sábado, 21 de fevereiro de 2015

TANNHÄUSER, Wiener Staatsoper, Novembro de 2014 / November 2014

(review in English below)

Tannhäuser de R Wagner, esteve em cena na Ópera de Viena, na versão de Dresden (sem corpo de baile / bacanal no 1º acto).

A encenação de Claus Guth é marcante. A acção é trazida para os finais do século XIX, em Viena, período freudiano por excelência, em que as doenças psiquiátricas são alvo de grande interesse. E é esta a abordagem central de toda a encenação.
No primeiro acto, há uma cortina igual à do teatro da ópera de Viena (mais uma vez, a ópera dentro da ópera, Guth também não o evita) e enquanto o verdadeiro Tannhäuser canta na parte da frente do palco, um duplo está na parte de trás, interagindo com a Venus. Toda a viagem ao Venusberg é imaginação de Tannhäuser.
O Halle do 2º acto é um dos salões da Ópera de Viena, onde ocorre o concurso poético sobre a essência do amor. O conflito entre o amor carnal e o espitirual leva Tannhäuser à loucura.
No 3º acto aparece numa cama, internado num asilo psiquiátrico, onde é cuidado por Elisabeth. A viagem a Roma para expiar os pecados foi também imaginária e os peregrinos, que se autoflagelavam, são doentes no asilo. Elisabeth mata-se tomando uma dose excessiva dos comprimidos de Tannhäuser.
Claus Guth é fantástico a encenar Wagner e esta é mais uma obra reveladora do seu talento.



A Orquestra da Ópera de Viena foi dirigida pelo maestro Peter Schneider que impôs um tempo lento no início, mas depois foi excelente. 




O Coro da Ópera de Viena foi superlativo, tanto quando esteve em cena como quando cantou fora do palco.


O tenor americano Robert Dean Smith esteve aquém do desejável na interpretação do Tannhäuser. A voz foi frequentemente abafada pela orquestra sempre que tocava mais forte e revelou manifesta dificuldade no registo agudo, ao longo de toda a récita. A perda de qualidade vocal foi em crescendo e, frequentemente, cantou desafinado. Só no último acto melhorou um pouco. Foi pena, num espectáculo desta qualidade, destoou de todos os outros cantores.


Iréne Theorin, soprano sueca, cantou a Venus com segurança e correcção. Nesta encenação a personagem é muito estática e nada sensual nem carnal.


A Elisabeth da soprano finlandesa Camilla Nylund foi óptima. A cantora foi muito expressiva em toda a sua actuação vocal e cénica e a voz foi sempre bem projectada, redonda e afinada. Curiosamente, o timbre faz lembrar a sua conterrânea Karita Mattila.


O melhor cantor da noite foi, de longe, o barítono alemão Christian Gerhaher. Fez um Wolfram de ir às lágrimas, com uma voz maravilhosa em expressão e intensidade dramática, insuperável. Usa a meia voz na perfeição e, cantando baixo, deve ouvir-se no local mais longínquo do teatro. Contudo, quando necessário, a potencia é extraordinária. Foi uma daquelas interpretações a que se assiste uma ou duas vezes numa temporada. Absolutamente fabuloso!



Os baixos também foram excelentes. O sul coreano Kwangchul Youn foi um Hermann irrepreensível e o romeno Sorin Coliban um Biterolf sensacional!



O Walter de Norbert Ernst, o Heinrich de James Kryshak e o Reinmar de Dan Paul Dumitrescu cumpriram bem, mas os seus papéis são pequenos.








Um Tannäuser inesquecível na Ópera de Viena!

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Tannhäuser, Wiener Staatsoper, November 2014

Tannhäuser by R. Wagner, was on stage at the Vienna State Opera (the Dresden version - no ballet / bacchanal in the 1st act).

Claus Guth's staging is striking. The action is brought to the end of the nineteenth century in Vienna, Freud's times in which psychiatric disorders are the subject of considerable interest. And this is the central approach to the whole production.
In the first act, there is a curtain identical to that of the Vienna Opera House (again, opera within the opera, Guth also uses this common approach) and Tannhäuser sings on the front part of the stage, while on the back there is his double, interacting with Venus. The entire trip to the Venusberg is Tannhäuser’s imagination.
The 2nd act Halle is one of the halls of the Vienna State Opera, where the poetic contest on the essence of love occurs. The conflict between carnal and spiritual love leads Tannhäuser to madness.
In 3rd act Tannhäuser is lying on a bed in a mental asylum, where he is cared for by Elisabeth. The trip to Rome to be forgiven for the sins was also imaginary and the returning pilgrims are mental patients in the asylum. Elisabeth kills herself by taking an overdose of Tannhäuser’s tablets.
Claus Guth is fantastic staging Wagner, and this is one more revealing work of his talent.

Vienna State Opera Orchestra was conducted by Maestro Peter Schneider who imposed a slow tempo at first, but then was excellent. The Choir of the Vienna State Opera was superlative, both on and off offstage.

American tenor Robert Dean Smith was not imposing in the interpretation of Tannhäuser. His voice was often drowned out by the orchestra and he showed difficulties in the high register throughout the performance. Frequently he sang out of tune. Only in the last act he recovered. It was a pity. In a performance of this quality, he was inferior to all other singers.

Iréne Theorin, Swedish soprano, sang Venus safely and correctly. In this scenario the character is very static and without any sexual attraction.

Finnish soprano Camilla Nylund was an excellent Elisabeth. The singer was very expressive, both in the vocal and scenic components. Her voice was always well heard, smooth and tuned. Interestingly, the timbre is reminiscent of her compatriot Karita Mattila.

The best singer of the night was, by far, the German baritone Christian Gerhaher. His Wolfram was astonishing, with a wonderful voice and dramatic expression, and unsurpassed intensity. He used the mezza voce perfectly, and though singing quiet, he should be heard in the farthest spot of the theater. However, when necessary, the vocal power was extraordinary. It was one of those performances that you watch once or twice in a season. Absolutely fabulous!

The basses were also excellent. South Korean Kwangchul Youn was a blameless Hermann, and Romanian Sorin Coliban a sensational Biterolf!

Norbert Ernst’s Walter, James Kryshak’s Heinrich, and Dan Paul Dumitrescu’s Reinmar were also very well, but their roles are small.

An unforgettable Tannäuser in Vienna!


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