luis Cansino foi um Branaba excelente. Voz bonita, de grande potência e musicalidade, impressionou pela segurança e consistência ao longo de toda a récita.




 Maria Luísa de Freitas foi La Cieca, mãe de Gioconda. Também teve uma interpretação vocal muito agradável.


 Laura foi interpretada pelo mezzo búlgaro Mariana Pentcheva. Outra voz poderosa e escura, com boa projecção. Por duas vezes achei que faltou fôlego à cantora para terminar as notas.


 Alvise foi o baixo brasileiro Luiz-Ottavio Faria que se impôs vocalmente, oferecendo-nos uma voz segura, forte, bonita e afinada.


 O tenor italiano Mario Malagnini foi Enzo. Teve uma interpretação irregular, alternando períodos de bom nível vocal com outros em que a voz soava pequena e perdia qualidade no registo mais agudo.


 Deixaram boa impressão João Oliveira como Zuàne/piloto, Marco Alves dos Santos como Isépo e Manuel Rebelo como cantor.



 Lamento muito que a ópera não tenha sido encenada. Para mim, que tenho visto muitas encenações péssimas (algumas em São Carlos e muitas mais no estrangeiro), continuo a achar que uma ópera em versão concerto é uma ópera amputada. E hoje, mais uma vez, assim foi.
Houve uma tentativa de incluir algum movimento cénico. Mas faltaram muitos gestos e objectos essenciais e simples de usar, mesmo nesta abordagem (por exemplo o punhal). Maria Luísa de Freitas tentou comportar-se como mãe cega de Gioconda, mas esteve constantemente a olhar para a partitura. E que dizer da “Dança das Horas”? E poderia continuar, mas não acho necessário…
A terminar saliento que, apesar de em versão concerto, foi um dos melhores espectáculos a que assisti nos últimos anos no nosso único teatro nacional de ópera.






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La Gioconda, Teatro de São Carlos, May 2014

La Gioconda by A. Ponchielli with libretto by Arrigo Boito was on stage, in concert version, at the Teatro Nacional de São Carlos, Lisbon.

Maestro Antonio Pirolli superiorly directed the Portuguese Symphony Orchestra and Chorus of the Teatro Nacional de São Carlos. Both performances were of great quality and contributed significantly to the high quality of the performance.

Elisabete Matos was La Gioconda. A luxury! Phenomenal dramatic performance associated with a fabulous vocal performance throughout the performance, but with a final act of reference. Yes, Suicidio was brilliant, but everything else too. Ponchielli, wherever he may be, knows that at the beginning of XXI century, La Gioconda is La Matos!
At the end of the performance I attended, Elisabete Matos was emotionally touched by the warm (and deserved!) applause from the audience.
The grand ones are like that!

Spanish baritone Luis Cansino was an excellent Branaba. Beautiful voice, with great power and musicality, he impressed by the security and consistency throughout the performance.

Maria Luisa de Freitas was La Cieca, Gioconda 's mother. She also had a very nice voice performance.

Laura was interpreted by the Bulgarian mezzo Mariana Pentcheva. Another powerful and dark voice, with good projection. Twice I thought she lacked breath to finish the notes.

Alvise was interpreted by the Brazilian bass Luiz-Ottavio Faria. Self-imposed vocally, offering us a secure, strong, beautiful and refined voice.

Italian tenor Mario Malagnini was Enzo. HehHad an irregular performance, alternating periods of good vocal level with others in that the voice sounded small and lost quality in the upper register.

João Oliveira was OK as Zuane, Marco Alves dos Santos and Manuel Rebelo as Isépo and as a singer.

I regret that the opera has not been staged. I have seen many bad stagings of operas (some in São Carlos Opera House and many more abroad), but I still think that an opera in concert version is an amputee opera. And this time, once again, it was so.
An attempt was made to include some scenic movement. But it lacked many essential gestures and objects simple to use, even in this approach (eg the dagger) . Maria Luisa de Freitas tried to behave like blind, but she was constantly looking at the score  And what about the "Danze delle Ore" ? And I could go on...
Finally I note that, although in concert version, this was one of the best performances I have seen in recent years in our single national opera house.


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3 comentários:

  1. Fico muito contente que tenha conseguido assistir à última récita. Também gostaria de ter ido ontem, mas só pude ir às duas primeiras. Uma Gioconda memorável.

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  2. Valeu bem a pena, portanto. Tenho muita pena de não ter assistido, mas razões profissionais impediram-me. Que bom que a "nossa" Elisabete Matos continue a brilhar!

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  3. Só mesmo quem esteve presente pode ter o privilégio de se arrepiar e emocionar com tão soberba interpretação. A Elisabete deixou a sala ao rubro, com a sua capacidade vocal aliada a uma interpretação plena de pormenores encheu o palco "agarrou" todo o elenco e catapultou o coro e a orquestra para uma atuação fantástica. Pena foi que alguns dos cantores se tenham agarrado tanto à partitura, principalmente nos duetos. Foi estranho ver a Elisabete a tentar interagir e a receber olhares na partitura... (versão concerto, mas...)

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