segunda-feira, 21 de março de 2016

DON QUIXOTE, Theatro de São Pedro, São Paulo, Março de 2016

DON QUIXOTE ABRE TEMPORADA DE ÓPERAS DO THEATRO SÃO PEDRO.

Crítica de Ali Hassan Ayache do blog de Ópera e Ballet:



Toda a força da obra de Jules Massenet está nas melodias encantadoras, foi criticado na sua época por seus pares por ser demasiado popularesco. O sentimentalismo em excesso presente na sua escrita deixou óperas inesquecíveis e que são queridas do grande público e se encontram no repertório dos grandes teatros. "Thais" , "Wherther" e "Manon" são exemplos desse sucesso melódico. Pena não poder dizer o mesmo de "Don Quixote" baseada na obra "Le Chevalier à la Longe Figure" drama em versos de Jacques de Lorrain e não no clássico de Cervantes.
 
"Don Quixote" tem escrita orquestral fraca nos três primeiros atos, consegue força dramática nos dois últimos e o principal, a obra não empolga e carece de força emotiva. O libreto é fraco, um folhetim que desagrada a intelectuais, por conhecerem a obra prima de Cervantes e ao público comum pela simplicidade do enredo. O terceiro ato diviniza o personagem central, ele consegue com a força da reza fazer bandidos durões e implacáveis se comoverem e devolverem as joias roubadas. Nada mais fora da realidade, a cena mais estranha da história da ópera. "Don Quixote" só existe porque um dos maiores baixos de todos os tempos popularizou a ópera. Escrito na medida para o russo Feodor Chaliaplin, este com seu excepcional talento vocal e cênico popularizou o Cavalheiro de Triste Figura na ópera. 

O Theatro São Pedro se especializa em títulos raros de ópera e esse foi mais um deles. Para abrir sua temporada convocou um diretor que passeia pela ópera e por outros gêneros. Jorge Takla não poupou esforços para fazer desse "Don Quixote" uma "Carmen" de Bizet. As danças com sapateado, os figurinos dos coristas e a roupa da solista lembram o ambiente e clima da famosa cigana. Takla consegue criar um clima espanhol bem característico, diferente de diretores que gostam de inventar moda fica no básico. A movimentação dos solistas e coristas correta deu dinâmica a montagem.

Enriqueceu o enredo os belos cenários de Nicolas Boni, gravuras e os famosos moinhos aparecem e identificam de forma fácil a conexão com a história. Os figurinos de Fabio Namatame foram pelo mesmo caminho, corretos e  adequados ao enredo. O desenho de luz de Ney Bonfante  mostra cores e movimentações que dialogam com as cenas.

O que dizer do mezzo-soprano Luisa Francesconi, a moça sempre se apresenta em nível elevado e dessa vez não foi diferente. Sua voz tem o timbre correto, sedutora e cristalina que esbanja na técnica e com um refinamento único. Sua Dulcineia teve uma atuação cênica precisa. O baixo americano Gregory Reinhart fez um Don Quixote constante, do começo ao fim o personagem mostrou o mesmo tipo de atuação cênica e temperamento. Vocalmente esteve à altura do personagem, esbanjou nos graves em uma voz que se mostra extensa. A voz de Eduardo Amir oscilou e balançou em um timbre desagradável.

A Orquestra do Theatro São Pedro mostrou maturidade operística nas mãos do regente Luiz Fernando Malheiro, sonoridade e volume compatível com o tamanho da sala. Sua regência enriqueceu uma obra que peca pela falta de qualidade orquestral. 

Convidada para assistir a ópera no dia 04 de Março e prestigiar o amigo Jorge Takla  a apresentadora Marília Gabriela ficou conversando com um amigo diversas vezes no decorrer do espetáculo, levou um pito de um espectador próximo, fez cara de poucos amigos e sentiu-se inconformada. No teatro de ópera ou em qualquer tipo de teatro cara Marília manda o bom senso que as pessoas assistam o evento e não fiquem conversando. Os que compraram ingresso querem ouvir os cantores e não sua voz.


Ali Hassan Ayache

Sem comentários:

Enviar um comentário